Trama protagonizada por Tony Ramos e exibida originalmente em 1979 está disponível na plataforma.
Um homem em busca da verdade sobre o seu pai é o mote principal de ‘Pai Herói’. Escrita por Janete Clair, a trama que foi exibida originalmente em 1979 passa a integrar o projeto de resgate dos clássicos da dramaturgia do Globoplay a partir desta segunda-feira, dia 27. Dirigida por Walter Avancini, Roberto Talma e Gonzaga Blota, a história conta com Tony Ramos, Elizabeth Savala, Lima Duarte, Gloria Menezes, Carlos Zara, Beatriz Segall, Paulo Autran, Isabela Garcia, Jorge Fernando, Emiliano Queiroz, entre outros, no elenco.
André Cajarana (Tony Ramos) foi criado no interior de Minas Gerais pelo avô paterno. O jovem cresceu acreditando que seu pai era um grande homem. Com a morte do avô, André parte para o Rio de Janeiro com o objetivo de esclarecer as circunstâncias da morte de seu pai, Malta Cajarana (Lima Duarte). Ao chegar à cidade, ele descobre que o pai é acusado de roubo e assassinato.
Tudo que ele quer então é provar que seu pai não é o que o acusam. André acredita que Malta foi um herói e não um bandido, como dizem. Ao longo da história, ele se envolve com duas mulheres. Catarina (Elizabeth Savala) é bailarina profissional de sucesso e faz parte de uma rica família do Rio de Janeiro. Já Ana Preta (Glória Menezes) é uma mulher do subúrbio, dona de uma casa de samba. Os três formam o principal triângulo amoroso da história.
- Qual a principal lembrança que você tem da novela Pai Herói?
São várias lembranças! A turma com quem eu contracenava, a possibilidade das conversas de alta qualidade que tínhamos nos bastidores, a direção inspirada... Eu lembro claramente dessa direção inspirada. As conversas criativas que eu tinha com o Paulo Autran, com a Maria Fernanda, que fazia a mãe do André, com a Savala, com a Gloria Menezes, minha querida Gloria no Cabaré da Ana Preta, que era um lugar que quando aparecia na novela as pessoas ficavam encantadas com a espontaneidade de todo aquele elenco. Gravávamos às vezes algumas externas lá na Beija-flor de Nilópolis. São várias lembranças.
- Como era trabalhar em uma novela de Janete Clair?
Dona Janete era uma pessoa muito espontânea, muito clara. Ela mandava recados pelos diretores, às vezes telefonava para contar de uma cena que tinha visto e tinha gostado. Sempre muito generosa, era uma doçura de pessoa. E, ao mesmo tempo, uma criadora. Ela não fazia nenhum tipo de juízo de valor de uma telenovela. Ela apenas queria sempre passar, através do folhetim, quadros da vida real. Claro que, quando fala de telenovela, você diz “ah... isso é coisa de novela” ou “isso é coisa de cinema”. Mas, na verdade, o folhetim, a dramaturgia, espia, olha para a realidade que nos cerca. Claro que é importante colocar um pouco de fantasia no meio disso, como é até hoje. Se você assistir a qualquer série, você vai perceber que tudo é folhetim: quem matou quem, quem vai ficar com quem, como vai ser o próximo episódio, como vai acabar, e assim por diante. Folhetim, dramaturgia pura. Dona Janete respeitava muito essa imaginação, esse sonhar, esse folhetim da própria vida que o espectador tem. Espectador que sonhava e sonha. Era uma alegria poder trabalhar com Dona Janete, com sua determinação e espontaneidade.
- A novela traz diversos nomes importantes da dramaturgia brasileira. Como eram os bastidores das gravações?
Os bastidores eram fantásticos. Na hora do almoço, você sentava-se à mesa com Maria Fernanda, com Paulo Autran e falava sobre teatro, vida, sociologia, filosofia. Aí chegava nossa querida Gloria Menezes para almoçar e o papo continuava. Falava-se de música, porque Gloria é uma excelente pianista também. Poucos sabem ou lembram disso. Também contávamos piada, falávamos de esporte, de tudo um pouco... Cada um com seu projeto teatral e com planos para depois da novela. Como foi meu caso. Acabou “Pai Herói” e eu fui fazer “O Pagador de Promessas” no teatro. Paulo Autran foi fazer outra peça e assim por diante.
- Você lembra como era a abordagem do público nas ruas em relação ao André?
Se eu ia ao teatro, ao cinema ou se eu arriscasse passear com meus filhos, àquela altura com seus 8, 9 aninhos, sempre era isso: “Você tem que limpar o nome do seu pai”. “Estou gostando. “Você tem que ver o que está acontecendo”. “Aquele Baldaracci guarda o segredo”. “O teu pai sempre foi um homem bom”. Eu sempre ouvia isso nas ruas e eu dizia “Mas André Cajarana está atrás disso” (risos). Uma relação muito bonita numa época em que ninguém poderia imaginar que um dia teríamos internet.
- Depois de tantos personagens, cerca de 138 pelo que você já comentou em entrevistas, o André tem um lugar especial em sua trajetória? Por que?
Claro que o André tem um lugar especial. Grandes novelas foram importantes na minha vida, como “Ídolo de Pano”, que depois a Globo refez. “A Viagem”, que fiz com a Eva Wilma, e que a Globo refez também. Novelas importantes na minha vida profissional. Como “Nino, o Italianinho”, com Juca de Oliveira de Geraldo Vietri, uma novela muito importante. Aí venho para a Globo onde estou há 45 anos seguidos. Fiz muitas coisas que foram importantes. Agora imaginem fazer uma novela como “O Astro” e, em seguida, estrear uma como “Pai Herói”. Fiz ambas de Janete Clair seguidamente e com sucesso maciço em todo território nacional, tramas vendidas para o mundo inteiro. Claro que isso tudo muda a relação com a profissão. Mas “Pai Herói” entra naquele lugar especial onde solidifica-se o meu nome junto ao grande público. Assim como vieram outras, como os gêmeos de “Baila Comigo”, o Juca de “A Próxima Vítima”. Aí, enfim, a carreira caminhou. Mas sem dúvida o André Cajarana está ali como está também, em 1985, a minha personagem Riobaldo de “Grande Sertão Veredas”, seis anos depois de “Pai Herói”. Um outro marco divisório na minha carreira. É bonito olhar para a carreira, é bonito olhar para o tempo e ser feliz com os desafios que topei e, ao mesmo tempo, pensar na gratidão que tenho por essa caminhada.
- Qual cena você lembra com mais carinho?
São várias. Uma é a perseguição no início da novela. André Cajarana é envolvido num assalto inadvertidamente. Ele não está sabendo que a personagem do Osmar Prado está envolvida nisso. Ele fala “corre, corre, corre”. Eles saem correndo. A polícia perseguindo, aquilo é um momento muito bonito com esse grande ator que é o Osmar. Houve outros momentos líricos, românticos com a Ana Preta. Outros momentos que, ao fugir da polícia, ele se esconde na cobertura onde mora quem? Carina, personagem da Elizabeth Savala. Há vários momentos... O final da novela, que não vou dizer aqui, é surpreendente pela forma que o Roberto Talma marcou, como os diretores criaram aquele final, como foi dirigido e o local escolhido. É um final surpreendente.
- Muitas novelas estão sendo revisitadas no momento. Mas Pai Herói foi exibida há mais de 40 anos. Acha que é uma oportunidade de os noveleiros conhecerem esse trabalho, que fez muito sucesso à época, estando agora no streaming? O que você destacaria em Pai Herói como um atrativo?
Sem dúvida é muito bom para mim, principalmente no caso de “Pai Herói”, que foi exibida de janeiro a agosto de 79, um sucesso estrondoso. É uma história linda que se um dia a Globo resolver fazer um remake, não tenha dúvida que dará certo. E os noveleiros que viram esse trabalho, vão poder rever cenas importantes. E a molecada que não faz nem ideia do que é “Pai Herói”, talvez tenha ouvido falar, vai poder constatar que grande novela é. O atrativo de “Pai Herói” é esse: suspense, amor e, ao mesmo tempo, aquela velha pergunta “como será que vai terminar?”. Valeu a pena demais para mim. Sou grato a todos os trabalhos que fiz, mas tem alguns que são pontos de virada, pontos que saem da curva. “Pai Herói” é um deles, sem dúvida alguma.
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Com informações da Comunicação Globo