Núcleo central da trama de Rosane Svartman terá uma família inteira formada por pessoas negras, com Sheron Menezzes como protagonista
Ela acorda cedo, cozinha, cuida das filhas, trabalha e não deixa de correr atrás dos seus sonhos. Sempre com um sorriso no rosto e muita disposição, apesar das dificuldades do dia a dia. Ela é Sol. É também Sheron Menezzes e uma grande parcela das mulheres brasileiras. Mulheres pretas, guerreiras, que vão se ver representadas todos os dias na TV na nova novela das 7. Escrita por Rosane Svartman, “Vai na Fé”, terá como núcleo central uma família inteira formada e gerida por mulheres negras, seus dramas, conflitos e peculiaridades.
“É muito gostoso ver a Sol como uma mulher que tem seus problemas, mas levanta com sorriso no rosto, trabalha, cozinha, pega ônibus, faz show, faz tudo como muitas mulheres fazem no seu dia a dia. É muito importante as pessoas se identificarem de maneira positiva quando ligarem a televisão, e falarem: ‘Caraca, ela é igual a mim’. E quando eu falo tantas de nós, estou falando de mulheres pretas, de famílias pretas”, destaca a protagonista Sheron Menezzes.
Orgulhosa por ser a mãe de Sheron na trama, Elisa Lucinda (“Eu devo ser muito bonita pra ser mãe da Sheron”, brinca ela) também destacou a beleza de se ter em uma novela uma família gerida por mulheres negras e disse esperar que o público se identifique com suas histórias.
“Acho muito bonito ver essa casa tocada pelo feminino. Essa gestão feminina que tanto acontece nas casas. Tem um desenho de gerações, onde a Jenifer, que é a primeira universitária da família representa muito. Tenho uma intuição de que pode dialogar muito com a família brasileira.”
Bella Campos, que interpreta Jenifer, a primeira pessoa da família a frequentar uma universidade, se diz orgulhosa por poder contar essa história. A atriz sonha que no futuro cursar o ensino superior seja uma realidade comum a todas as mulheres negras e homens negros.
“Fico muito orgulhosa de estar contando isso. Espero que um dia a gente não precise mais partir desse ponto. Que um dia a gente possa ver em uma família preta, do subúrbio, todo mundo com diploma fazendo o que bem entender. Mas é uma realidade de muitas famílias brasileiras. Então acho que é um incentivo, um ponto de esperança, para mostrar que é possível, mesmo com as dificuldades.”
Vivendo a matriarca Marlene em “Vai na Fé”, Elisa Lucinda revela ainda que chegou a se emocionar em muitos momentos por ver tanta gente preta, não apenas em cena, mas também trabalhando para fazer a novela acontecer. Ela destacou o quanto isso era improvável há apenas alguns anos atrás.
“Tem um mundo contemporâneo acordando para as leituras das mazelas que nos definem, e a gente não via nesse mercado. Estou adorando o que estou vivendo. Houve momentos da preparação que eu chorei muito por ver esse tanto de gente preta. Há anos, muitos de nós estariam em novela de época fazendo escravo. Vejo um avanço imenso até do ponto de vista capitalista. A gente consome e quer se ver representada”, observa.
Outra personagem que é da família, sem realmente ser, é Bruna, a melhor amiga de Sol. Elas cresceram juntas, engravidaram na adolescência e hoje lutam vendendo quentinhas. Atriz que dá vida à Bruna, Carla Cristina Cardoso lembra que há muitas Brunas espalhadas pelo país. Mães que criam seus filhos sozinhas e que vão se ver representadas.
“Eu tenho Brunas na família, minha mãe foi uma Bruna. As mulheres vão se identificar, e acho que é uma forma de as mulheres terem mais esperança. A Bruna é resistência, é uma típica mulher suburbana, que achou na amiga, e na família da Sol uma fortaleza.”
Quem também está feliz por ver tudo isso acontecer é Samuel de Assis. Protagonista de “Vai na Fé” ao lado de Sheron Menezzes, o ator que faz o personagem Ben lembrou que não se identificava na TV quando mais novo e destacou a importância em poder “se enxergar”.
“Acho importante essa representatividade acontecer com a Sheron, uma mulher preta, de uma família preta, que é uma coisa que acontece pouco. Eu não me via na TV quando era adolescente. Eu não conseguia me enxergar, e acho importante a gente se enxergar.”