"Tudo se misturou na minha cabeça", diz Luiz Fernando Carvalho.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Luiz Fernando Carvalho comentou que o caos instalado em unidades prisionais de Manaus modificou a edição dos capítulos finais de Dois Irmãos, série da Globo que chega ao fim na sexta (20).
À Cristina Padiglione, o diretor explicou a afirmação: "Meu movimento inicial ao conceituar Dois Irmãos foi refletir sobre o tema da polaridade, do duplo, presente nos gêmeos, mas também na perspectiva política do país, gesto que me soa insistente e trágico. Faz uns dez dias, estava editando a cena da morte de Halim, abatido sobre seu sofá cinza, mudo, cristalizado, perplexo diante das transformações que se iniciaram naqueles tempos, mas que chegam ao ápice nos dias de hoje! Na semana de estreia, assassinatos se multiplicaram nos presídios de Manaus, uma capital abandonada e praticamente esquecida, que entrou para o mapa mundi da tragédia da vida real e ficcional a um só golpe. Tudo se misturou na minha cabeça. Entendo a edição como algo móvel, dinâmico, como a vida. As improvisações continuam ali. Não trabalho com cartilhas. Meu olhar se interessa por estes acasos e espelhamentos. Os acontecimentos em Manaus modificaram a forma de editar os capítulos finais, sim. Senti a necessidade de incorporar à decadência, já posta no romance, a reflexão machadiana de que “o progresso já nasce em ruínas”. A edição se tornou mais crítica e política ao refletir o tempo que passa e sua ideia de progresso."
Baseada no romance de Milton Hatoum, a série foi adaptada pela roteirista Maria Camargo.