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No ar em duas produções simultâneas, Ailton Graça fala de "Travessia" e a série "Rota 66"

Ailton Graça comenta sobre seus trabalhos em "Travessia" e a série "Rota 66", lançada recentemente no Globoplay.

por Micael Constantino, em 07/11/2022

No ar em duas produções simultâneas, Ailton Graça fala de "Travessia" e a série "Rota 66"

"Estou em estado de graça", brinca Aílton fazendo um trocadilho com seu sobrenome, ao comemorar os trabalhos bem-sucedidos na série "Rota 66", do Globoplay, e nas filmagens de "Mussum, o filmis". Aos 58 anos, o ator, que já trabalhou como camelô, tem uma sequência ininterrupta de trabalhos na televisão desde 2003. Sua estreia foi em "Cidade dos homens", em que viveu Picote. O papel mais recente é o de Monteiro, de "Travessia". Para ele, a novela de Gloria Perez é simbólica por mostrar as alegrias e os conflitos de uma família preta, a primeira da qual ele faz parte na dramaturgia, de acordo com informações da jornalista Patricia Kogut, do O Globo.

— Ali se propõe uma história diferente. É a única família consolidada e estruturada dentro da trama toda. E eles não se mostram como pessoas saídas de um comercial de margarina. Se amam e têm conflitos cotidianos como os de qualquer outra família — explica.

Gloria Perez ocupa um lugar especial na carreira do artista. Foi criação dela o personagem Feitosa, interpretado por Graça em 2005 na novela "América".

— Minha história com alcance do público da TV se iniciou com a Gloria com aquele papel. Até hoje, em muitos lugares a que vou, as pessoas cantam: "Você é um negão de tirar o chapéu". Voltar a trabalhar com essa mulher genial é uma felicidade grande — frisa.

Em "Rota 66", do Globoplay, o papel do paulista é mais carregado no drama. A história, inspirada no livro de Caco Barcellos, trata da truculência de policiais em São Paulo em meados dos anos 1970. O personagem do ator é um sargento alinhado às diretrizes e aos códigos militares, mas que acaba tendo uma grande decepção com a corporação:

— É uma tragédia que tem algo de catarse, de comoção, de disputas de narrativas que acontecem não só no Brasil, mas no mundo. Meu personagem é um policial fora da curva, que acredita em todo aquele código de ética que está nos livros. Ele é um instrutor, passou a vida inteira sem ter sido o responsável por uma morte sequer. Ele efetuou disparos, mas nunca matou ninguém. A proposta foi juntarmos no perfil dele personagens que, de fato, existiram e acompanharam o Caco. É um híbrido.

Com origem na periferia, Ailton diz se considerar uma exceção, em meio a outros homens negros que não tiveram oportunidades ou que, devido ao racismo estrutural, não conseguiram ascender profissionalmente.

— Cresci num lugar onde as pessoas tinham acesso a armas, a violência era intensa. Diante dessa realidade de racismo estrutural, sou um sobrevivente. Estou agora com 58 anos, ainda trabalhando em projetos nas periferias e adoro. Fui arte-educador (o conceito se refere a educadores ou artistas que promovem cursos em comunidades). Tive alguns encontros com essa estrutura (de perseguição a pessoas negras e julgamento pela cor da pele) onde moro — admite.


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