O Planeta TV

Conheça todos os núcleos de "Travessia"

A novela estreia na próxima segunda dia 10.

por Redação, em 07/10/2022

Conheça todos os núcleos de "Travessia"

Dramas humanos, encontros, desencontros, amores, decepções, ambição. Uma trama que mostra que viver pode ser um desafio, com obstáculos, mas, também, com superação e alegrias. E que a grande beleza do destino é sempre encontrar formas de seguir adiante. É com esses elementos que ‘Travessia’, novela das nove da TV Globo que estreia no dia 10 de outubro, escrita por Gloria Perez e com direção artística de Mauro Mendonça Filho, promete emocionar, divertir e fazer refletir.    

Velhos conhecidos da humanidade, os boatos, as intrigas e os fuxicos sempre foram capazes de promover estragos e mudanças de rumo na vida das pessoas. “A internet e as redes sociais ampliaram esse poder e a informação maliciosa já não fica mais restrita ao boca-a-boca. Agora, ela se propaga rapidamente e sem limites geográficos”, fala Gloria Perez. E é este o ponto de partida da história: uma deepfake (inteligência artificial usada para fazer montagens substituindo rostos e vozes em vídeos realistas) produzida aleatoriamente e divulgada nas redes sociais.   

Em Portugal, um grupo de jovens faz uma montagem, de brincadeira, em um vídeo, sem avaliar o quão prejudicial ela pode ser. Do outro lado do mundo, no interior do Maranhão, essa ação impacta e transforma radicalmente a vida de Brisa (Lucy Alves), que se vê obrigada a encarar uma longa e complexa jornada para recuperar sua identidade e sua vida de volta. Marca da autora Gloria Perez, ‘Travessia’ é um folhetim clássico, e a trama, dessa vez, mostrará os limites éticos e morais – ou a falta deles – em um mundo que ainda aprende a lidar com o ônus e o bônus trazidos pela internet.   

Gloria destaca que suas histórias têm o intuito de divertir, envolver através da emoção e, também, fazer pensar sobre alguns temas. Além disso, é muito comum nas obras da autora trazer para a dramaturgia protagonistas fortes. “A Brisa é exatamente assim: intensa, cheia de personalidade e atitude, também de muita ternura e alegria. Tendo ficado órfã muito cedo, cresceu nas casas de um e de outro, aprendendo a se virar sozinha, a se defender sozinha. Tem a força e as carências dos sobreviventes. Como todas as minhas protagonistas, vai enfrentar os obstáculos com os quais terá que lidar em sua travessia, com os erros, acertos, a coragem e as fragilidades que fazem parte da complexidade humana”, adianta.    

Mauro Mendonça Filho conta que, além de uma trama central contundente, “Travessia’ traz assuntos que mexem com as pessoas através de personagens cativantes. É uma novela com emoção, romance, drama, humor, música e beleza”, descreve. O diretor artístico da obra acrescenta que, mesmo com temas relacionados aos avanços do mundo digital, que ainda são pouco conhecidos, o público não verá uma obra cheia de efeitos ou computação. “O foco da novela está no humano, no quanto o uso desenfreado de internet, celular, redes sociais, robôs e inteligência artificial têm alterado as relações e o comportamento das pessoas. A história se desenvolve no eixo Maranhão–Rio de Janeiro–Lisboa, com todas as matizes e diferenças culturais de cada lugar bem esclarecidas, mas aproximadas pelo uso da tecnologia. Como sempre, Gloria abordando assuntos relevantes e de identificação universal”, destaca.   

Em ‘Travessia’, a verdade nunca se rende. Criada e escrita por Gloria Perez, a novela tem direção artística de Mauro Mendonça Filho, direção de Walter Carvalho, Andre Barros, Mariana Richard e Caio Campos. A produção é de Claudio Dager e Tatiana Poggi; e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.     

Onde a travessia começa: o Maranhão    

No interior do Maranhão, às margens dos Lençóis Maranhenses, cresceram Ari (João Bravo/Chay Suede) e Brisa (Mariah Yohana/Lucy Alves). Ele, filho adorado de dona Núbia (Drica Moraes), uma comerciante local que destinou todas as economias para dar ao menino condições de galgar um futuro melhor. Ari estudou, formou-se em Arquitetura e, incentivado por Dante (Marcos Caruso), seu professor e mentor desde a infância, dedica-se à defesa do patrimônio histórico maranhense. Já Brisa é uma jovem que cresceu órfã e tirou desta ausência forças para se tornar uma mulher determinada e batalhadora. Ela pulsa a cultura de seu estado: dança em rodas de Tambor de Crioula e se apresenta em grupos de Bumba Meu Boi. Não tem medo do trabalho, ganha a vida como lavadeira, e encara o que for preciso para garantir seu sustento.    

Na adolescência, Ari e Brisa eram sinônimo de implicância mútua. Mas, aos poucos, o coração falou mais alto e eles engataram um romance. Puro e despretensioso. Pelo menos no início. As coisas aceleram quando eles descobrem que estão esperando um bebê. Quando começa ‘Travessia’, Ari e Brisa – e o filho do casal, Tonho (Vicente Alvite) – já moram juntos há alguns anos e estão prestes a oficializar o casamento.    

Quem não gosta nada disso é Núbia. Para ela, o filho “estudado” e promissor merecia coisa melhor do que gastar com esse casamento o tempo e o dinheiro que poderia estar usando para ser um homem bem-sucedido na capital São Luís, onde se formou. Brisa não entende, já que é ela quem topa qualquer trabalho para manter a família, enquanto Ari se aprimora em sua tese de doutorado.    

Os lamentos de Núbia sobram para Adalgisa (Priscilla Vilela), sua amiga e fiel escudeira. E ela cumpre bem a função de manter a comerciante informada sobre todas as fofocas da região. Brisa, por outro lado, encontra apoio em Tininha (Gabrielly Mota/Camila Rocha), sua amiga de infância, que sabe acolher e encorajar Brisa na medida certa. É ela quem conhece as reais aflições da amiga, que só deseja viver uma vida feliz ao lado de seu amado e de seu filho.   

A ideia da festa de casamento de Ari e Brisa parece simples, não fosse uma oportunidade que pode virar a vida do casal: uma chance de Ari viajar para o Rio de Janeiro. Lá, ele poderá investigar mais de perto os passos da construtora Guerra, que está planejando derrubar um dos casarões históricos do Maranhão e construir no lugar um moderno shopping center – projeto que ele está decidido a combater. E ainda poderá reencontrar o professor Dante, que está na cidade para um tratamento de saúde. Dante é para Ari uma referência. E o professor, por sua vez, vê o jovem como seu sucessor na luta pela preservação do patrimônio maranhense.    

Mas a viagem, que tinha tudo para ser promissora, vira um imbróglio. Brisa, que apoia e confia nos planos de Ari, topa adiar a data do casamento, só que ele demora tempo demais em terras fluminenses e passa a dar cada vez menos notícias. Ela estranha o comportamento e, preocupada, decide ir atrás do “namorido”. Quando está na rodoviária de São Luís, prestes a embarcar, se vê em meio a uma grande confusão. Trata-se de uma deepfake. Um vídeo foi editado de maneira irresponsável, do outro lado do mundo, e o rosto de uma criminosa foi trocado pelo seu. O material viraliza nas redes sociais e, a partir deste momento, atravessa de maneira transformadora a vida da jovem.   

deepfake que vira a vida de Brisa de ponta cabeça    

Em Portugal, um grupo de jovens faz uma manipulação de imagem em um vídeo, trocando o rosto de uma mulher que corre com uma criança no colo, que identificam como uma sequestradora caçada pela polícia, por outro rosto escolhido de forma aleatória. É Brisa. E como na internet as coisas parecem se espalhar na velocidade da luz, a história ganha nas redes contornos mais dramáticos, sendo acrescentadas novas informações no boca-a-boca. Prestes a pegar um ônibus com destino ao Rio de Janeiro para reencontrar seu amor, a maranhense é reconhecida na rua. Logo a informação se espalha e, em efeito cascata, Brisa é cercada. Há muita tensão e ela ainda não entende o que está acontecendo. Precisa sair daquela cena de terror.     

É nesse momento que o destino de Brisa cruza com o de Oto (Romulo Estrela), um hacker, sem endereço fixo, meio nômade, que está em uma missão secreta em São Luís. Sua estada na cidade deve ser o mais invisível possível, por isso ele se assusta ao se deparar com aquele tumulto no meio da rua. Além dos ânimos inflamados das pessoas, já há policiais no local e até emissora de televisão fazendo a cobertura. Oto precisa sair dali rápido e sem chamar atenção. Ele consegue escapar, mas não tem ideia da “surpresa” que está levando consigo: Brisa se esconde no porta-malas do carro de Oto e o pesadelo de ambos começa. Há um clima de desconfiança e antipatia mútuo no ar. E um alto potencial de atração também, embora nenhum dos dois esteja consciente – ainda – disso. Juntos, com toda essa tensão instaurada, eles seguem para o destino final, o Rio de Janeiro.    

Em terras cariocas, Ari já fez amizades e, através delas, conhece Chiara (Jade Picon). Seus horizontes se ampliam e um mundo novo se descortina para ele. Tem sentimentos por Brisa, mas também quer viver as possibilidades que estão aparecendo à sua frente. Em sua cabeça, vive um conflito entre o que acha ser moralmente aceitável e todos os novos sentimentos.    

Já Chiara, embora não dê o braço a torcer, logo se interessa pelo jovem vindo do Maranhão. Ela é uma menina mimada e manipuladora, acostumada a ter tudo o que quer. É a filha de Guerra (Humberto Martins), dono da construtora que quer destruir o casarão histórico de São Luís. Em um primeiro momento, Ari acha que tem tudo sob controle e que, ao se aproximar da jovem, terá a chance de conhecer os bastidores da empresa e conseguir informações para não deixar que o patrimônio histórico seja destruído. Ele tem a ilusão de que pode controlar a situação, mas coração é terra de ninguém e sua relação com Chiara, aos poucos, vai ultrapassando o nível do flerte.   

O que nem ele nem ninguém no Maranhão têm ideia é que Brisa, enquanto isso, enfrenta enormes problemas que podem custar sua própria vida. Antes de ser surpreendida pela tentativa de linchamento, a maranhense avisa para Ari que está indo ao seu encontro no Rio de Janeiro. Mas, subitamente, para de dar notícias. No início, Ari se preocupa com a mãe de seu filho. Ele a procura, sofre com o desaparecimento da moça e se atormenta pela culpa de ter desejado Chiara. Mas o tempo vai passando, informações desencontradas ganham espaço e ele acaba se deixando levar pela atração que sente pela herdeira de Guerra e pela nova vida que vai se desenhando pra ele.    

Os conflitos em torno do casarão histórico   

Foto: Globo/Fábio Rocha

Desde muito novo, Ari (Chay Suede) é um defensor ferrenho do tombamento do patrimônio histórico de São Luís. Por isso, milita na campanha contra o empresário Guerra (Humberto Martins), que há alguns anos tem o projeto de construir ali um shopping center. Uma licitação para a venda de um dos casarões do local acaba de ser aberta e isso mobiliza ainda mais os defensores do tombamento.    

Nessa disputa pela compra do imóvel, Guerra (Humberto Martins) tem um adversário importante: Moretti (Rodrigo Lombardi). As desavenças entre os dois não se limitam aos interesses comerciais. Questões pessoais transformaram os amigos fraternos, e um dia sócios, em inimigos viscerais. Atualmente, Moretti vive em Portugal, onde se dedica à construção civil e remodelamento de prédios antigos. De lá, se manteve em silencio durante muitos anos, observando todos os movimentos do concorrente e esperando o momento propício de atacar. A hora chegou!   

Sem se manifestar, Moretti não deixa transparecer nenhum interesse sobre a licitação. Lançada a concorrência, ele recorre a Oto (Romulo Estrela), seu assessor e pessoa de confiança. A relação dos dois começou alguns anos antes, quando Oto, ainda na faculdade de Direito, chamou a atenção do empresário. O jovem invadiu a conta de um banco e a própria empresa de Moretti. Seu objetivo não era tirar proveito financeiro da ação, mas sim medir forças com sistemas poderosos. Tempos depois, Moretti o contrata e os dois, além de trabalharem juntos, se tornam amigos.    

Então, diante dos riscos que envolvem a operação, Moretti recorre às habilidades do assessor, em vez de contratar alguém conhecido do mercado. A missão de Oto é descobrir, através do hackeamento, os valores apresentados por Guerra na licitação. E ele não pode correr o risco de ser reconhecido ao fazer esse trabalho. Consideram, portanto, que seria menos suspeito ir a São Luís para a missão, já que o sucesso da operação depende de ele não ser reconhecido – um risco que certamente seria maior se ele ficasse em Lisboa ou fosse para o Rio de Janeiro, onde fica a empresa de Guerra.     

Oto é o cara perfeito para a missão. Além de ser leal a Moretti e de total confiança, não possui endereço fixo, indo para onde seu trabalho exige. De forma quase invisível, usando nome falso e sem levantar suspeitas, o rapaz conclui o objetivo. Mas ele não esperava ter seu destino entrelaçado com o de Brisa (Lucy Alves).    

A construtora Guerra e a desavença com Moretti    

Anos atrás, Guerra (Humberto Martins) e Moretti (Rodrigo Lombardi) levantaram a construtora, herança do pai de Guerra. Foram mais que amigos, mas tiveram um abrupto rompimento quando Guerra descobriu que Moretti o havia traído com Débora (Grazi Massafera), mulher com quem pretendia se casar e por quem estava completamente apaixonado. De origem humilde, Débora se acostumou facilmente às mordomias que vieram junto com o noivado.    

Após a briga, Moretti saiu do Brasil com destino à Portugal, onde continuou trabalhando no ramo de construção. Os dois nunca mais se falaram ou se viram, mas o rancor entre eles permaneceu firme, ainda que em silêncio.   

Nesse meio tempo, Guerra se manteve solteiro. Débora, seu grande amor – e grande decepção também – morreu em um acidente logo após a descoberta da traição e o término da relação. Na ocasião, estava grávida de Chiara (Jade Picon), fruto de seu romance com Moretti que, aliás, nunca soube que tem uma filha. Guardando esse segredo, Guerra assume a menina ainda no hospital, logo que Débora morre. Ele é um homem intempestivo, passional, mas também capaz de gestos generosos, mesmo que em um primeiro momento eles sejam em benefício dele mesmo – ou da filha.  

Chiara cresce e se torna uma jovem mimada, por vezes petulante e controladora. Tratada como princesa pelo pai, que sempre fez todas as suas vontades, se sente como tal: tem tudo o que quer e não aceita os nãos que a vida possa vir a lhe dar.    

Neste universo também está Cidália (Cassia Kis), a pessoa que melhor conhece a família Guerra. Assessora, workaholic e aliada de Guerra na construtora, tem, com toda a sua objetividade e clareza de pensamentos, grande influência sobre ele, trazendo-o, muitas vezes, de volta ao prumo, controlando a impulsividade do empresário. Ela guarda o sonho de se tornar sócia da construtora, na qual trabalha desde a fundação, o que garante um empenho extra à sua competência no trabalho. 

 Recém-contratada na Guerra como Assessora de Marketing, Talita (Dandara Nascimento) é quem abre as portas do local para Ari (Chay Suede), sem saber de seu interesse de reunir provas contra seu novo chefe. Ela é a namorada de Gil (Rafael Losso), que acolhe o maranhense quando ele chega ao Rio de Janeiro. É também através de Talita que Ari conhece e se aproxima de Chiara (Jade Picon).  

 Conflito entre irmãs 

 Quando ‘Travessia’ começa, Moretti (Rodrigo Lombardi) está prestes a se casar com Guida (Alessandra Negrini), em Portugal. Os dois se reencontraram há pouco tempo, mas são velhos conhecidos: anos atrás, Moretti foi namorado de Leonor (Vanessa Giacomo), irmã de Guida, que passou uma temporada no exterior emendando cursos e especializações. Guida tem um filho, Rudá (Guilherme Cabral), de quem Leonor é madrinha. Tia e sobrinho têm um relacionamento excelente. Com a mãe, é o contrário: o filho tem pouco diálogo e quase nenhuma intimidade. A relação entre eles fica ainda mais superficial após o casamento, já que Rudá e Moretti têm personalidades muito distintas.   

Há algum tempo sem se ver, o reencontro das irmãs se dá na ocasião do casamento. Leonor viaja para Lisboa para a cerimônia. De personalidade brincalhona, Guida faz suspense sobre quem é o noivo. Ela não faz de propósito. É uma mulher bem-humorada e – até então – tinha certeza de que Moretti era página virada na vida da irmã. Quando Leonor descobre quem é o noivo, um mar de ressentimentos vem à tona. Mágoas antigas e profundas que nunca haviam sido verbalizadas aparecem, e a relação das irmãs, que parecia ser sólida e de cumplicidade, fica muito fragilizada.  

Próxima parada: Vila Isabel 

Voltemos ao Rio de Janeiro, o destino final de Brisa (Lucy Alves) na busca por Ari (Chay Suede). Aos trancos e barrancos, ela chega à capital fluminense. Mas essa travessia é, do início ao fim, espinhosa, dolorida e cheia de intempéries. Quando acha que finalmente retomará o prumo de sua vida e ficará ao lado de seu amor, Brisa descobre que o noivo não está mais no endereço que ela tem anotado desde sua partida. O pesadelo não acabou: Ari se mudou há alguns dias e não há notícias do rapaz pela redondeza. Ela se desespera, está sozinha novamente. Além de não conhecer ninguém na cidade, não tem dinheiro, bolsa ou celular. Perdeu tudo na confusão em São Luís. Marineide (Flávia Reis) trabalha no prédio onde Brisa foi procurar Ari e, ao vê-la, se comove com toda a situação. Mesmo sem conhecê-la, se solidariza e se oferece para levá-la à sua casa, em Vila Isabel. 

O marido de Marineide é Joel (Nando Cunha), garçom do “Encanto da Vila”, bar muito conhecido da região. Ele é boa gente, bem-humorado. Aquele tipo de profissional que conhece cada cliente pelo nome, assim como o gosto de todos eles. Ao ser acolhida por essa família, a vida de Brisa começa a tomar um novo rumo: Joel consegue um trabalho para ela no bar e a moça vai juntando dinheiro para voltar para sua cidade para rever o filho.  

A essa altura, já corre aos quatro cantos de todo o Maranhão que Brisa fugiu do interior, deixou o filho com a avó paterna e foi vista com outro homem pelas ruas de São Luís. Mais uma fake news sobre ela que se espalha. Ari fica sabendo e uma parte dele não acredita na fofoca; enquanto a outra quer muito crer que tenha sido realmente dessa forma, pois assim ele se livra da culpa de estar envolvido com Chiara (Jade Picon).  

Foto: Globo/Fábio Rocha

Enquanto isso, sem ter ideia da nova onda de boatos que se espalhou, Brisa junta dinheiro. Já tem o suficiente para voltar para casa e reencontrar Tonho (Vicente Alvite), mas se surpreende quando chega ao Maranhão e descobre que o menino não está mais com Núbia (Drica Moraes). A pedido de Guerra (Humberto Martins), que quer dominar o novo genro e afastá-lo de seu passado, Ari leva o filho para o Rio de Janeiro. Desesperada, Brisa retorna, determinada a localizar Ari e resgatar Tonho. Novamente em Vila Isabel, ela volta a morar com a família de Joel e a trabalhar no bar. Sua busca pelo filho começa agora. E ela contará com a ajuda da madrinha Creusa (Luci Pereira) e da delegada Helô (Giovanna Antonelli).  

Helô, Stenio e o jogo de gato e rato do ex-casal 

 Velhos conhecidos do público, a delegada Helô e o advogado Stenio (Alexandre Nero) estão de volta. Ao contrário do que se imaginava, o casal não foi feliz para sempre. As divergências novamente falaram mais alto e eles estão separados. Apesar disso, a profissão dos dois sempre os reúne, mesmo que em posições opostas: ela ao lado dos inocentes e ele defendendo os acusados.  

Stenio segue sendo aquele advogado que não julga o cliente e defende sua inocência com a garra e a paixão de quem acredita, realmente, nela, até mesmo lançando mão de meios pouco ortodoxos, caso necessário. Agora, ele tem uma sócia, a também advogada Laís (Indira Nascimento). Ela é casada com Monteiro (Aílton Graça), um professor de história que não aceita ver que sua filha adolescente, Isa (Duda Santos), cresceu e quer criar asas. Os dois também são pais de Theo (Ricardo Silva).  

Já Helô (Giovanna Antonelli) agora tem mais uma especialização: crimes digitais. E acaba de assumir uma nova delegacia. Essencialmente, permanece a mesma mulher incorruptível, com inabaláveis valores éticos e morais, forte e determinada na repressão ao crime. Na nova delegacia, ela trabalha com a investigadora Yone (Yohama Eshima). Passará por lá a disputa envolvendo Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede) por Tonho (Vicente Alvite), entre outros casos que servirão como pano de fundo para muitos desentendimentos e reviravoltas na vida do ex-casal #Steloisa.  

Primeiras gravações de Travessia: Portugal e Maranhão 

‘Travessia’ começou a ser gravada em julho deste ano e o pontapé inicial para esta jornada foi dado do outro lado do Atlântico. Durante uma semana de trabalho intenso, cartões postais de Lisboa como os famosos bairros do Chiado e Arroios, além das cidades de Setúbal e Óbidos, serviram de locações para a trama e de aquecimento para as primeiras trocas no set entre elenco, direção e equipes de produção da novela. Por lá passaram os atores Vanessa Giacomo, Alexandre Nero, Romulo Estrela, Rodrigo Lombardi e Guilherme Cabral.  

“Portugal é, certamente, um dos lugares mais interessantes da Europa e que se desenvolveu lindamente. Filmamos nos espaços mais cheios e icônicos de Lisboa, como a Praça do Comércio, a Praça Luís de Camões, o Garrett, o Elevador de Santa Justa. Também fomos a Óbidos, um lugar lindíssimo, medieval, e estivemos na Quinta da Bacalhoa, uma vinícola num casario bastante antigo de Setúbal”, detalha o diretor artístico da obra, Mauro Mendonça Filho. Os espaços ambientaram parte da trama do casamento de Guida (Alessandra Negrini) e Moretti (Rodrigo Lombardi), além das cenas da criação da deepfake que muda completamente os rumos de Brisa (Lucy Alves). 

De volta ao Brasil, a equipe começou a filmar externas no Rio de Janeiro e, em agosto, um time com cerca de 120 profissionais desembarcou no Maranhão, onde ficou por quatro semanas, gravando e mergulhando na cultura local do estado onde começa a trama de ‘Travessia’. Ao todo, foram mais de 30 locações para as gravações, que aconteceram não só pelas ruas de São Luís e no Centro Histórico da capital, mas também nos Lençóis Maranhenses e na praia de Atins. Além dos protagonistas Lucy Alves, Chay Suede e Romulo Estrela, também filmaram por lá os atores Marcos Caruso, Drica Moraes, Priscilla Vilela, Camila Rocha, João Bravo e Mariah Yohana.  

As margens dos Lençóis Maranhenses aqueceram os primeiros encontros de Brisa e Ari (Chay Suede), emprestando às cenas, que vão da infância à juventude do casal, as características típicas de um vilarejo interiorano, onde os dois personagens nasceram e foram criados. Já no Centro Histórico houve o encontro do elenco com a cultura pulsante do estado, um patrimônio a céu aberto que coloriu as imagens registradas para a novela e tornaram ainda mais palpáveis as motivações dos personagens que lutam pela preservação daquele ambiente. Casas de grupos de Tambor de Crioula, igrejas e casarões históricos, ruas e cruzamentos que fizeram parte da origem de São Luís foram visitados e receberam as equipes, acrescentando ainda mais riqueza à parte visual da novela.  

 A ida ao Maranhão enriqueceu também a composição da personalidade e linguagem dos personagens oriundos do estado. Os atores ouviram e viveram os sotaques, tradições e costumes dos moradores de São Luís, se familiarizando com o povo que representam na trama e entendendo mais sobre sua história. A produção de arte também fez um intenso mergulho no acervo e comércio maranhense, e vários dos objetos presentes nos cenários de Brisa e Núbia (Drica Moraes) – filmados no Maranhão e, depois, construídos nos Estúdios Globo – foram adquiridos de produtores locais. 

Dando ainda mais vida ao texto de Gloria Perez, grupos de Tambor de Crioula e Bumba meu Boi do Maranhão foram não só fonte de inspiração, estudo e pesquisa para ‘Travessia’ como parte integrante da novela. Eles participaram das gravações entoando cantos e danças, que tiveram início na tradição maranhense no século XVIII e, desde então, encantam o mundo todo pela potência e exuberância que representam.              

Gravar no estado era um desejo antigo da autora, que se apaixonou pela região desde os primeiros momentos de sua pesquisa para a trama. “Sempre tive muita curiosidade pelo Maranhão. É um estado que tem uma cultura muito própria, muita personalidade, até pela sua formação: começa com uma ocupação francesa, depois vêm os holandeses e depois é que chegam os portugueses. Além disso têm ali os indígenas, os africanos e toda essa mistura resulta em um caldo cultural muito rico, que se expressa através do folclore, da arte, da música, da dança”, explica Gloria Perez.  

Rio de Janeiro, Maranhão e Portugal em mais de dez mil metros quadrados de área construída 

Para retratar os cenários de ‘Travessia’ foram implantadas, em uma área de mais de 7 mil metros quadrados dos Estúdios Globo, as cidades cenográficas da novela. Os espaços reproduzem o bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro, e parte do Maranhão – mais especificamente, a venda de dona Núbia (Drica Moraes). Além disso, são mais de 3 mil metros quadrados de cenários de estúdio, sendo mil deles de cenários fixos. Toda a diversidade desses espaços atende aos diferentes núcleos da trama. Ao todo, mais de 300 pessoas estiveram diretamente envolvidas na concepção e execução desses projetos, desde as áreas de cenografia, produção de arte, fotografia, análise de projetos e planejamento à fabricação e montagem de cenários.  

Em Vila Isabel, um dos ambientes mais desafiadores para a equipe foi a reprodução do bar “Encanto da Vila”. A cenógrafa Cleo Megale destaca também a riqueza de detalhes do comércio de Núbia, que fica na parte construída da cidade dedicada ao interior do Maranhão: “Foram vários desafios na construção de nossas cidades cenográficas, mas o maior deles foi a reprodução de um autêntico bar de Vila Isabel, onde artistas populares, eventualmente, participarão no decorrer da novela. A fachada e o interior do bar, rico em detalhes, nos remetem ao universo boêmio do bairro”. Nininha Medicis, produtora de arte de ‘Travessia’, também destaca as particularidades do bar. “Fizemos uma imersão em Vila Isabel para entrar no universo boêmio do bairro. O ‘Encanto da Vila’ está lindo, montamos uma cozinha completíssima, onde nossa protagonista trabalhará”, revela.   

Já para a criação da venda de Núbia, a equipe fez uma vasta pesquisa nos vilarejos dos Lençóis Maranhenses para retratar a arquitetura, hábitos e costumes locais. “Sendo a única venda do vilarejo, o comércio oferece todo tipo de mercadoria, incluindo artesanato local, redes e rendas de bilro, tornando o espaço rico em detalhes. Na viagem ao Maranhão compramos muito elementos locais para compor tanto a venda e a casa da Núbia, como também a casa de Brisa”, conta Nininha.  

Nesse início, os ambientes construídos em estúdio representando os núcleos do Maranhão, temos as casas de Brisa (Lucy Alves) e de Núbia (Drica Moraes). Entre os cenários do Rio de Janeiro estão o apartamento e a construtora de Guerra (Humberto Martins), a delegacia e apartamento de Helô (Giovanna Antonelli), o apartamento e escritório de Advocacia de Stenio (Alexandre Nero) e Laís (Indira Nascimento), além do apartamento dela com Monteiro (Ailton Graça), o apartamento de Gil (Rafael Losso), a quitinete de Dante (Marcos Caruso) e o apartamento de Tia Cotinha (Ana Lucia Torre). Também foram construídos a casa de Moretti, no Rio (Rodrigo Lombardi), e o apartamento do personagem em Portugal. “Nas montagens dos cenários procuramos sempre dar a cara de cada personagem. Stenio é um cara vaidoso e que tem mania de arrumação, sua casa é milimetricamente arrumada e seu banheiro lotado de produtos de beleza. Já Helô é um pouco mais relax, gosta de coisas pessoais, mas sua casa tem um quê de elegância, já que foi montada quando ela ainda era casada com o advogado, mas com um pouco de relaxamento. Já Guerra e Moretti possuem casas elegantes, com elementos modernos, ostentando riqueza”, exemplifica Nininha.  

Para retratar em estúdio o regionalismo das casas de Brisa e Núbia, no interior do Maranhão, a cenógrafa Cleo Megale conta que os projetos foram elaborados a partir de pesquisas dos elementos característicos do local. “Uma equipe foi ao Maranhão para conhecer e vivenciar os costumes, a vida no local e quais tipos de materiais e mobiliários são usados nas casas e estabelecimentos comerciais”. Nininha Medicis complementa: “O universo do Maranhão é muito rico. Trabalhamos muito com material e comidas locais, e usamos as cores vivas do Bumba Meu Boi e do Tambor de Crioula”. A produtora de arte conta ainda que sua equipe produziu mais de 2 mil metros de bandeirinhas, além de almofadas de bilro e as embalagens de comidas e bebidas locais.  

 Já para mostrar a grandiosidade da Guerra Construtora, alguns elementos foram fundamentais: “A construtora é um cenário importante na trama da novela. Os espaços foram pensados de maneira que expressem imponência, através do pé direto duplo e estrutura metálica marcante, caracterizando o interior de uma grande empresa”, destaca Cleo Megale. Ela ainda detalha que os cenários fixos nos estúdios do MG4 foram construídos com materiais e revestimentos verdadeiros, o que traz mais realidade aos espaços. “Um exemplo disso é a utilização de porcelanatos de grandes formatos, placas de 1,20x2,80m, no cenário do apartamento de Guerra”, cita a cenógrafa. 

O visual ajudando a contar a história  

Em ‘Travessia’, Fernando Torquatto e Rachel Furman, dupla que assina a caracterização da trama, mergulhou no texto para criar a identidade visual de cada um deles. “É um quebra-cabeças, porque a gente não pode pensar nos personagens individualmente. Temos um olhar 360 sobre a trama, os núcleos e a vivência de cada um para irmos pensando como esses personagens serão”, conta Torquatto.  

Durante as preparações, houve diferentes processos que geraram resultados que acompanham a história dos personagens. Para Brisa (Lucy Alves), por exemplo, a dupla buscou um frescor, mantendo as características locais maranhenses, mas dando também uma pegada contemporânea ao visual da protagonista. Foram usados tons acobreados e dourados tanto no cabelo quanto na maquiagem. Brisa traz os fios bem compridos, que geram movimento de acordo com as expressões corporais da atriz. 

Leonor (Vanessa Giacomo), por outro lado, é uma personagem que passou anos fora do Brasil e conhece vários lugares do mundo. Por isso, precisava ter um visual prático, cosmopolita. Fernando e Rachel conversaram com a intérprete, mostraram referências e, na hora da caracterização, Vanessa Giacomo topou o corte bem curtinho. “Desenhamos os personagens de acordo com sua vivência, e a personalidade do que foi escrito para eles, dando pinceladas que mostram, de alguma forma, o mood de cada um”, justifica Torquatto.  

A dupla também aposta em algumas tendências que acreditam que vão encantar o público: os detalhes em metais aplicados próximo aos olhos na maquiagem de Chiara (Jade Picon) e as unhas da delegada Helô (Giovanna Antonelli). “Chiara não usará nada de delineador, e a atriz também cortou os fios. A personagem mostra a quintessência da juventude de hoje em dia, é uma jovem que não quer ser igual às outras meninas, com muito senso de estilo e personalidade. Apostamos nos metais ouro rosé para ela, que vão dar um toque jovem à personagem”, diz o caracterizaador. “Quando Jade Picon experimentou o acessório pela primeira vez disse na hora: ‘Vai virar trend’”, lembra a dupla, aos risos. 

Sobre Helô, eles adiantam: “A delegada mantém seu DNA marcante, mas chega, dez anos depois, trazendo algumas novidades. Está ainda mais exuberante, com o cabelo mais longo, bem quente, em um tom caramelo queimado que, acredito, vai virar moda. Além disso, ela usará unhas pontudas, pintadas de transparente, mas com as pontas coloridas que também farão sucesso”.  

Mais uma das preocupações de Rachel e Torquatto foi manter a continuidade das cenas. Para isso, o elenco masculino da novela precisa cortar os cabelos, em média, a cada 15 dias. Os cortes são diferentes: enquanto Moretti (Rodrigo Lombardi) ostenta um cabelo mais comprido, com topete, refletindo seu ar bon vivant, por exemplo, Oto (Romulo Estrela) tem os fios mais curtinhos e com um detalhe em rebaixo nas laterais – um estilo mais descolado para um hacker que já visitou vários países ao redor do mundo. 

Entrevista com a autora Gloria Perez 

 Formada em História pela UFRJ, Gloria começou sua carreira como autora de telenovelas, em 1983, com a função de colaboradora de Janete Clair em ‘Eu prometo’. Com o falecimento da autora titular, assumiu a responsabilidade e levou a história até o fim, com a supervisão de Dias Gomes. No ano seguinte, assinou sua primeira novela como titular, em parceria com Aguinaldo Silva, ‘Partido Alto’. É autora de várias novelas de sucesso, como ‘Barriga de Aluguel’ (1991), ‘Explode Coração’ (1995), ‘O Clone’ (2001) e ‘América’ (2005). Suas produções já lhe renderam diversos prêmios. ‘Caminho das Índias’ (2009) foi a primeira produção nacional a ganhar o prêmio Emmy Internacional de melhor telenovela. Gloria assinou também as minisséries ‘Desejo’ (1990), ‘Hilda Furacão’ (1998) e ‘Amazônia – De Galvez a Chico Mendes’ (2007). Em 2012, escreveu a novela ‘Salve Jorge’, e, em 2014, estreou o seriado ‘Dupla Identidade’. Uma marca dos trabalhos de Gloria Perez são as temáticas de alcance social que introduz em suas obras. Crianças desaparecidas, dependentes químicos, saúde mental e tráfico humano são alguns assuntos já abordados, com ampla repercussão. Toda a trama - e a repercussão dela - contra as drogas em ‘O Clone’ foi premiada nos Estados Unidos pelo FBI e pelo DEA, departamento responsável pela repressão a crimes relacionados ao tráfico de drogas. Em ‘A Força do Querer’ (2017), a autora abordou a questão do gênero e a compulsão por jogo, entre outros assuntos. Em ‘Travessia’, será a vez de falar sobre acessibilidade. 

Já é uma marca as suas obras sempre trazerem assuntos potentes e diversos também... 

Num âmbito geral, minhas novelas são histórias escritas com o intuito de emocionar, envolver as pessoas através da emoção, divertir e fazer pensar, refletir sobre alguns assuntos. Sempre tenho a preocupação de trazer temas relevantes e que gerem debates e reflexões; questões com muita força de interesse do público.  

Como nasce a história de ‘Travessia’?  

O ponto de partida da nossa história é uma deepfake que acaba por transformar radicalmente, num efeito dominó, a vida de algumas pessoas. A novela vai tratar de como a internet introduz, no nosso cotidiano, dramas novos, conflitos que as gerações anteriores não viveram e que dão um formato muito novo àqueles que conhecemos desde sempre como a calúnia, a extorsão, o assédio, a chantagem, e tantos outros mais. Vamos falar da inteligência artificial trazendo grandes benefícios e, ao mesmo tempo, deixando pessoas desempregadas. Também de como as redes sociais, dando voz a todos e possibilitando encontros inviáveis na vida real, funcionam como perigoso mecanismo de controle e abrem portas para novas modalidades de crimes. A internet inaugura maneiras de viver as amizades, os romances, o sexo... A aposta é que esse pano de fundo, mostrando como todas essas inovações são vividas no cotidiano das pessoas, seja um poderoso chamariz para despertar a atenção do público que vive e convive com os dramas e conflitos relatados pela novela. Além de funcionar como alerta para as muitas ciladas embutidas no encanto da vida virtual.

A novela fala de amor, encontros e desencontros, de ambição... Desse pano de fundo que a internet traz pra vida das pessoas. Como é mesclar todos esses assuntos? Isso é uma característica muito sua, das suas obras. O público já espera que venha também algum tema superatual...  

Todos os meus personagens têm histórias e, por meio delas, vamos levantando algumas questões, como o embate do homem com a máquina – um assunto pesado, mas que vai ser mostrado de uma forma mais leve, com humor, ao mesmo tempo que leva à reflexão. Quem quiser pensar sério sobre o tema, pensa. Quem não quiser, apenas ri da situação. Outra situação que vamos abordar é o assédio pela internet, um drama atualíssimo do nosso mundo moderno. Vamos explorar quantos conflitos humanos novos a internet criou. A cada avanço da tecnologia, novos conflitos. A contemporaneidade da tecnologia serve como pano de fundo afetando a vida de todos, todos os núcleos são afetados por isso. É essa a vida que nós estamos vivendo hoje.  

A história se passa no Rio de Janeiro e também tem uma ambientação no Maranhão, de onde vem a protagonista, Brisa. Há ainda o núcleo de Moretti em Portugal. Como se deu a escolha desses locais?  

A novela tem como cenário o Maranhão, o Rio de Janeiro e Portugal, em pesos diferentes. Rio de Janeiro e Maranhão estão muito equilibrados. Sempre tive muita curiosidade pelo Maranhão. É um estado que tem uma cultura muito própria, muita personalidade, até pela sua própria formação: começa com uma ocupação francesa, depois vêm os holandeses e depois é que chegam os portugueses. Além disso têm ali os indígenas, os africanos e toda essa mistura resulta em um caldo cultural muito rico, que se expressa através do folclore, da arte, da música, da dança. Aqui no Rio, escolhi um lugar para situar o coração da novela, que é Vila Isabel: um bairro que tem muito a personalidade da cidade, musical, alegre, com uma tradição cultural também muito interessante. Já Portugal é a referência de um brasileiro que sai do Brasil para fazer sua vida em outro país, algo que está acontecendo muito. Não vou mostrar a cultura portuguesa dessa vez. O que faz sentido para essa história é que esse personagem, Moretti (Rodrigo Lombardi), que tinha que sair do país, vá trabalhar em outro lugar. E Portugal me pareceu como sendo muito viável, até mesmo pela profissão dele, que é construtor. 

A história de Brisa é árdua. Ela está prestes a se casar e vê sua vida virada de cabeça para baixo por conta de uma deepfake. Precisa recuperar sua identidade. Conta um pouco sobre essa mocinha.  

Brisa vai passar por uma situação horrorosa, mas uma característica dela – assim como das minhas protagonistas, sempre – é ser uma mulher altiva, forte. Que enverga, mas não quebra! A Brisa é exatamente assim: intensa, cheia de personalidade e atitude, também de muita ternura e alegria. Tendo ficado órfã muito cedo, cresceu nas casas de um e de outro, aprendendo a se virar sozinha, a se defender sozinha. Tem a força e as carências dos sobreviventes. Como todas as minhas protagonistas, vai enfrentar os obstáculos com os quais terá que lidar em sua travessia, com os erros, acertos, a coragem e as fragilidades, que fazem parte da complexidade humana. Ela nem entende por que sua vida vira de cabeça para baixo. Vítima de uma deepfake, ela é quase linchada por uma situação que não entende. E ela, claro, fica apavorada. Pede socorro no carro de um homem que ela acha que também está sendo procurado pela polícia e ela não sabe por quais crimes. Consegue chegar ao Rio de Janeiro, onde não conhece ninguém além do Oto. A polícia está atrás dela, e ela acaba sendo presa com uma arma na mão. Ela está tão amedrontada que não diz sequer o nome na delegacia por medo da situação ficar pior. E ainda fica sem comunicação com ninguém, porque a bolsa dela é roubada e hoje em dia ninguém decora número nenhum de telefone. Brisa é uma mulher muito forte, mas que vai passar por toda essa situação. E o que vai defini-la como forte não é cair, mas saber levantar. Eu disse isso para a Lucy (Alves, protagonista): se você nunca caiu, nunca foi derrubada por uma situação vivida, como vai saber que é forte? A Brisa é testada pela vida de cara. E levanta, para lutar. Ela sabe levantar!  

Você costuma acompanhar o processo de início dos trabalhos com o elenco, faz visitas ao set? Costuma fazer parte do processo, desde a preparação até gravações?  

 Me envolvo muito! Converso pessoalmente com os atores, com o diretor, acompanho as leituras. A primeira leitura que fizemos desta novela foi muito boa! Ali já encontramos um tom muito bacana e, de cara, já gostei muito do que vi. Também estive nos Estúdios Globo no primeiro dia de gravações, e acompanhei algumas outras depois. 

E você ajudou na escolha do elenco? Temos grandes nomes nessa obra, um trio de protagonistas jovem, mas já muito conhecido do público, e também grandes apostas. 

Me envolvo na escalação, sim. Fui eu que escolhi a Lucy, por exemplo, gosto muito dela desde que a vi no ‘The Voice Brasil’ e, a partir dali, já queria fazer uma novela com ela. Em cada ator, nós, autores, temos que reconhecer que ele é como um instrumento. Eu tenho uma partitura, que no caso é a personagem, e o ator tem que corresponder àquilo. Se, por acaso, o ator não corresponde ao que você imaginou para ele, você tem que aceitá-lo e ter tempo de adequar o papel às características dele. O autor tem tudo a ver com o elenco. E tem que se apaixonar pelo ator para escrever para ele. Assim como o diretor, que vai ter que conviver com o talento diariamente. Tem que ser uma escolha alinhada, em concordância, uma coincidência de escolha. Porque se um dos dois não concordam, não dá certo.  

como você descreve sua parceria com o Mauro Mendonça Filho?  

Somos uma dupla acelerada, louca! (risos). É meu segundo trabalho com Maurinho, mas a primeira novela. O primeiro trabalho foi ‘Dupla Identidade’.   

Falando ainda em elenco, alguns personagens de Salve Jorge como Helô, Stenio e Creusa estão de volta em ‘Travessia’. Como é a continuidade desses personagens na nova novela?  

Eles voltam e os três estão envolvidos, de alguma forma, na história central da deepfake, que vai perseguir a protagonista durante a novela. Helô, Stenio e Creusa são personagens que ficaram muito impressos na imaginação das pessoas e, constantemente, me pediam de volta. E eu tinha uma história onde necessariamente teria que ter um advogado e a polícia. Lembrei dos dois e achei que seria um charme trazê-los! Eles têm uma função na história central e que combina com o temperamento e com a relação deles. Se na vida pessoal eles têm um vínculo, estão unidos através do afeto, no âmbito profissional estão sempre batendo de frente. Unido a eles, trouxemos Creusa, divina com seu “Donelô”, que é a madrinha da protagonista, de volta à casa da delegada e querendo unir novamente esse casal que, agora, está separado.  

A dança também é uma marca muito particular das suas tramas. Conte um pouco sobre isso.  

A dança de salão não pode faltar nas minhas novelas! Com o fim da Gafieira, que era um cenário lindo, não quis substitui-la em ‘Travessia’ por um quadrado ou um cenário qualquer. Então, aproveitando o bar de Vila Isabel, pedi para Maurinho fazer um calçadão. Ali sempre estará tocando alguma música. A ideia é que as pessoas dancem ali.  

Entrevista com diretor artístico Mauro Mendonça Filho 

Mauro Mendonça Filho estreou na direção em 1990 com a minissérie ‘A.E.I.O. Urca’, de Doc Comparato e Carlos Manga. Antes disso, exerceu funções de editor de vídeo e assistente de direção em inúmeras novelas, incluindo ‘A Gata Comeu’ e ‘Vale Tudo’. Há 35 anos na Globo, Mauro Mendonça Filho tem formação em Comunicação, Cinema, Artes dramáticas e Direção de Teatro. Dirigiu ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’, ‘Gabriela’, ‘O Astro’, ‘Dupla Identidade’, ‘Amor à Vida’ e a série ‘Vade Retro’, e, mais recentemente, foi o diretor artístico de ‘O Outro Lado do Paraíso’, em 2017. Por ´Verdades Secretas’ e ‘O Astro’ recebeu o prêmio Emmy Internacional nas edições de 2016 e 2012, respectivamente. É o único diretor de TV no Brasil que conquistou duas vezes a estatueta. 

O pontapé inicial das gravações de ‘Travessia’ foi dado em Portugal. Como foi gravar por lá?  

As filmagens correram superbem, com locações ótimas. Filmamos nos espaços mais cheios e icônicos de Lisboa, como a Praça do Comércio, a Praça Luís de Camões, a rua Garrett, o Elevador de Santa Justa. Também fomos a Óbidos, um lugar lindíssimo, medieval, e estivemos na Quinta da Bacalhoa, uma vinícola num casario bastante antigo de Setúbal. Portugal é uma cidade deliciosa, um dos lugares mais legais da Europa, muito solar, muito alegre. Com uma noite maravilhosa e uma gastronomia deliciosa. Lisboa é deslumbrante, com uma arquitetura linda. A gente se sente em casa, falando português. Para a equipe toda isso é um sossego. E brasileiros e portugueses se gostam demais! A relação é muito cortês, com algumas diferenças evidentes, mas semelhanças muito grandes também. Ao fim daquela semana de gravações, ficamos muito felizes porque conseguimos realizar tudo o que tínhamos previsto nos roteiros. Foi um excelente start com o elenco e equipe, em uma atmosfera muito boa.  

A trama de ‘Travessia’ começa no Maranhão. Como se deu a escolha do estado e das locações que vocês usaram para gravar a novela? E qual foi o desafio nessa temporada maranhense? 

O Maranhão foi uma escolha da Gloria. Um estado com uma riqueza cultural imensa, não só em termos geográficos, mas de colonização, arquitetura, do folclore, das festas populares. É ela que estamos trazendo através do Bumba Meu Boi, uma festa que representa a pura formação do homem brasileiro, por índios, brancos europeus e o escravizado africano, uma celebração muito antiga, do imaginário daquele povo, e lindíssima. Tem também a festa do Tambor de Crioula, de influência africana, igualmente maravilhosa. E tem as riquezas naturais que são um absurdo, um dos lugares mais lindos que eu já fui. As regiões de Atins, Lençóis, Mandacaru e Barreirinhas são deslumbrantes, mágicas, quase futuristas de tão impressionantes. E tem também a arquitetura do Maranhão. São Luís tem influência portuguesa, francesa, holandesa, a maior preservação de azulejos de toda a América Latina. Deslumbrante! Tem hora que você até pensa que está em Portugal, de tanto azulejo que vê. Além de lindo, com toda essa riqueza cultural, tem um povo muito gentil, muito cortês, muito educado. Quanto aos desafios, o maior deles foi chegar aos locais, porque a boa locação nunca está na beira da estrada. A gente teve que correr atrás dela! (risos). Mas tivemos muita colaboração do povo maranhense. 

O que você tem priorizado na direção desta obra para garantir a unidade visual da trama? Quais são os diferenciais de ‘Travessia’? 

Em histórias realistas, ainda mais no universo da Gloria Perez, é preciso ser muito fiel ao que ela propõe. Acredito que a essência central da história te leve à uma estética. Tem um colorido no Maranhão muito bonito. Os dramas não precisam abrir mão da alegria e da leveza visual para serem contados. A natureza abundante também traz essa leveza. Aproximei um pouco mais as lentes das pessoas. Evitei os desfocados para ver bem o entorno. No Rio de Janeiro, nós, cariocas, somos resilientes na manutenção do bom humor – uma das nossas maiores virtudes.

Como foi a escalação do elenco? 

No fim das contas a gente acaba sendo escolhido pelo elenco. Eles são tão legais, tão incríveis... E quando a gente convida e eles aceitam, me sinto também sendo escolhido por eles, em uma relação recíproca. Adoro ator, sou filho de atores e adoro estar com eles. Gosto de fazer o que gosto de assistir. Quem me leva, como público, para um lugar que faz meu coração bater diferente é a emoção de grandes atores. E temos um elenco com grandes atores comprometidos, de alto nível.  

É a estreia de Lucy Alves como protagonista em uma trama inteira. Como tem sido trabalhar com ela? 

Eu já havia trabalhado com Lucy, ela como cantora. E ela chega agora como protagonista. Lucy é de João Pessoa, adoro aquela terra. Pessoal da Paraíba tem uma erudição, uma consistência impressionante. Atores, grupos de teatro, artistas da Paraíba são muito bons, sempre muito verdadeiros, intensos. Lucy traz essa tradição do paraibano, de ser verdadeira, trabalhadora, honesta, sincera, sem muita vaidade; ela vai fundo nas coisas. Ela é uma estrela da música, já fez alguns papeis em televisão e cinema, e acho que essa novela traz para ela o estrelato definitivo. Além de excelente atriz, é a cara do Brasil, uma mulher lindíssima.  

Quais os principais ingredientes dessa trama?  

Gloria Perez é uma gênia ao trazer questões que estão aí, tanto no inconsciente quanto na rua, e que são questões universais. Ela tem essa capacidade, uma percepção rara ao trazer certos incômodos. Estamos fazendo essa travessia de uma forma muito acelerada, onde adoramos toda a tecnologia dos celulares, internet, redes sociais, compras online e, ao mesmo tempo, temos medo da inteligência artificial, dos algoritmos, do controle, de estarmos sendo vigiados. Essa percepção é central na nossa história, de uma forma sutil e subjetiva, mas que afeta todos os personagens. Nossa história tem amor, romance, traição, crime, sedução, questões sociais. Mas, por dentro de tudo isso, tem uma amálgama que é essa transição que estamos fazendo para ficarmos absolutamente conectados através do mundo digital. É um mundo que, ao mesmo tempo que nos fascina, também nos assusta.  

‘Travessia’ é mais uma dobradinha sua com Gloria. Como foi o processo inicial do trabalho de vocês?  

Fizemos juntos um trabalho muito bem-sucedido, ‘Dupla Identidade’. Estamos retomando essa parceria. Fui descobrindo a novela à medida que Gloria ia escrevendo e, assim, fomos construindo tudo muito em conjunto. O que mais apontou um caminho para a gente foi definirmos que não teríamos uma novela high-tech, ultratecnológica, cheia de efeitos mirabolantes. Nosso foco é a relação humana e os efeitos da internet nas pessoas, nas famílias, nas histórias de cada um.  

O que os espectadores podem esperar de ‘Travessia’?  

Um novelão! Com amores, tragédia, humores, sensualidade, dramas. Personagens bem definidos, incríveis, consistentes, com a cara e a diversidade do Brasil. Gloria é uma autora de personagens que caem no gosto do público.   

Com informações da Comunicação Globo


Deixe o seu comentário