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Bruno Gagliasso fala sobre o vilão Lúcio da minissérie "Marighella"

O ator detalha o perfil do personagem que interpretou na minissérie.

por Micael Constantino, em 17/01/2023

Bruno Gagliasso fala sobre o vilão Lúcio da minissérie "Marighella"

Em entrevista para a coluna Patricia Kogut, do O Globo, Bruno Gagliasso recorre às cenas de vandalismo em Brasília, ocorridas na semana passada, ao analisar o perfil de seu personagem em "Marighella", o policial torturador Lúcio, que alude a Sérgio Fleury, delegado do Dops durante a ditadura militar. O filme, com Seu Jorge no papel do protagonista, está sendo exibido na Globo em formato de minissérie de quatro episódios, com cenas inéditas, que estreou nesta segunda (16):

— Lúcio é a escória da Humanidade. Tenho certeza de que, se estivesse vivo, faria parte do ex-governo ou estaria invadindo lá em Brasília. É um racista e fascista. Sem sombra de dúvida, o personagem mais forte, visceral e doloroso que já fiz.

Após o episódio de terrorismo, logo surgiram nas redes bolsonaristas comparações entre as ações dos golpistas e as do guerrilheiro Carlos Marighella. Considerado "inimigo número 1" do regime militar, ele foi um dos principais líderes da luta armada contra a repressão. Acabou morto a tiros em 1969, por agentes comandados por Fleury. O ator comenta:

— É tão absurdo. Marighella viveu em outra época, era ditadura. É incomparável. São dois momentos históricos distintos, mas que por muito pouco poderiam ser próximos. A minissérie indo ao ar agora vai ser importante para essas pessoas terem um pouco de ideia do que elas estavam pedindo e do que até hoje reivindicam (referindo-se à intervenção militar). Ela vem numa hora muito boa. É um retrato da nossa História que durante muitos anos quiseram apagar. Mas a arte está aí para isso, ela sobrevive. É um filme histórico, político e necessário, principalmente depois do que vimos nos últimos dias. É importante que todos assistam. Mas ele só dialoga com todo mundo que quer dialogar. A partir do momento que você é cego ou não quer escutar, não adianta assistir.

Gagliasso frequentemente reafirma suas opiniões políticas na internet. Recebe apoio e ataques. Ele diz não se importar diante de repercussões negativas:

— Se isso me atingisse, eu não teria um posicionamento tão claro. Sempre tive, mesmo antes de esse antigo governo assumir. Eu me preocupo com coisa séria. Com gente invadindo (Brasília), com pessoas que defendem torturadores e que falam que vão invadir o set para dar tiro, como teve durante a filmagem.

E se engana quem pensa que o número de postagens vai diminuir com a mudança de presidente:

— Pelo contrário. Agora que não somos mais oposição, temos que ajudar, cobrar, estudar cada vez mais e fazer com que as pessoas que não entendem tanto passem a estudar. Não existe isso de "agora vou falar menos por não ser oposição". Eu tenho que ajudar, fazer arte. Porque fazer arte é fazer política. As pessoas acham que fazer política é ser político e trabalhar no governo, mas não. Você pegar um plástico do chão na rua é fazer política. Assistir a um filme como "Marighella" é política.


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