Para atender à classificação indicativa e ao público do horário vespertino, a Globo exibirá uma versão bastante editada da novela.
Um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira, a novela "Tieta" voltará às telas da TV Globo a partir do próximo dia 2 de dezembro, como parte das comemorações dos 60 anos da emissora. A trama será exibida no Vale a Pena Ver de Novo, de segunda a sexta-feira, logo após a Sessão da Tarde.
Na primeira chamada de estreia do folhetim, a TV Globo destacou o impacto e a grandiosidade da obra ao enfatizar: "Um dos maiores clássicos da história da Globo está de volta."
Confira o vídeo:
Para adequar a novela à classificação indicativa e ao horário vespertino, a Globo exibirá uma versão bastante editada da obra. Conhecida por abordar temas sensíveis e controversos, a reprise de "Tieta" terá cerca de 105 capítulos, muito menos que os 197 episódios originais de sua exibição entre 1989 e 1990.
Segundou apurou Paulo Vito, do TV Pop, a edição de 2024/2025 será ainda mais reduzida do que a primeira reprise em 1994, que contou com 145 capítulos.
"Como outras reprises, a novela pode apresentar adaptações (edições ou ajustes) em seu conteúdo para se adequar ao horário de exibição.", justificou a emissora.
A abertura original da novela, famosa por mostrar Isadora Ribeiro com os seios à mostra ao som da música "Tieta", de Luiz Caldas, também será alterada. A Globo estuda se fará modificações sutis ou uma reformulação completa na vinheta.
A primeira semana de "Tieta" será exibida simultaneamente aos episódios finais de "Alma Gêmea", entre os dias 2 e 6 de dezembro.
A partir do dia 9 de dezembro, "Tieta" assumirá integralmente o horário do Vale a Pena Ver de Novo.
Ambientada na fictícia Santana do Agreste, no Nordeste brasileiro, a trama começa quando Tieta, interpretada na primeira fase por Claudia Ohana, é escorraçada da cidade pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), indignado com o comportamento liberal da jovem e influenciado pelas intrigas de sua outra filha, Perpétua, vivida por Adriana Canabrava. Humilhada, ela segue para São Paulo e 25 anos depois, Tieta, agora interpretada por Betty Faria, reaparece em Santana do Agreste rica, exuberante e decidida a se vingar das pessoas que a maltrataram. No dia de sua chegada, ela diz que veio para ficar e acaba mudando a rotina de todos os moradores da pequena cidade.
Para incomodar a família, ela se envolve com o sobrinho, o jovem seminarista Ricardo (Cássio Gabus Mendes), filho de sua traiçoeira irmã Perpétua, agora vivida por Joana Fomm, cuja brilhante atuação fez da beata, que vivia em um eterno luto, uma das grandes vilãs da teledramaturgia. Os habitantes ainda se veem às voltas com a instalação de uma fábrica de dióxido de titânio na cidade, que, se por um lado trará desenvolvimento, por outro causará um forte impacto ambiental na região. Santana do Agreste, próxima de Aracaju e Salvador, estava parada no tempo até que Ascânio Trindade (Reginaldo Faria), que foi embora de lá quando jovem, volta com o objetivo de trazer o progresso e a civilização ao local. Ele se torna secretário da Prefeitura e, junto com Tieta, promove a modernização da cidade.
Comemorando a volta da obra que foi um grande marco em sua carreira, Betty Faria ressalta a personalidade visionária de Tieta como a característica que mais admirava. "Tenho orgulho do que ela representava. Tieta era muito moderna, hoje ainda é revolucionária. Era uma pessoa do bem, cheia de amor, que chega na cidade para ajudar a melhorar a situação, sempre trazendo ideias novas e derrubando preconceitos", define a atriz, que se emocionou quando soube que a novela seria reexibida no ''Vale a Pena Ver de Novo'. "Fiquei feliz demais porque é um trabalho que entrou no coração do público e ficou. Foi um grande sucesso da minha maturidade como atriz, que me trouxe muita felicidade, e uma novela exibida em muitos países, sempre muito bem-recebida", relembra.
Betty encabeçava um elenco de peso, com interpretações memoráveis de personagens carismáticos e cheios de humor. Quem não se recorda de Tonha (Yoná Magalhães), Carmosina (Arlete Salles), Imaculada (Luciana Braga), Timóteo (Paulo Betti), Osnar (José Mayer), Coronel Artur da Tapitanga (Ary Fontoura), Modesto Pires (Armando Bógus), Dona Milu (Mirian Pires), Amorzinho (Lilia Cabral), Cinira (Rosane Gofman) e Bafo de Bode (Bemvindo Sequeira), entre outros? Foram muitos os bordões lançados em 'Tieta'. A começar pela protagonista e seu "Eta, lelê!". Dona Milú pontuava as frases com "Mistééério!". Tonha (Yoná Magalhães) se despedia com um divertido "Te-chau!". A expressão "Nos trinques!", usada por Timóteo (Paulo Betti) para demonstrar que algo estava do seu agrado, ganhou o Brasil. E Amorzinho (Lilia Cabral) gritava: "Ciniiiiiiira!" sempre que queria repreender a amiga interpretada por Rosane Gofman.
Betty Faria contou que os direitos da obra de Jorge Amado foram comprados com o intuito de ser realizada uma produção independente. A ideia inicial era fazer uma minissérie, dirigida por Roberto Talma, para ser exibida na TV Globo. Segundo a atriz, foi ela quem negociou a compra dos direitos diretamente com Jorge Amado. Como ainda estava no elenco da novela O Salvador da Pátria (1989),
que antecedeu Tieta, sua entrada na trama só aconteceu por volta do capítulo 20.
A repercussão da novela foi tão grande que Betty Faria chegou a lançar a linha de roupas Tieta by Betty Faria.
Betty Faria recorreu aos ensinamentos da fonoaudióloga Glorinha Beutenmüller para compor Tieta. Para dar conta dos atributos físicos da personagem de Jorge Amado, a atriz contou com a ajuda de um personal trainer, exercitando a musculação para ganhar um corpo mais desenhado.
Reynaldo Boury, diretor da novela, contou que 'Tieta' começou a ser produzida a 40 dias de sua estreia. Isto porque a novela prevista para entrar no horário das 20h seria Barriga de Aluguel, de Gloria Perez, que já estava em produção e prestes a ser gravada. Mas José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni – então vice-presidente de operações da TV Globo –, reprogramou Barriga de Aluguel para as 18 horas, e ordenou a produção de Tieta.
Tieta marcou a estreia de Ricardo Linhares como coautor de novelas – até então, ele trabalhava como colaborador.
Aguinaldo Silva ressaltou que, em 'Tieta', pretendeu fazer uma metáfora sobre a volta da liberdade de expressão na novela brasileira. No capítulo em que Tieta (Claudia Ohana) é expulsa de casa pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), ele arranca aquele dia do calendário e diz: “Faz de conta que esse dia nunca aconteceu”. O dia marcado na folhinha é 13 de dezembro de 1968, data em que foi promulgado o AI-5.
O autor Aguinaldo Silva comemorou o fato de ter conseguido abordar na novela o tema da pedofilia – por meio da trama envolvendo o coronel Artur da Tapitanga (Ary Fontoura) e suas “rolinhas” – sem que os telespectadores ficassem chocados.
Ary Fontoura homenageou o ator Rafael de Carvalho com sua interpretação do coronel Artur da Tapitanga. Ele tentou imitar o modo de falar do colega que, entre outros trabalhos, viveu o coronel Coriolano na novela Gabriela (1975).
José Mayer encontrou em Mangue Seco (Bahia), locação da novela, um acessório que viria a ser uma das marcas visuais de seu personagem, o bem-dotado Osnar: um chapéu usado, pertencente a um morador, que o ator ganhou em troca do modelo que usaria em cena. A ideia foi do próprio Mayer, que vislumbrou no chapéu um elemento que daria mais vivência ao personagem. Além disso, para compor Osnar, o ator se inspirou no diretor Paulo Ubiratan, imitando um de seus gestos corriqueiros: o de sungar as calças.
Joana Fomm optou por uma linguagem circense na interpretação da moralista viúva Perpétua. O que, a princípio, pareceu uma temeridade – alguns achavam que ela deveria mudar o tom –, revelou-se um achado. A personagem foi um dos grandes sucessos da novela. Segundo a atriz, as situações propostas pela trama e a harmonia entre os atores resultavam em muitas gargalhadas nas gravações.
Em duas sequências, Cássio Gabus Mendes, que interpretava o seminarista Ricardo na trama, gravou inteiramente nu. A primeira, realizada no município de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, quando o personagem está de volta a sua cidade natal e mergulha em um açude; a outra, em uma gravação noturna na cidade cenográfica, quando Ricardo, nu, tenta chegar em casa após ter tido as roupas roubadas por uns meninos no açude.
Segundo Aguinaldo Silva, muitas tramas que não existiam no original de Jorge Amado foram criadas na novela, para dar conta de uma produção de quase 200 capítulos. O autor afirmou que o romance, como foi escrito, renderia apenas uma minissérie de, no máximo, 30 capítulos.