Autor de "Pantanal" explica que ainda estar disponível para realizar adaptações em cenas que não puderam ser realizadas.
Em entrevista à coluna da Jornalista Patricia Kogut (O Globo), o autor do remake de "Pantanal", Bruno Luperi revela que ainda está fazendo modificações na novela. Mas aqueles que sonham com mudanças nos rumos das histórias de Trindade (Gabriel Sater) e Maria Bruaca (Isabel Teixeira), por exemplo, não devem se empolgar. Ele explica:
— As mudanças que foram feitas são da ordem de produção. Por exemplo, não conseguimos gravar tudo no Pantanal por conta da pandemia, de problemas de elenco, de acidentes internos... A gente tem que adaptar isso. Não é uma mudança de rumo. O rumo é este, a novela está estabelecida. É obra fechada, sim. Fiquei à disposição da direção e ainda estou, para alterar o que for preciso para a história acontecer. As pessoas não imaginam o trabalho que é fazer uma novela, ainda mais fora do eixo Rio-São Paulo. Lógico que o público está com aquela sensação de que uma canetada vai resolver a vida dele e mudar o curso de um personagem ou de outro. Mas eles não podem ser mudados. Não estou escrevendo capítulo com base no sucesso de um núcleo ou de outro. Estou reescrevendo situações porque não conseguimos gravar. Para a novela acontecer, uma cena precisa passar para outro cenário, as ações precisam acontecer de um determinado jeito... Tem questões comerciais que, para entrarem na novela, eu preciso mexer. Estou de plantão para ajudar. Se mudo aqui, muda todo um cálculo de produção que inviabiliza a novela. As pessoas precisam entender. Uma coisa é mudar um diálogo, tirar uma cena. Mas grandes rumos não podem ser alterados. O público tem que aceitar.
Perguntado se Trindade vai voltar no fim, Luperi faz mistério. Por enquanto, o personagem reaparecerá apenas no parto de seu filho com Irma (Camila Morgado) e de forma sobrenatural. Essa foi a última participação dele na versão original:
— Se eu mostrar as mensagens que mandam, cada um tem uma solução para a novela, e uma é diferente da outra. A gente se sente dono. É como a seleção brasileira, um patrimônio público. Mas, no caso desta novela, infelizmente tem que ser assim. É uma adaptação. Se mudar, deixa de ser "Pantanal". Meu compromisso é com a novela, é fazer a história acontecer. A saga dos Leôncio e dos Marruá é o grande arco central. As pessoas gostaram, assimilaram a obra e estão encantadas, ao ponto de quererem determinar o curso que ela vai seguir. Fico muito feliz, mas também triste, porque não dá para agradar a todos. Lá atrás, convidaram o Almir Sater para fazer "Ana Rio & Zé Trovão" (por isso o personagem Trindade deixou "Pantanal"). Foi uma curva de rio que não dá muito para desviar, no meu entendimento. Outra pessoa poderia fazer diferente. Poderia ser melhor ou pior. Fiz o que acreditei. É mérito do Gabriel (Sater) também, do carisma que ele tem. Não é só um ator brilhante, mas um músico sensacional. O público ficou doido por ele. E a Camila é sensacional. É um casal que deu química, difícil de desfazer. Mas a vida é assim. Casais são desfeitos. Vamos ver até o final. Eu considero que as decisões que podiam ser tomadas foram tomadas. É muito mais confortável olhar de fora e apontar.
Por falar em alterações, ele diz que o avô, Benedito Ruy Barbosa, autor da versão original, era contra qualquer mexida no texto:
— Meu avô é um autor muito convicto do que escreve. Ele teve que conviver com o fato de que outra pessoa tomaria as decisões que no passado ele tomou. Isso não é fácil para um autor que sempre escreveu sozinho. Minha primeira ideia, quando recebi o convite, era discutir com ele. Primeiro, peguei a novela inteira. Imprimi tudo. Fiquei dois ou três meses lendo, anotando tudo. Vendo no que a sociedade mudou, todos os temas que dataram, a função que esses temas tinham dentro da história... Ele falava de Plano Collor, de caça ao jacaré, que era uma questão ambiental forte naquele momento. E de outras coisas que era universais e atemporais, que têm um frescor impressionante. Acabei isso tudo e fui conversar com ele. Ele falou: "Não tem que mudar nada, a novela está pronta". Eu falei: "Então entrega e eu volto a escrever 'O Arroz de Palma'" (projeto que deverá entrar na faixa das 18h da Globo). Aí ele falou: "Vai com o que Deus te deu, muda o que tem que mudar". É difícil para ele. Ele se tornou o autor que se tornou e ganhou prestígio e sucesso porque foi pioneiro do gênero dele. Retrata o Brasil profundo. Desde o momento em que a gente começou a conversar, ele me perguntou só isso, se eu confiava que ia dar certo. Falei que confiava. Ele falou: "Vai com o que Deus te deu e assume". Fiquei até chateado com ele. Ele falou: "É o que eu faria no seu lugar. Senta e escreve no que você acredita". Ele não me exigiu isso em momento algum, mas, por respeito, quis trazê-lo para o mais perto possível. Isso foi bem no começo. A gente estabeleceu que seria assim. Ele ficou confortável, mas extremamente ansioso com resultados. Me ligava de vez em quando e, quando eu atendia, a gente trocava. Ele perguntava: "Como está, o que está sentindo?". Foi o que falei lá atrás: "Mais importante para os meus filhos, os seus bisnetos escutarem isso do que foi para os seus filhos. É uma mensagem mais forte. Acho a novela brilhante".