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Hugo Gross, presidente do Sindicato dos Artistas, critica a estratégia da Globo de escalar influenciadores para os elencos de novelas

"O que faz o Ibope subir são atores que acreditam no que fazem", garante o ator.

por Redação, em 01/12/2024

Hugo Gross. Foto: Divulgação

A participação de influenciadores e ex-BBBs nas novelas da Globo voltou a gerar debates nos bastidores após um episódio envolvendo Rafa Kalimann no início de 2023. A ex-BBB foi escalada para um papel de destaque em Vai na Fé e chegou a gravar cenas antes que o Sated-RJ (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro) negasse a autorização especial necessária para sua atuação, já que na época ela ainda não possuía o registro profissional definitivo.

A polêmica com o Sated-RJ

O presidente do sindicato, Hugo Gross, explicou que a negativa ocorreu porque a Globo não solicitou previamente a autorização provisória, como é obrigatório para atores sem registro profissional. Segundo ele, o Sated-RJ já havia concedido permissões para Kalimann anteriormente, como na série Rensga Hits! (Globoplay), mas considerou desrespeitosa a forma como a emissora conduziu o processo no caso de Vai na Fé.

Gross também criticou a estratégia de inserir influenciadores nos elencos de novelas, destacando que muitos não possuem a preparação técnica necessária para o trabalho: “A TV Globo acha que colocar influencer nas novelas vai melhorar a audiência. O que faz o Ibope subir são atores que acreditam no que fazem, sabem qual é a tônica de um texto, se pronunciam diante da câmera, dão vida ao personagem.”

Casos controversos: Jade Picon e Kéfera Buchmann

A polêmica reflete um dilema recorrente na teledramaturgia brasileira. Influenciadores como Jade Picon, que interpretou a vilã Chiara em Travessia (2022), enfrentaram críticas severas por falta de experiência e dificuldades em cena. O público e a crítica apontaram sua atuação como "engessada" e "desconectada". Apesar do barulho nas redes sociais, a novela teve desempenho aquém do esperado no Ibope.

Em 2018, Kéfera Buchmann, que já tinha formação em teatro, viveu uma situação semelhante em Espelho da Vida. Apesar de seu esforço, não conseguiu grande destaque, e a novela registrou uma das menores audiências da faixa das 18h.

Gil do Vigor (Família é Tudo)

No caso do economista e ex-BBB, a Globo enfrentou resistência do sindicato, que negou a autorização especial. Gil chegou a sugerir que poderia contornar a regra se interpretasse a si mesmo na trama. Gross rebateu: "Mesmo que ele se interprete, ele estaria num set, seria dirigido e respeitaria um texto. Assim, a pessoa real se torna um personagem."

Critérios para autorização

Em entrevista ao Portal Terra, Gross destacou que o Sated-RJ avalia cada pedido considerando o quadro de profissionais já cadastrados: "Se há um ator com o mesmo perfil dentro do sindicato, negamos a autorização. Buscamos sempre um acordo de cavalheiros, mas priorizamos profissionais qualificados."

Formação e respeito ao ofício

A discussão levantada por Hugo Gross não é nova, mas ganha força em um cenário onde as emissoras tentam atrair públicos mais jovens, apostando no apelo de influenciadores. Para o sindicato, o respeito ao trabalho de atores profissionais com formação sólida deve ser prioridade, enquanto as emissoras argumentam que os influenciadores trazem visibilidade e engajamento para suas produções.

Este equilíbrio entre marketing e qualidade artística continua sendo um dos maiores desafios na busca pela renovação da teledramaturgia brasileira.


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