Pessoas LGBT conquistam mais espaço ao longo dos anos.
No Dia do Orgulho LGBT, OPTV separou alguns personagens da teledramaturgia brasileira que evidenciaram um pouco da realidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
A origem dessa data comemorativa está em 1969, quando uma multidão se rebelou contra a polícia, que tentava prender homossexuais em Nova York em 28 de junho. Nos três dias e noites que se seguiram, pessoas LGBT e aliadas resistiram ao cerco policial. Nascia, portanto, o moderno movimento pelos direitos dessa parcela da sociedade.
Segundo levantamento publicado por Nilson Xavier (UOL) há três anos, a década de 1970 contou com apenas 4 personagens homossexuais na TV; entre 2010 e 2014, esse número subiu para 26. De lá pra cá, parece que a teledramaturgia avançou ainda mais ao retratar as pessoas LGBT, abrindo mais espaço para a realidade dos transgêneros. A Força do Querer, costumeiramente a atração de maior audiência da TV, conta com dois personagens que representam a pluralidade das identidades de gênero: Ivana (Carol Duarte), que vai revelar-se homem trans, e a travesti Elis Miranda (Silvero Pereira), que trabalha como Nonato para sobreviver.
Relembre alguns emblemáticos personagens LGBT de produções da TV Globo:
- Rodolfo Augusto, em Assim na Terra como no Céu (1970/1971)
Gugu era o apelido do estilista vivido por Ary Fontoura na novela de Dias Gomes. Não se pode afirmar que tenha sido o primeiro homossexual da teledramaturgia brasileira, mas foi o primeiro a se destacar com uma trama relevante, embora sua orientação sexual não fosse mencionada.
- Conrad, em O Rebu (1974/1975)
O personagem de Ziembinski era o protagonista da novela de Bráulio Pedroso. O pesquisador Nilson Xavier esclarece: “Pela primeira vez a homossexualidade foi tratada numa novela – mas não abertamente. Conrad Mahler (Ziembinski) tinha um caso velado com o garotão Cauê (Buza Ferraz), ainda que não fosse explícito para o telespectador. Para passar pela Censura Federal, foi exigido que Cauê aparecesse como filho adotivo do velho. Mas tudo ficava claro nas entrelinhas, principalmente pelas atitudes do “casal” no decorrer da trama.”
- Inácio, em Brilhante (1981/1982)
A novela de Gilberto Braga causou algumas polêmicas, uma delas em razão do personagem gay vivido por Dennis Carvalho. Em depoimento, o autor revelou que a censura do regime militar não permitia o uso da palavra “homossexual” nos diálogos, o que dificultou o andamento da história. Segundo Nilson Xavier, Fernanda Montenegro, que interpretava a mãe homofóbica de Inácio, queria que o termo fosse usado. Ciente de que os censores não liberariam, Gilberto fez com que Luiza (Vera Fisher), num diálogo com Chica Newman (Fernanda), dissesse: “os problemas sexuais de seu filho”.
- Cecília, Laís e Márilia, em Vale Tudo (1988)
Gilberto Braga voltava a experimentar personagens homossexuais em uma novela, dessa vez o casal de lésbicas Cecília (Lala Dehelnzelin) e Laís (Cristina Prochaska). Na trama, a relação das duas era evidente, com direito a umas poucas carícias. Conforme previsto desde a sinopse, Cecília morre em um acidente de carro, dando margem à discussão sobre herança e parceria civil. Mais adiante, uma nova personagem entra na história para formar par romântico com Laís: Marília (Bia Seidl).
- Sandrinho e Jeferson, em A Próxima Vítima (1995)
Sandrinho (André Gonçalves) formou par com Jefferson (Lui Mendes) na novela de Sílvio de Abreu. Apesar de aparentemente bem aceitos pelo público, o ator André Gonçalves foi agredido fisicamente por um grupo de homens no Rio de Janeiro.
- Sarita, em Explode Coração (1995/1996)
Floriano Peixoto estreou nas novelas vivendo Sarita Witte. Gloria Perez não evidenciava se a personagem era travesti, transformista, cross-dresser... Embora tenha sido criticada na época por tal indefinição, a autora estava deixando claro que nem todas as pessoas se encaixam em um rótulo.
- Rafael e Alex, em Por Amor (1997/1998)
Manoel Carlos apresentou um raro caso de bissexualidade na TV. Casado com Virgínia (Ângela Vieira), o personagem de Odilon Wagner teve seu romance com Alex (Beto Nasci) descoberto pelo filho, Rodrigo (Ângelo Paes Leme)
- Rafaela e Leila, em Torre de Babel (1998)
Depois doe apresentar aos poucos o casal gay de A Próxima Vítima, Sílvio de Abreu optou por colocar Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Sílvia Pfeifer) juntas desde o início da novela. Mal recebidas pelo público, as duas morreram na explosão do shopping e mencionaram o preconceito na última cena.
- Ramona, em As Filhas da Mãe (2001)
A inovadora novela de Sílvio de Abreu trazia uma transexual entre as protagonistas. Vivida por Claudia Raia, a personagem teve apoio do público em seu romance com Leonardo (Alexandre Borges). O grupo de discussão realizado pela Globo, no entanto, revelou que os telespectadores apoiavam por que não se deram conta de que a atriz vivia uma mulher que não nasceu no corpo feminino.
- Clara e Rafaela, em Mulheres Apaixonadas (2003)
O público foi mais receptivo às lésbicas criadas por Manoel Carlos. Rafaela (Paula Picarelli) e Clara (Aline Moraes) se apaixonaram no colégio, enfrentaram o preconceito dos colegas e da família, e acabaram dando um selinho.
- Júnior e Zeca, em América (2005)
Junior (Bruno Gagliasso) morava no interior com a mãe e não entendia seu interesse por outros homens. Acaba vivendo um romance com Zeca (Erom Cordeiro), mas o beijo preparado por Glória Perez, embora gravado, não foi ao ar no último capítulo.
- Félix e Niko, em Amor à Vida (2013/2014)
Walcyr Carrasco conseguiu realizar o desejo de Glória e o beijo entre os personagens de Mateus Solano e Thiago Fragoso foi exibido no último capítulo da novela.
- Tereza e Estela em Babilônia (2015)
Acreditando nos avanços dos últimos anos, Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga colocaram Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg dando um delicado beijo no capítulo inaugural da novela. Em entrevista recente ao canal Viva, Linhares classificou a rejeição à novela como “moral e não artística”.
- Destacamos, ainda, os personagens homossexuais e transgêneros criados por Miguel Falabella em alguns trabalhos na TV, como A Lua me Disse (2005), Toma Lá Dá Cá (2007/2009) e Aquele Beijo (2011/2012). As novelas Paraíso Tropical (2007), Tititi (2010/2011) Insensato Coração (2011) e Sangue Bom (2013) também são exemplos de abordagens respeitosas das pessoas LGBT na teledramaturgia nacional.