Novela escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid emocionou o público ao discutir o tema dos refugiados.
Uma pátria plural e acolhedora: em ‘Órfãos da Terra’, o Brasil foi o país que uniu culturas, sotaques e etnias em um só território. Depois de 220 dias de gravação e 160 capítulos, a novela chega ao fim nesta sexta-feira, dia 27, combinando a leveza e a realidade da longa jornada de refugiados, construindo pontes e derrubando fronteiras entre as relações humanas. Além das lições de respeito, tolerância e superação, a história brindou o público com um caldeirão de referências, cores e sabores de diversos países.
Saudade e gostinho de dever cumprido já são sentimentos unânimes entre o elenco e a equipe da novela. Alguns desfechos ainda estão para acontecer, porém, a parceria entre toda a equipe ao longo de quase um ano de projeto já é motivo de comemoração. “Criamos um ambiente de criação e arte muito sadio. Posso dizer que foi um grande privilégio dar vida ao Jamil. Esse foi o meu quinto trabalho com o Gustavo Fernàndez, diretor que eu admiro tanto, e o meu quarto com a Duca e a Thelma, autoras que nos presentearam com uma história atual e necessária. É o fim de um ciclo e o início de outros. Estou muito feliz com o resultado que conseguimos”, comenta o ator Renato Góes, que deu vida ao personagem Jamil.
A novela chega aos seus momentos finais com um resultado bastante positivo. “Estou muito feliz com este trabalho. Acredito que conseguimos lembrar ao público que somos a soma de muitos”, afirma Thelma Guedes. Para Duca Rachid, o sucesso veio na humanidade de seus personagens, unindo os conceitos de empatia e resiliência. “Órfãos da Terra’ carregou a mensagem de que não existem fronteiras geográficas que limitem a nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do próximo. Mais do que brasileiros, congoleses, sírios ou libaneses, somos todos cidadãos desse planeta. Mostramos o que o nosso povo tem de melhor, que é a tradição em acolher, nossa vocação para tirar das adversidades lições de vida e de superação, além, é claro, do nosso reconhecido bom humor. Acredito que o público se conectou com os dilemas, romances e tramas da novela”, analisa.
O diretor artístico Gustavo Fernández também comemora o resultado: “foi muito bom poder participar de um projeto que apresentou um texto consistente e com núcleos tão diversos e ricos que exigiram da direção tanta atenção e cuidado. Acredito que conseguimos retratar toda essa pluralidade com naturalidade para o público, que foi o que eu mais persegui durante todo o processo".
A história da família Faiek, que enfrentou a longa travessia do Oriente Médio ao Brasil, teve momentos de dificuldade que levaram o público à reflexão sobre o tema. Com a recepção no Instituto Boas-Vindas, em São Paulo, os Faiek ganharam esperança de dias melhores e a sensação de acolhimento – sentimentos que foram testados durante toda a novela. Abrigando pessoas vindas de diversos países, o Instituto promoveu encontros felizes por meio de seus personagens e também trouxe histórias reais de empatia e respeito ao próximo. A roda de conversa do Boas-Vindas contou com a participação especial de representantes de instituições renomadas, como I Know My Rights, Acnur e Missão Paz, além de refugiados e imigrantes que compartilharam suas jornadas até a vida no Brasil.
Sem perder a delicadeza, a personagem Laila (Julia Dalávia) se manteve firme para conquistar sua felicidade e garantir a integridade de sua família desde os primeiros capítulos. Para a atriz, Laila se mostrou uma mulher forte e voluntariosa, que se ofereceu em sacrifício para salvar a vida do irmão, ainda na Síria. “Laila lutou por amor, não se abateu diante dos problemas e ameaças que sofreu, mesmo quando tudo estava em jogo. Em paralelo, colaborou com a luta dos refugiados por meio do seu canal da internet, o que reforçou ainda mais o propósito da personagem”, analisa Julia.
Rompendo com as tradições de sua família e de sua cultura, Laila fugiu do casamento arranjado com o poderoso sheik Aziz Abdallah (Herson Capri) e se entregou ao amor de Jamil (Renato Góes), acreditando no destino de ficar ao lado do homem que amava. O que ela não imaginava é que, na verdade, seu amor era um funcionário do sheik. Entre esta e diversas armadilhas enfrentadas pelo casal, esteve ainda a caçada obsessiva de Aziz no Brasil por Laila.
Mas nem a misteriosa morte do Sheik trouxe tranquilidade à vida de Laila e Jamil. Três anos depois da morte do pai, Dalila Abdallah (Alice Wegman) chegou ao Brasil em busca de vingança. A trajetória de Dalila mostrou que os sentimentos de rancor e ódio só provocaram tristeza e solidão. “Dalila teve diversas chances de se redimir e encontrar um novo sentido para sua vida. Porém, se manteve magoada e presa à rejeição de Jamil. Não conseguiu encontrar um novo caminho, mantendo o ódio e a necessidade de buscar o que ela considerava justo até o fim”, analisa Alice Wegman.
Tendo a questão humanitária como pano de fundo, ‘Órfãos da Terra’ foi uma trama rica em diversidade: na música, o público foi apresentado ao Dabke, tradicional dança presente na cultura de vários países árabes, que significa “bater o pé no chão”. Dançada em grupo e em ritmo alegre e festivo, a coreografia era a diversão do elenco nas cenas de comemoração retratadas na trama.
Outro destaque foi a variedade gastronômica: um verdadeiro prato cheio para o público, que pode conhecer melhor a culinária árabe, africana e israelense. Intérprete da cozinheira síria Missade, a atriz Ana Cecília Costa fez uma longa imersão no universo de cores e sabores de sua personagem. “A preparação para integrar o núcleo árabe foi extensa, tivemos aulas de prosódia, culinária e dança para que pudéssemos nos manter fiéis a cultura da melhor forma. Tivemos ainda pesquisa de filmes e literatura indicada por Mamede Jarouche (consultor de cultura árabe da novela). O contato direto com alguns sírios em situação de refúgio me trouxe o que considero, hoje, novos amigos”, conta ela.
O último episódio de ‘Órfãos da Terra’ vai ao ar nesta sexta-feira, dia 27 de setembro. A novela é escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes, com Dora Castellar, Aimar Labaki, Carolina Ziskind e Cristina Biscaia. A obra tem direção artística de Gustavo Fernández, direção geral de André Câmara e direção de Pedro Peregrino, Alexandre Macedo e Lúcio Tavares.