Após passagens por 'Malhação', 'Novo Mundo' e 'Órfãos da Terra', artista será Jamil na próxima novela das seis.
Musipere perdeu o pai militar durante a Guerra do Congo no final da década de 90. Diante de uma realidade desconhecida para muitos de nós, sem perspectivas, ele jamais sonhou em atuar. Na verdade, queria seguir carreira no basquete, como jogador profissional. Após chegar ao Brasil em 2008, em busca de uma bolsa de estudos, investiu num curso de atuação para aprender a falar português mais rápido.
Só que os rumos do ator congolês mudaram de uma hora pra outra após passar no teste para a temporada de 2013 de Malhação. Sua estreia na TV foi na pele de Frédéric, um imigrante haitiano que foi acolhido pelos personagens de Isabela Garcia e Tuca Andrada.
"O que me facilitou é que o personagem tinha sotaque francês (...) Mas nunca sonhei em ser ator. Chegar aonde eu cheguei e atuar em novelas foi coisa do universo mesmo", recorda Musipere, que tem 35 anos.
De lá pra cá os convites para atuar não pararam de chegar. Musipere participou de Novo Mundo, contracenando com Vivianne Pasmanter e Guilherme Piva, como Germana e Licurgo.
Já em 2019 foi a vez do ator participar de Órfãos da Terra como Jean Baptiste, um haitiano refugiado.
"Foi um personagem muito bacana, mas desafiador, pois não sou haitiano e tive que cantar músicas em haitiano, que não é minha língua nativa. Assim como cantei canções de Caetano, Gilberto Gil. (...) Acho que basta acreditar que você vai conseguir chegar aonde quiser. Temos que fazer acontecer", lembra.
"Jamil é o braço direito do Guebo, personagem de Maicon Rodrigues. (...) Tô muito feliz em trabalhar com ele, nos conhecemos de longa data. Espero que o público receba o personagem de coração aberto".
Só que nem tudo são flores na caminhada de Musipere. O ator desabafou pela primeira vez sobre dramas particulares e a capacidade de transformar experiências de racismo em prol da luta contra o preconceito.
"Numa das minhas voltas para o Rio de Janeiro aluguei um anexo numa casa da Barra. (...) Tenho mania de escutar vários tipos de música, até porque sou artista, mas ouvia muitas canções africanas. (...) Por várias vezes, uma menina que morava na casa maior vinha bater na minha porta incomodada. (...) Ela chegou a quebrar a minha porta, dizendo que ninguém era obrigado a escutar aquele tipo de música. Foi ali que fui pra delegacia", ressalta Musipere.
Nos Tempos do Imperador é criada e escrita por Alessandro Marson e Thereza Falcão, com Julio Fischer, Duba Elia, Wendell Bendelack e Lalo Homrich e tem direção artística de Vinícius Coimbra, direção geral de João Paulo Jabur e direção de Guto Arruda Botelho, Alexandre Macedo, Pablo Müller, Joana Antonaccio e Caio Campos.