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Ana Thaís Matos diz que chorou com convite para a Copa do Catar

Jornalista comenta os jogos da seleção no Mundial.

por Micael Constantino, em 01/12/2022

Ana Thaís Matos diz que chorou com convite para a Copa do Catar

Ana Thaís Matos se tornou a primeira mulher a comentar um jogo de Copa do Mundo na TV aberta brasileira. Ao lado de Galvão Bueno, ela analisa com segurança os lances das partidas do Brasil, mas longe das câmeras nem sempre é tão confiante. Em entrevista a coluna da jornalista Patricia Kogut, do O Globo, a jornalista revela que sofre com a chamada "síndrome da impostora" e diz que ainda não conseguiu entender a dimensão do seu feito:

— Eu fico tão preocupada em ter conteúdo e em ler bem os jogos que esqueço que existe uma história antes de tudo isso. Ser a primeira é especial, mas eu gostaria que fosse algo comum e que já tivesse existido uma primeira lá em 1930, na primeira Copa do Mundo.

Repórter por anos, ela afirma que não se imaginava como comentarista e conta qual foi sua reação ao receber o convite para integrar a equipe do Catar:

— Quando a direção me chamou para me comunicar que eu iria à Copa e comentaria os jogos da seleção brasileira, eu comecei a tremer e chorar. Foi inesperado.

Ana Thaís começou comentando a Copa do Mundo feminina em 2019 e desde então foi conquistando espaço nas transmissões da Globo. Ela conta o que faz quando surge a insegurança:

— Nós somos educadas para sermos inseguras. Uma mulher confiante é rapidamente tirada de arrogante. Quando a insegurança bate, eu olho para o lado e penso no que eu era e no que eu me tornei. Procuro focar no que sou boa. Encontro conforto nas minhas potências, que são os estudos, por exemplo. Eu estou sempre respirando fundo e seguindo em frente.

Por ter um lugar de muito destaque no cenário do jornalismo esportivo hoje, ela também sofre com a exposição. Ana explica como lida com as críticas da internet:

— Já sofri muito, sem exagero algum. Já liguei para amigos de madrugada perguntando o que eu fiz para ser odiada por quem não me conhece. De 2020 para cá, comecei a entender que as pessoas na internet precisam mais de mim, no sentido de me jogar hate, do que o contrário. Comecei a me distanciar e a entender que era aquilo. Fiz e faço muita terapia. A terapia salvou minha vida. Não fosse isso, eu não teria superado a carga dos últimos anos.

Apesar de ter aprendido a lidar melhor com o ódio das redes, ela diz que ainda tentar preservar sua família dessa exposição:

— Eu evito postar coisas com a minha família porque as pessoas já foram me ofender para irmãs, mãe e namorado. A pessoa pública sou eu, eles não são obrigados a aguentar maluco de internet me xingando. Meu namorado não se importa, mas a minha mãe é uma senhora de mais de 70 anos. Ela fica preocupada com a violência.

Ana Thaís diz estar feliz com o aumento do número de mulheres na cobertura esportiva nos últimos anos, mas acredita que ainda há muito a ser feito. Uma presença feminina na cobertura da Copa do Catar tem dado o que falar: Deborah Secco. As roupas usadas por ela no "Tá na Copa", do SporTV, têm motivado inúmeros comentários, positivos e negativos.

— A Deborah é uma atriz e está a favor do entretenimento num programa esportivo. Eu adorei todos os looks, inclusive, poderíamos adotar para nós, jornalistas, alguns deles (risos). Acontece que a sociedade nos quer invisíveis em tudo, da nossa roupa à nossa opinião. O parâmetro são os homens. Eu li uma moça que escreveu: “A Ana Thaís sempre usou o uniforme masculino”. Mas será que esse deveria ser o parâmetro? A questão de sexualizar a cobertura não passa pela roupa que ninguém usa, mas pelos julgamentos que nós sofremos e pela carga que nos colocam. São os julgamentos que oprimem nossa liberdade. Viva Deborah!

Vinda da periferia de São Paulo, Ana Thaís teve uma infância pobre e conseguiu mudar sua realidade através dos estudos e do trabalho. Apesar de ainda ter grandes objetivos profissionais, seus sonhos pessoais são bem simples:

— Há cinco anos eu usava o cheque especial, escolhia as contas que ia pagar e os lugares aonde eu poderia ir para comer e beber. Vendia meu vale-refeição para inteirar o dinheiro que eu sempre mandei para minha mãe. Embora a grande diferença salarial entre homens e mulheres seja o próximo passo no ambiente profissional, eu hoje tenho uma vida organizada, posso proporcionar uma velhice digna para minha mãe. Meu maior sonho pessoal é o de toda pessoa simples: comprar uma casa para mim e dar um futuro para os meus pais.


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