A novela trata sobretudo de busca por identidade, superação e empoderamento, especialmente através da personagem Beatriz (Duda Santos).
Se o que vivemos nos molda, o que acontece quando precisamos redefinir a história da nossa própria biografia? Em 'Garota do Momento', nova novela da seis, escrita por Alessandra Poggi com direção artística de Natalia Grimberg, Beatriz (Duda Santos) acredita desde os quatro anos ter sido abandonada pela mãe, Clarice (Carol Castro). Só que ela não sabe que, na verdade, Clarice perdeu a memória em um grave acidente. Dezesseis anos depois, quando finalmente descobre o paradeiro da mãe, Beatriz se depara com uma outra Bia (Maisa) em seu lugar e precisa lidar com essa nova realidade, dando início a uma jornada – cheia de obstáculos – de reconciliação com o passado. Nessa busca por identidade, surge o entendimento de sua potência, ao desafiar os padrões impostos na década de 1950, quando se torna garota-propaganda de uma das maiores empresas de sabonetes do país.
O papo de fundo da história é o ano de 1958, quando o rock americano fazia a cabeça dos jovens, a bossa nova chegava e se misturava às canções da Época de Ouro do rádio e a indústria crescia como nunca. “Escolhi ambientar essa novela de época nos anos 1950, especificamente em 1958, por ser considerado por muitos um dos anos mais felizes do Brasil, com a Bossa Nova e o Cinema Novo surgindo, nosso país ganhando a Copa do Mundo pela primeira vez e a construção de Brasília. Tudo parecia mais bonito e feliz”, conta a autora Alessandra Poggi.
“‘Garota do Momento’ é uma fábula de esperança, ambientada em um período de grande otimismo no Brasil, sobre o qual vamos propor também algumas reflexões”, afirma a diretora artística Natalia Grimberg. “Tudo o que conhecemos sobre os anos 1950 são registros apenas de uma parte da história do Brasil. Vamos tentar mostrar um pouco mais que isso, dando imagem e movimento, dentro da dramaturgia, para outras histórias”, comenta o diretor-geral Jeferson De.
‘Garota do Momento’ é uma novela de Alessandra Poggi, escrita com Adriana Chevalier, Aline Garbati, Mariani Ferreira, Pedro Alvarenga e Rita Lemgruber. Tem direção de Matheus Malafaia, Mayara Aguiar e Tande Bressane, direção geral de Jeferson De e direção artística de Natalia Grimberg. A produção é de Juliana Castro e a direção de gênero de José Luiz Villamarim.
Clarice e Beatriz: mãe e filha separadas
Tudo começa quando Clarice (Carol Castro) – viúva com grande talento para a pintura, mas que ganha a vida como lavadeira – deixa a pequena Beatriz aos cuidados da sogra, Carmem (Solange Couto) e viaja de Petrópolis para cidade do Rio de Janeiro, na tentativa de participar de uma exposição em uma galeria de arte. Na capital, Clarice conhece o empresário Juliano Alencar (Fabio Assunção), herdeiro da Perfumaria Carioca. Ele se apaixona por ela à primeira vista e lhe propõe casamento. Essa união quase não acontece: Clarice flagra uma briga entre Juliano e a amante dele, Valéria (Julia Stockler), que acaba morrendo acidentalmente na confusão. Quando vai denunciá-lo, Clarice sofre um grave acidente e perde parte da memória. Como se lembra apenas de que tinha uma filha chamada Beatriz, seu noivo e a mãe dele, a inescrupulosa Maristela (Lilia Cabral), aproveitam-se da situação e entregam a Clarice outra menina para criar, afirmando ser a filha dela, e por isso, batizada com o mesmo nome. Trata-se de Bia (Maisa), filha que Juliano teve com Valéria.
Para garantir que o plano dê certo, Maristela e Juliano criam um falso passado para Clarice, que inclui até uma família fictícia. Até então funcionária dos Alencar na Perfumaria Carioca, Zélia (Leticia Colin) fecha um acordo com Maristela e passa a figurar como irmã de Clarice. Dezesseis anos depois, a mãe de Beatriz vive em uma teia de mentiras e, ao lado de Zélia, comanda a Magnifique Escola para Moças, trabalho que faz com muita dedicação, preparando e educando meninas para a alta sociedade. Apesar da vida aparentemente feliz, Clarice sente uma angústia profunda por causa das lacunas em suas lembranças. No fundo, ela sabe que algo lhe falta.
“A Clarice vai para o Rio de Janeiro em busca de um sonho, que, no início, dá certo. É genuíno o sentimento dela pelo Juliano. Foi a primeira vez que ela se abriu para o amor novamente depois que ficou viúva. Mas tudo anda muito rápido e ela quer voltar a Petrópolis para buscar a filha. Só que acontece o acidente, e a história dela muda de direção”, explica a atriz Carol Castro.
Ao se deparar com uma foto da mãe em uma revista, Beatriz, que mora com a avó em Petrópolis, decide embarcar para o Rio de Janeiro. A prova de que Clarice está viva a impulsiona a tentar reencontrar essa figura que acredita ter causado tanta tristeza em sua vida. Quando Beatriz chega ao Rio, está determinada a confrontar o passado e elucidar suas angústias. O problema é que, no reencontro, Clarice não se lembra dela, e Bia ocupa seu lugar de filha.
“Eu acho que é o pior momento da vida da Beatriz. Pior até do que quando a mãe dela foi embora, porque ela cresceu mantendo viva a expectativa, a esperança de reencontrá-la, e guardou por 16 anos todo o amor que sentia por aquela mulher. Quando elas se encontram, a Clarice olha para a Beatriz e simplesmente não se lembra dela”, analisa Duda Santos.
Beatriz, Beto e Bia: o triângulo amoroso
Assim que chega ao Rio de Janeiro, o caminho de Beatriz se cruza com o de Beto (Pedro Novaes), jornalista e fotógrafo com ideias progressistas. Eles se conhecem de maneira inusitada durante um bloco de Carnaval. Uma conexão forte nasce entre os dois, e Beto fica encantado pela personalidade corajosa da jovem. “É uma loucura, mas, mesmo no meio daquela confusão, a Beatriz sabe que alguma coisa mágica aconteceu ali”, opina Duda.
O problema é que Beto é o noivo de Bia, a menina criada como se fosse filha de Clarice. Bia é mimada, autocentrada e sofre de uma doença cardíaca. Ao perceber o interesse do namorado por Beatriz, Bia começa a usar seu estado de saúde para manipulá-lo, fazendo com que ele se sinta culpado por pensar em terminar o relacionamento. “A Bia se acha muito perfeita. Para ela, todo mundo tem problemas, tem defeitos, menos ela”, comenta Maisa.
Enquanto Beatriz tenta entender sua relação com sua mãe, ela e Beto se aproximam cada vez mais. O jornalista tem carinho por Bia, com quem está namorando, mas sente que a relação é sustentada apenas pela culpa e pelo medo de prejudicar a saúde da jovem. Mesmo assim, Beto decide então terminar o relacionamento com Bia para ficar com Beatriz, que também já não consegue mais esconder o que sente pelo rapaz. “O Beto e a Bia cresceram juntos, as famílias são amigas, e acho que por um bom tempo ele também acreditou que deveria ficar com ela. Só que as experiências que o Beto teve na vida fizeram com que ele percebesse que deveria ir atrás dos próprios sonhos. Quando ele conhece a Beatriz, se encanta e sabe que tem algo diferente em relação àquela garota”, afirma Pedro Novaes.
Em meio a tudo isso, uma reviravolta faz com que Beatriz seja escolhida como a garota-propaganda da Perfumaria Carioca, justamente a empresa da família Alencar. Ela vai revolucionar a publicidade da época, desafiando os padrões raciais e de beleza daquele momento ao ocupar um espaço até então reservado apenas a mulheres brancas. Assim, com sua elegância e carisma, Beatriz começa a adentrar um mundo do qual ela nunca imaginou fazer parte.
A disputa de poder Perfumaria Carioca
Fábrica de sabonetes da Família Alencar, a Perfumaria Carioca é parte importante da trama de ‘Garota do Momento’ como cenário de momentos decisivos para os personagens, sendo palco de traições e de conflitos por poder, amor e ambição. É ali onde Zélia e Maristela se aliam; Juliano mata Valéria por acidente; e Beatriz revê Clarice pela primeira vez depois de 16 anos.
Juliano é quem administra o negócio, mas sob a supervisão atenta de Maristela, que não cansa de lembrar ao filho que, caso cometa qualquer deslize, ele estará fora da empresa da família. “O Juliano nem sempre toma as melhores decisões porque tem uma presença muito marcante, que é a mãe. Ela exerce um poder muito grande sobre ele”, conta Fabio Assunção. “A Maristela olha para o filho e não acha que ele tenha tanta capacidade quanto ela. Para ela, os sentimentos se resumem a conquistar aquilo que ela quer, e que sempre acha que vai conseguir”, analisa Lilia Cabral.
Clube Gente Fina: palco de encontros e de cultura
No centro da agitada vida cultural do Rio de Janeiro no final da década de 1950, o Clube Gente Fina se destaca como um espaço de resistência, cultura e diversão. Administrado por Vera Machado (Tatiana Tiburcio) e Sebastião (Cridemar Aquino), o clube é ponto de encontro de jovens e artistas. É onde o samba encontra o choro, o blues flerta com o rock, e as rodas de debate e oficinas culturais refletem o espírito de mudança de uma geração que deseja quebrar barreiras sociais.
Vera e Sebastião Machado são o coração do Clube Gente Fina. De dia, eles também trabalham para Raimundo Sobral (Danton Mello). Ela é governanta da casa e cuida dos filhos dele – Beto (Pedro Novaes), Ronaldo (João Vitor Silva) e Celeste (Debora Ozório). Já Sebastião, o marido de Vera, além das funções que tem no clube, é motorista da família Sobral.
"O gol para mim está na humanização desses personagens e em colocá-los dentro de um contexto de participação dessa história de Brasil e de sociedade. Quando você fala de rock'n'roll, você está falando dessas pessoas. Quando você fala de samba, quando você fala de cultura, quando você fala de sociedade, você está falando dessas pessoas que formam o Clube Gente Fina", comenta Tatiana Tiburcio. "Temos a possibilidade de mostrar essas relações afetivas sendo construídas naturalmente, dentre desses espaços de cultura, como o Clube Gente Fina, que eram tão fortes e tão presentes na sociedade naquele momento, mas que, infelizmente, não eram visibilizados", complementa Cridemar Aquino.
Boliche Bowling Rock: o point da juventude
Melhor amigo de Beto e filho de Vera e Sebastião, Ulisses (Ícaro Silva) dedica parte de seu tempo ao Clube Gente Fina, dando aulas de capoeira e organizando eventos e aulas para a comunidade. Mas, quando não está no clube, ele certamente pode ser encontrado no Boliche Bowling Rock, local do qual é dono. "Acho que o Ulisses é um personagem que está sempre buscando o melhor para a sua comunidade. Ele tem uma ancestralidade que vem na figura da Vera e do Sebastião, que dão um exemplo para ele com muita firmeza. É também um personagem que está em muitos núcleos e que tem uma troca muito interessante com vários personagens de várias idades e de vários caráteres. O Ulisses é amigo da Bia (Maisa), por exemplo, e também é amigo da Beatriz (Duda Santos)", analisa Ícaro Silva.
Com suas pistas de boliche, jukeboxes tocando sucessos do rock'n'roll e do samba, e um ambiente descontraído e vibrante, o Bowling Rock é um refúgio para a juventude, onde amizades, romances e rivalidades se desenrolam. Ali batem ponto quase que diariamente o trio de amigas Bia, Eugênia (Klara Castanho) e Celeste (Debora Ozório), o estudioso Guto (Pedro Goifman), a espevitada Ana Maria (Rebeca Carvalho), além dos rebeldes sem causa Topete (Gabriel Milane) e Carlito (Caio Cabral). É no boliche também que o romântico Edu (Caio Manhente), irmão de Guto, trabalha. Entre amores, descobertas e conflitos internos, esses personagens são a representação de uma geração dividida entre o tradicionalismo da época e a modernidade.
Hi-Fi: a revolução na publicidade
Conceituada agência de publicidade comandada por Raimundo (Danton Mello), a Hi-Fi Propaganda é o centro de criações e campanhas que moldam o imaginário e o comportamento da sociedade carioca dos anos 1950. É também cenário de acontecimentos importantes da trama, principalmente a partir do momento em que Beatriz começa a trabalhar como garota-propaganda da Perfumaria Carioca. É na Hi-Fi que as campanhas da loja de sabonete são pensadas e produzidas.
Raimundo se dedica inteiramente ao trabalho e aos filhos, Beto (Pedro Novaes), Ronaldo (João Vitor Silva) e Celeste (Debora Ozório). Ele nunca se recuperou do abandono de sua esposa, Lígia (Palomma Duarte), que saiu de casa para seguir a carreira de cantora. Mesmo com as constantes tentativas de Lígia em se manter perto da família, Raimundo sempre faz questão de afastá-la, o que acabou afetando – e muito – os três filhos emocionalmente.
Ao lado de Raimundo, na agência, está Ronaldo. Apesar de fazer de tudo para ganhar a aprovação do pai, ele tem inveja de Beto por acreditar que Raimundo tenha predileção pelo outro filho. Como se não bastante, Ronaldo gosta de Bia, que é apaixonada por Beto. Essa dinâmica traz tensão tanto na vida pessoal quanto profissional, pois Ronaldo vive às sombras do irmão, sem conseguir se destacar como deseja.
Enquanto isso, Beto escolheu não seguir o caminho tradicional da família e, em vez de assumir uma posição de destaque na Hi-Fi, decidiu ser jornalista e fotógrafo. Ele tem ideias progressistas e está sempre em conflito com a visão conservadora do pai e do irmão.
“O Raimundo é um grande publicitário, mas é um cara com um pensamento ainda muito antigo. Acho que o Beto vai ajudar a trazer leveza e modernidade para esse ambiente”, afirma Danton Mello.
Com vocês, Alfredo Honório na TV Ondas do Mar
A TV Ondas do Mar, emissora de televisão fluminense criada na década de 1950, é onde sonhos ganham vida. Fundada por Alfredo Honório (Eduardo Sterblitch), um visionário do entretenimento, e seu sócio, Sérgio (Sergio Kauffmann), a emissora se destaca por seu popular programa de auditório ‘Alfredo Honório Show’, que recebe cantores, dançarinos e outras personalidades locais.
O programa faz com que Alfredo também seja uma celebridade. E, quando não está no palco, ele circula pelos bastidores cumprimentando os funcionários e incentivando os novos talentos que sonham em aparecer na telinha. Fora do ambiente da TV, vive um casamento estável com Teresa (Maria Eduarda de Carvalho) e faz de tudo para ver a filha Eugênia (Klara Castanho) feliz.
“O Alfredo é uma estrela. Ele tem uma excentricidade estética na frente das câmeras, mas também tem uma família real e que se ama muito”, diz Eduardo Sterblitch.
A moda e a beleza em 1958: o figurino e a caracterização
A moda dos anos 1950, especialmente em 1958, foi marcada pelo retorno ao glamour e à celebração da feminilidade após os anos de escassez do pós-guerra. Paula Carneiro, responsável pelos figurinos 'Garota do Momento', destaca que o período trouxe saias volumosas, cinturas marcadas e um toque luxuoso às roupas femininas. Essa exuberância, contudo, coexistia com uma variedade de estilos mais retos e modernos, já evidentes no final da década. “Quando fazemos uma novela de época, temos a possibilidade de construir universos que as pessoas nem sempre conhecem. Podemos apresentar um mundo para as pessoas por meio das roupas. Isso é muito bonito”, comenta Paula.
Beatriz (Duda Santos), a protagonista da história, tem uma estética que mistura elementos dos anos 1950 com um toque de fantasia e uma forte personalidade. "Já que a novela tem um tom mais fabular, decidimos usar isso e criar algo diferente para a Beatriz. Queríamos trazer força para o figurino dela. Não é um figurino tão óbvio. Ela usa saias rodadas com uns barrados mais latinos, conta a figurinista.
Bia (Maisa), por outro lado, é a “patricinha” da trama. "Bia é a nossa Sarah Jessica Parker dos anos 1950, toda estilosa e com grande influência americana", pontua Paula. Para os homens, a figurinista conta que lança mão de texturas e tecidos como couro e lã para auxiliar na construção da narrativa. "Acredito que o papel do figurino é ajudar a contar a história através das peças, compondo uma segunda pele para os personagens", diz.
A figurinista também se preocupa em ter um olhar sustentável. Ela revela que, em vez de trazer peças completamente novas, muitas vezes recorre ao acervo da TV Globo e a brechós, reutilizando e reinventando peças antigas para dar nova vida aos trajes. “As peças são recicladas com criatividade, misturadas com novos acessórios e estilos para parecerem frescas e únicas”, afirma, acrescentando que a equipe também utiliza tingimentos naturais com ingredientes como com urucum e beterraba.
A equipe de caracterização, liderada por Auri Mota, teve o desafio de recriar a estética e os padrões de beleza da década de 1950 sem deixar de lado a diversidade de personagens e suas realidades. Ele conta que, no final dos anos 1950, o padrão de beleza feminina eram cabelos alisados ou ondulados e maquiagens que seguiam um estilo homogêneo. “Quando fui estudar sobre a época, as referências que encontrei eram quase sempre de mulheres brancas com cabelos lisos, o que foi desafiador”, conta Auri.
A caracterização também foi cuidadosa ao não exagerar na estilização dos cabelos, mantendo texturas crespas e onduladas, refletindo uma beleza mais autêntica e diversa.
A recriação de uma época: a cenografia e a produção de arte
O trabalho das equipes de cenografia e produção de arte também ajuda a levar para a tela o Rio de Janeiro de 1958, recriando a atmosfera vibrante de uma cidade em transformação – com direito até a um bonde funcionando. “O bonde acabou se tornando um elemento de ligação visual e narrativa, conectando diferentes núcleos da trama”, comenta a cenógrafa Paula Sales.
Para ela, a Perfumaria Carioca é um dos espaços mais elegantes da novela. “Foi inspirada nas grandes galerias de lojas da época, como as Galerias Lafayette, em Paris, e em perfumarias icônicas do Rio de Janeiro. Com uma fachada imponente e vitrais elegantes, o cenário foi projetado para refletir a sofisticação da família Alencar”, conta. Já a mansão tem sua sala imponente montada como cenário fixo no estúdio. “Isso evita montagens e desmontagens frequentes e diminuiu o consumo de tinta e outros materiais”, pontua Paula.
Outro destaque é o cenário da TV Ondas do Mar, que reflete o período inicial da televisão no Brasil, quando o meio ainda estava se consolidando. Paula Sales e sua equipe, em conjunto com a produção de arte, trabalharam na criação de um estúdio que passasse o clima da época, com câmeras antigas, grandes cortinas e arquibancadas que ampliam o espaço. “Contamos com a consultoria do Elmo Francfort, um pesquisador apaixonado e de vasto conhecimento da história da TV. Ele que nos trouxe detalhes importantíssimos tanto técnicos quanto estéticos e de funcionamento de uma televisão de 1958”, pontua a produtora de arte Flávia Cristófaro.
Para o Clube Gente Fina, a equipe buscou referências em clubes históricos do Rio de Janeiro, como o Renascença e o Democráticos, que são conhecidos pela forte ligação com a música popular e pela resistência cultural. No Gente Fina, os encontros e celebrações são representados em uma estrutura de reaproveitamento de materiais. “As portas e janelas do clube foram reutilizadas de cenários anteriores, reforçando a ideia de um local construído coletivamente e ajudando a reduzir o impacto ambiental”, enfatiza Paula. Já a produtora de arte diz que, para o Gente Fina, havia o desejo de traduzir a coletividade do clube e a realidade cultural sofisticada dos personagens desse núcleo. “Ali, temos os instrumentos musicais para shows e aula de capoeira, um estandarte que construímos para a cena do Carnaval e depois colocamos no cenário, além de microfones originais que captam o som valendo”, conta Flávia.
Outro espaço que se destaca é o boliche Bowling Rock, que remete fortemente à cultura americana dos anos 1950. “O boliche foi concebido para ser um ponto de encontro dos jovens da novela, um lugar animado e colorido, com forte influência dos encontros populares que começavam a surgir em Copacabana”, explica a cenógrafa. “Pesquisamos o que existia e recriamos em cima de dados reais, materiais existentes, mas com nossa ‘camada de tinta’. Esse é o maior desafio e a maior delícia de fazer novela de época”, acrescenta a produtora de arte.
Rock, samba e samba-canção na vitrola de ‘Garota do Momento’
A atmosfera de dos anos 1950 estará presente na trilha da novela. A gravação original de “Tutti Frutti”, com Little Richard, será a música de abertura, e clássicos como “La Bamba”, com Ritchie Valens, e “Chiclete com Banana”, com Jackson do Pandeiro, também aparecerão em suas versões originais. Outros sucessos estarão na trilha, mas em regravações originais, como “Cry Me a River” na voz de Iza, “A Noite do Meu Bem” interpretada por Gaby Amarantos, “Se Acaso Você Chegasse” com Criolo, “Smoke Gets in Your Eyes cantada por Gloria Groove e “Pensando em Ti” com Leo Santana.
“Parte da trilha é de canções originais, com músicas da época, mas quisemos trazer também brasilidade e modernidade propondo essas regravações com artistas que a gente admira. Estão muito lindas e eu espero que o público se emocione tanto quanto nós ao ouvi-las”, torce a diretora artística Natalia Grimberg.
ENTREVISTA COM A AUTORA ALESSANDRA POGGI
Alessandra Poggi é formada em Jornalismo pela UFRJ, com especialização em Literatura Brasileira pela PUC-Rio. Trabalha na Globo desde o ano 2000, onde começou no programa ‘Gente Inocente’. Como colaboradora, escreveu diversas temporadas de ‘Malhação’ (de 2003 a 2010), de onde saiu para integrar a equipe de Miguel Falabella na novela ‘Aquele Beijo’ (2011). Em 2017, dividiu com Ângela Chaves a autoria da supersérie ‘Os Dias Eram Assim’, e em 2022 escreveu a novela ‘Além da Ilusão’. ‘Garota do Momento’ é sua segunda novela como autora titular.
Que história ‘Garota do Momento’ vai contar?
A história se passa no final da década de 1950 e gira em torno de Beatriz (Duda Santos), uma jovem que, após acreditar ter sido abandonada pela mãe aos quatro anos, descobre que essa mãe, Clarice (Carol Castro), na verdade, está viva e casada. Ao reencontrar a mãe, Beatriz percebe que ela não a reconhece e que ainda por cima tem outra filha com o mesmo nome. A partir daí, os conflitos começam a surgir. E, na trajetória de se aproximar e tentar entender o que aconteceu com a mãe, Beatriz ainda se torna garota-propaganda de uma das maiores fábricas de sabonete do país da época, justamente a empresa de seu padrasto, Juliano Alencar. Estamos definindo a novela como uma fábula de esperança.
O que te motivou para a construção dessa história?
Escolhi ambientar essa novela de época nos anos 1950, especificamente em 1958, por ser considerado por muitos como um dos anos mais felizes do Brasil, com a Bossa Nova e o Cinema Novo surgindo, nosso país ganhando a Copa do Mundo pela primeira vez e a construção de Brasília. Quis trazer essa época de nostalgia e otimismo para a trama, em que tudo parecia mais bonito e feliz. E acrescentar algumas reflexões: será que estava mesmo tudo bem para todos?
Quais são os temas abordados em ‘Garota do Momento’?
A novela trata sobretudo de busca por identidade, superação e empoderamento, especialmente através da personagem Beatriz. Temas importantes, como preconceitos de várias naturezas - racial, social e de gênero - são parte da trama, que faz um resgate dos costumes e da forma de pensar da sociedade brasileira naqueles anos. Além disso, a história explora a força da publicidade da época e o impacto da televisão, que estava emergindo, e dá destaque à comunidade negra nos anos 1950.
O que mais te inspira no ano de 1958?
O que mais me inspira é o otimismo que permeava a sociedade brasileira. Era uma época de grandes mudanças e de esperanças. Um período em que tudo parecia possível. Além disso, a cultura vibrante, a moda, os bailes de debutantes e o início do rock’n’roll, com artistas como Elvis e Little Richard, também são minhas fontes de inspiração.
Como tem sido o trabalho com sua equipe de colaboradores e como eles têm contribuído para trazer perspectivas e olhares múltiplos para a novela?
Escrevo com um time de excelentes roteiristas. Existe uma troca entre nós, de experiencia de vida, de experiencia profissional. Busquei ter um time diverso, representativo, que pudesse refletir nos textos suas diferentes vivências.
Como está sendo o trabalho de pesquisa sobre as referências da época? Tem licença poética?
O trabalho de pesquisa tem sido intenso e detalhado, com a ajuda de uma equipe dedicada. Para me auxiliar com o texto, conto com a competente pesquisadora Rosana Lobo, que também trabalhou comigo em ‘Além da Ilusão’. Embora eu tente me ater ao máximo aos eventos e costumes da época, há algumas licenças poéticas, especialmente em relação ao tempo dos acontecimentos. Sempre com parcimônia, mantendo a fidelidade ao espírito da época. A licença poética também se aplica à inclusão de uma mulher negra em um posto de celebridade, algo que não era comum naqueles tempos, por isso o nosso termo ‘fábula de esperança’.
Como está sendo a parceria com a Natalia?
A parceria com a Natalia está sendo maravilhosa. É a primeira vez que trabalhamos juntas, e ela conseguiu levar para a tela exatamente o que eu imaginei. A equipe dela e todos que estão envolvidos na produção são extremamente talentosos e dedicados. É uma colaboração muito produtiva e gratificante.
ENTREVISTA COM A DIRETORA NATALIA GRIMBERG
Escritora e diretora artística de teatro e televisão, Natalia Grimberg iniciou a carreira na Globo em 1998, como autora e assistente de direção. Em 2002, migrou para área de direção em dramaturgia e dirigiu novelas como ‘Belíssima’, ‘Eterna Magia’, ‘Passione’, ‘Cordel Encantado’, ‘Ciranda de Pedra’, ‘Cheias de Charme’, ‘Saramandaia’, além da série ‘Tudo Novo de Novo’. Em 2013, já como diretora geral, assinou as produções ‘Geração Brasil’ e ‘A Lei Do Amor’. Em 2018, atuou como diretora artística de ‘Malhação – Vidas Brasileiras’; e em 2022 como diretora artística da novela ‘Cara e Coragem’. Ganhadora do Emmy Internacional como diretora geral por melhor novela com ‘Verdades Secretas’, em 2016. Também foi indicada em duas categorias no Emmy Awards Kids por ‘Malhação – Vidas Brasileiras’, como diretora artística em 2018. Natalia também é diretora da companhia teatral ArteGrimberg, fundada há 25 anos, por onde já passaram mais de cinco mil alunos. Como autora, escreveu mais de trinta peças infantis e juvenis. No cinema, roteirizou dois filmes para Renato Aragão e, em 2022, lançou seu primeiro romance, ‘Cuidado’, pela editora Labrador. Em ‘Garota do Momento’, faz sua primeira parceria com a autora Alessandra Poggi.
Quais os maiores desafios de dirigir uma novela de época para os Estúdios Globo? Que recursos serão utilizados em termos de tecnologia?
São muitos desafios, mas são maravilhosos. Me anima muito, principalmente, buscar sair do lugar-comum, surpreender. Só de ser uma novela de época já é um super desafio, com a representação do Rio de Janeiro de 1958, o que envolve detalhes de figurino, cenografia, arte e comportamento. E eu quero trazer o meu olhar feminino, até porque é uma novela feminina. Em termos de tecnologia, embora a novela não seja tecnológica, a equipe utiliza recursos tecnológicos para complementar a pesquisa e garantir a autenticidade dos cenários e figurinos. A direção também busca equilibrar a fidelidade histórica com uma abordagem contemporânea no pensamento e na narrativa.
Que conceito será utilizado na direção e qual linguagem estética?
Esse é um trabalho em conjunto, em que a equipe de diretores junto comigo e com o Jeferson De, nosso diretor-geral, está buscando criar uma atmosfera mágica e nostálgica, transportando o telespectador para a época de 1958. A linguagem estética inclui uma paleta de cores vibrante e alegre, inspirada em filmes e livros da época. A ideia é retratar a brasilidade e a diversidade cultural do período, com um foco especial em cenários e figurinos que refletem a riqueza e a complexidade da sociedade brasileira daqueles anos.
Como foi o processo de escalação? Temos um elenco de peso numa troca geracional bastante interessante.
É um elenco muito especial. Temos atores consagrados, como Lilia Cabral, Solange Couto e Fabio Assunção, que trazem experiência e profundidade ao elenco, que estão empenhados e querendo participar de tudo. Ao mesmo tempo, a novela conta com jovens promissores como Duda Santos e Maisa, que trazem frescor e energia à trama. A escolha dos atores foi feita com cuidado, buscando garantir a química entre os personagens e a adequação ao perfil das famílias retratadas na novela.
É a primeira vez que você e Alessandra estão fazendo essa parceria. Como está sendo essa troca?
A parceria com a Alessandra e com a equipe dela está sendo maravilhosa. Estamos tendo uma troca humana e com cumplicidade, além de estarmos comprometidas em fazer a novela dar certo. A colaboração é constante: a Alessandra participou ativamente dos testes e das oficinas; ela é muito presente. Eu mostro tudo para ela, dividimos tudo. Ela não vai ver no ar algo que nunca viu. Somos muito parceiras.
Por Maísa Capobiango e Carolina Gomes, da assessoria da TV Globo.