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Bruno Luperi comenta Velho Chico e futuro como autor de novelas

"A realização profissional que tive escrevendo a novela eu não tive em nenhum outro trabalho", diz neto de Benedito Ruy Barbosa.

por Sergio Gustavo, em 30/09/2016

Bruno Luperi. (Foto: Divulgação/Globo)

Com Velho Chico, Bruno Barbosa Luperi escreveu sua primeira novela - e logo no horário mais disputado da TV. O neto de Benedito Ruy Barbosa concedeu entrevista à Maurício Stycer (UOL) e comentou inúmeras questões relativas à Velho Chico e ao seu futuro como novelista.

A RELAÇÃO COM O DIRETOR 

Luiz Fernando Carvalho levou ao horário nobre um trabalho diferenciado em diversos aspectos, da direção ao figurino - algo já experimentado em séries e em Meu Pedacinho de Chão. "O Luiz foi um dos meus padrinhos, devo muito a ele. Acho que eu trouxe uma energia nova, algo que também o motivava a trabalhar, produzir, e ele me trouxe muito da experiência dele. Tive um diálogo muito bom com a direção, com o elenco, com todas as pessoas envolvidas", disse Luperi.

A POLÊMICA PERUCA DE FAGUNDES

Antes mesmo de entrar no ar como o personagem vivido por Rodrigo Santoro na primeira fase, Antonio Fagundes virou alvo de críticas por sua caracterização, que, segundo Luperi "foi uma proposta muito do Luiz". O autor explicou que eles já haviam conversado sobre a extravagância, mas também se surpreendeu: "Quando vi as primeiras imagens, entendi que ele tinha outra coisa na cabeça. Foi uma surpresa para mim, mas corri atrás no texto e dei subsídios para aquilo. Ficou muito bom. O trabalho de um foi provocativo para o trabalho do outro. Vendo agora, o público vai entender bem a metáfora da peruca, a metáfora desta figura patética do poder, esse coronel anacrônico… No fim das contas, as pessoas vão dizer: 'Tinha sentido essa peruca'".

Luperi avaliou, ainda, a resistência de parte da audiência: "O público parece que perdeu um pouco a paciência para ouvir uma história até o final. É como se eu fosse começar a contar uma piada sobre um sujeito que usa uma peruca. Na primeira frase, a pessoa diz: “Não gosto de peruca”. Calma, você nem ouviu a história até o final! É uma característica dos dias de hoje.  As pessoas não têm paciência para parar e ouvir, contemplar, escutar. As respostas têm que ser dadas a tempo e a hora. Lidei muito com isso em Velho Chico".

Bruno, Benedito, Luiz e Edmara (Foto: Divulgação/Globo)

A SAÍDA DE EDMARA BARBOSA

A imprensa foi surpreendida quando Edmara, responsável pelo roteiro, deixou o projeto. Luperi falou sobre o desligamento da mãe: “São três gerações da família envolvidas. Há muitos anos, meu avô dizia que havia uma história no rio São Francisco a ser contada. Minha mãe desenvolveu uma sinopse que contemplava a primeira fase inteira. Quando ela estava batalhando na emissora para colocar a sinopse no ar, eu entrei no projeto. A partir da segunda fase, passei a trabalhar com ela. Ela pediu afastamento. Houve vários fatores, internos e externos. Mais que os problemas, uma motivação grande dela foi sentir que eu estava com o barco no eixo. Foi uma decisão sábia dela.”

A PARCERIA COM O AVÔ

Depois de supervisionar as filhas - Edmara e Edilene - em alguns projetos, Benedito convidou o neto para seu retorno ao horário nobre. " Vivi bons momentos com meu avô no processo. Em um deles me senti autor de verdade. Quando acabei de escrever a primeira fase, com minha mãe, levei os capítulos para ele. Ficamos 5 dias nesta leitura, uma experiência fantástica. Ele se sensibilizava e chorava. Ou sorria lendo. Aquele termômetro serviu muito de lição. Fiz meu avô chorar algumas vezes (risos)", disse Luperi - "Ele foi muito sábio na condução, em me instigar sempre a buscar essa linha emocional, os conflitos humanos, os conflitos éticos e morais dos personagens. Foi muito enriquecedor para mim receber isso da pessoa que considero o maior autor de novelas vivo".

CRÍTICOS X VELHO CHICO

"Achei a reação da imprensa muito maniqueísta e maldosa, sem sensibilidade artística para julgar o objeto em questão. Foram poucas as situações em que me deixei influenciar por isso. Me chateei muito no começo, mas a partir de determinado momento falei: 'Melhor nem ver'. Não vai acrescentar nada para a história, para os personagens, só vai me deixar triste. Parei de ler notícias sobre a novela", confessou o autor.

PRESSÃO POR AUDIÊNCIA?

Velho Chico foi remanejada das 18h para às 21h no intuito de estancar a fuga do público, creditada aos temas das novelas anteriores - Babilônia e A Regra do Jogo. Diferente delas, a trama de Santo (Domingos Montagner) oscilou pouco e chega ao final mais próxima dos 30 pontos que a história de Romero Rômulo (Alexandre Nero). "Não acompanho a audiência minuto a minuto. Recebi o aparelho para acompanhar, mas nunca quis. Acredito que uma obra não deva ser influenciada pelos números de audiência, pela pressão. Tenho que ser digno. Acreditava muito em Velho Chico desde o início e isso me deu muita segurança para não seguir os números. E foi uma postura que adotei para o processo inteiro. Quase uma esquizofrenia que desenvolvi comigo mesmo de fingir que nada estava acontecendo. Eu me blindei", contou Luperi.

DE AGORA EM DIANTE

Com 28 anos, casado e com um filho pequeno, Bruno é oriundo da publicidade, mas estava insatisfeito com a profissão. O escritor tem três roteiros de cinema guardados, preparados antes da novela, mas foi conquistado pelo gênero. "Tenho algumas ideias, mas nada muito concreto ainda. Histórias para contar tenho aos montes. Pretendo seguir como autor de novelas até o fim da vida. O prazer e a realização profissional que tive escrevendo a novela eu não tive em nenhum outro trabalho na minha vida", afirmou Luperi.

Foto: Divulgação/Globo

Velho Chico exibe suas emoções finais hoje (30), após o Jornal Nacional.

 


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