Autor recebe críticas; vê a audiência subir; e decide manter o assunto.
Uma cena que foi ao ar em Malhação está dando o que falar. O adolescente soropositivo, Henrique (Thales Cavalcanti) dá um encontrão na colega Luciana (Marina Moschen) durante uma partida de basquete na escola. Os dois se ferem, com sangramentos na pele. A menina é orientada pelos enfermeiros a tomar o coquetel antirretroviral.
A sociedade Viva Cazuza, presidida por Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, publicou um texto de repúdio à novela no Facebook da instituição. Segundo ela, a novela da Globo exibiu “informações erradas”.
A seguir, na íntegra, o desabafo:
Como se não bastassem todos os problemas que nós brasileiros estamos sofrendo, ainda temos que ver em pleno ano 2015 o programa MALHAÇÃO da TV Globo prestar um desserviço à saúde pública. Há 10 anos vemos os novos casos de Aids aumentando entre jovens, segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, por transmissão sexual.
Depois de 30 anos de trabalho para combater o preconceito e informar corretamente as formas de transmissão do HIV, vemos um programa destinado ao público jovem aconselhar soropositivos a não praticar esportes, a mostrar um médico receitar medicamento antirretroviral numa situação onde dois jovens dão uma cabeçada é no mínimo de chorar. Que se queira ganhar dinheiro com sensacionalismo já é duro, mas dar informações erradas é um pouco demais.
Deixo aqui minha indignação, meu repúdio e a vergonha que senti ao saber que o trabalho que a Viva Cazuza, as ONG’s/Aids e todas as campanhas governamentais de prevenção ao longo de 30 anos vão por terra de uma maneira tão irresponsável. O mínimo que espero seria um novo episódio com a devida correção.
Lucinha Araújo
Presidente da Sociedade Viva Cazuza
Sabendo que o tema é polêmico, Emanuel Jacobina não se assusta com as críticas:
"Pensei muito nas consequências que o tema poderia causar, sim, quando escrevi a história. Inclusive, há 15 anos, fui eu quem tratei do assunto AIDS em Malhação com a personagem Érica (Samara Felippo)... Lógico que vou levar em conta a crítica. O fato é que não existe consenso entre os médicos para os casos em que há necessidade do coquetel. É uma discussão em andamento no meio", justifica.
Segundo ele, a crítica que a Sociedade Viva Cazuza fez contribui para o debate na novela: "Uma pessoa soropositiva oferece risco quase nulo de infecção a quem pratique esporte com ela. Porém, se não falarmos sobre esse risco mínimo, o preconceito vai continuar".
Para discutir a real necessidade do coquetel, uma nova cena foi incluída e será exibida nos próximos capítulos.
A repercussão tem rendido números à Malhação: Seu Lugar no Mundo. No capítulo de desta segunda (4), alcançou uma das melhores médias da temporada: 18 pontos.