TV Globo exibe, no dia 15 de abril, o especial apresentado pela atriz, cantora e ativista Zahy Tentehar.
Selvagem, inútil, sem cultura, privilegiado, primitivo, preguiçoso. Estes são apenas alguns dos estereótipos atribuídos por parte da sociedade brasileira aos indígenas. São séculos de preconceito, de luta pela terra e pelo fim do genocídio destes povos, compostos por quase um milhão e setecentos mil brasileiros, com diferentes modos de viver e de se expressar. Em prol da causa e ciente da importância da pauta no Brasil e no mundo, a TV Globo exibe, no dia 15 de abril, o projeto ‘Falas da Terra’, apresentado pela atriz, cantora e ativista Zahy Tentehar, com direção artística de Antonia Prado, direção de Felipe Herzog, e roteiro assinados pelos dois e por Daniel Munduruku, Micheline Alves e Veronica Debom. Ele é exibido na semana do Dia dos Povos Indígenas, celebrado no dia 19.
O especial passeia por diferentes ideias e territórios para iluminar uma visão de progresso e de futuro que equilibre necessidades econômicas e preservação ambiental, garantia de direitos coletivos e liberdades individuais. “Esperamos abrir espaço para discutirmos questões urgentes da luta indígena: o direito à terra, o combate ao preconceito, o fim dos massacrares em diferentes territórios. Como diria Ailton Krenak, ninguém declara guerra, mas muitos indígenas morrem numa aniquilação lenta e gradual que extermina essa população. Para além da denúncia dessas tragédias, o programa vai mostrar a resistência e as belezas do modo de viver indígena. Falaremos sobre indígenas urbanos, a relação com a natureza e um futuro ancestral. O público vai ter a oportunidade de conhecer diversos personagens reais, se emocionar, rir e aprender um pouco mais sobre a história do seu próprio país”, ressalta a diretora artística Antonia Prado.
‘Falas da Terra’ propõe um mergulho na diversidade dos povos originários por meio de experimentos sociais – proposta bem-sucedida iniciada em ‘Falas Femininas: Louca’, exibido em março – e convida a sociedade para refletir sobre as guerras travadas ao longo da história. Além disso, propõe aprendizado por meio das dores, da sabedoria e da luta por direitos dos povos indígenas. Zahy Tentehar, que conduz o especial, é nascida na aldeia Colônia, no território indígena Cana Brava, no Maranhão. Para ela, que já atuou na série ‘Dois Irmãos’, e há pouco recebeu o prêmio de melhor atriz no teatro, estar como apresentadora no especial é uma forma de se experimentar também. “O formato do arco do especial me tocou bastante. Enquanto artista, gosto de me investigar em várias áreas. Não gosto de ficar presa dentro de uma narrativa, de um estereótipo, de uma imagem indígena. Eu sou indígena, meu corpo é indígena. O meu ser indígena está na minha ancestralidade, na minha espiritualidade, no meu sangue, no meu corpo, na minha alma. Não preciso estar pintada ou de cocar para me verem como indígena. Espero que outros indígenas e não indígenas, especialmente, se sintam tocados”, destaca Zahy.
Ao longo do programa, figuras expoentes como Ailton Krenak, Daniel Munduruku – que também assina o roteiro –, e Valdelice Veron falam sobre tragédias familiares, guerra declarada, a invasão de 1500, movimentos políticos e as dificuldades que enfrentam em diversas áreas do país, como o roubo de madeira, a disseminação de doenças nos povoados e a grilagem. Outros indígenas também foram convidados para contar como querem ser vistos, e uma performance da artista Uýra Sodoma também será exibida. O público verá que embora tudo isso aconteça aqui, onde vive cada brasileiro, a dor dos indígenas não alcança multidões, nem nas ruas, nem nas redes.
Para Daniel Munduruku, escritor, professor, ator e ativista, que atuou na novela ‘Terra e Paixão’ e assina pela primeira vez um roteiro no audiovisual, o experimento social aproxima muito mais as pessoas em uma realidade concreta. “A tendência é que o espectador se enxergue, que faça parte dessa dinâmica e se questione sobre suas convicções e pensamentos congelados e equivocados que trazem consigo. Fiquei bem feliz ao saber que com o experimento social a gente vai comprovar mais uma vez que a sociedade brasileira entende muito poucos da sociedade indígena. E talvez isso provoque uma aproximação e as percebam como brasileiras, como de fato são. Que isso aumente uma adesão ao modo de ser indígena, que não é um modo excludente, e sim inclusivo. E isso vai fazer com que todo brasileiro indígena ou não se sinta parte dessa família que é o Brasil”.
Daniel destaca ainda a importância de sua participação como roteirista do projeto. “Foi muito gratificante. Toda experiência de criar é uma experiência de humanizar, nos tornar pessoas melhores. Eu me senti honrado de participar desse produto que é um grito de alerta para a sociedade. É um manifesto do pertencimento dos povos indígenas dentro de uma sociedade tão difícil, preconceituosa, excludente e equivocada sobre este pertencimento. Nossos olhares sobre a sociedade indígena precisam mudar para que a gente possa de fato perceber que eles são nossos amigos e aliados. Me coloco como alguém de fora falando sobre as populações, mas percebendo ter uma riqueza que precisa ser bastante explorada”, conclui o ativista.
Já a roteirista Micheline Alves destaca uma ideia a ser reforçada para todo o Brasil: “Dê mais atenção aos povos indígenas, leia mais a respeito, ouça o que eles têm a dizer, veja os questionamentos que eles trazem ao modo como nossa história sempre foi contada. A diversidade de visões só faz bem ao país”. Para ela, ouvir representantes dos povos originários é sempre tocante. “Não é pouca coisa resistir há 524 anos a tanta violência, tentativas de extermínio. Então, é muito emocionante ver e ouvir gente que, apesar da dor, segue defendendo direitos e ideias tão fortes, e ao mesmo tempo tão óbvias, como o direito de existir, de ser como se quer ser, de manter o planeta vivo. Foi realmente um privilégio fazer parte desse processo. Assistindo ao resultado, acho que é um produto importantíssimo, que merece ser visto por todos os brasileiros. Meu desejo é que essas ideias se espalhem cada vez mais na sociedade, e a TV tem grande contribuição nisso”, ressalta.
Veronica Debom, que assinou também o roteiro do ‘Falas Femininas: Louca’, fala da importância de participar de um trabalho que faz a diferença. “Eu sou apaixonada por esse projeto. Nossa ideia é romper os paradigmas que impedem nossas culturas de se abraçar e de trabalhar juntas para a construção de um futuro sustentável. É muito gratificante sentir que está fazendo um trabalho que é verdadeiramente um serviço para a comunidade. Ainda mais considerando o alcance da TV Globo. É uma honra imaginar uma real mudança de ótica de alguém a partir dos programas. E não tem nada mais estimulante do que trabalhar com propósito. Faz a vida ter mais sentido. Para além disso, a equipe dos Falas é deliciosa. São pessoas que eu quero levar pra vida. Faz tudo ficar mais leve, mais honesto e mais direto. A gente cria de um lugar de serviço de forma totalmente coletiva e afetuosa. É muito trabalho, porém todo mundo trabalha feliz”.
Projeto Falas é ampliado com o ‘Falas PCD’ em 2024
‘Falas da Terra’ é o segundo especial do Projeto ‘Falas’ – série de especiais que abordam as principais efemérides do ano na grade de programação da TV Globo, alinhada à jornada ESG da empresa. ‘Louca’ foi o primeiro especial, exibido no Dia da Mulher, no ‘Falas Femininas’. Estão previstos mais cinco programas que vão ao ar nas datas sociais que celebram o Dia dos Povos Indígenas, o Dia do Orgulho LGBTQIA+, o Dia do Idoso, o Dia da Consciência Negra e o Dia de Luta da Pessoa com Deficiência, que será produzido pela primeira vez pela emissora, previsto para ir ao ar em setembro.