O programa irá ao ar no dia 2, na semana do Dia Nacional do Idoso e do Dia Internacional da Terceira Idade.
“Como será amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser.” Na letra da música, uma lista de perguntas que ganham mais e mais significados à medida que o tempo passa. Especialmente às vésperas do aniversário. E não um aniversário qualquer: são sessenta anos! Assim se sente Meire (Andréa Beltrão), uma motorista de aplicativo, em uma noite de trabalho que reserva surpresas e muitas reflexões a partir do encontro com outras mulheres, principalmente Bex (Zezé Motta), uma passageira misteriosa, que guiará Meire por caminhos desconhecidos, questionando sua forma de enxergar o agora e o seu futuro. Essa é a trama do especial Falas da Vida, o quarto da série antológica Histórias Impossíveis, que vai ao ar no próximo dia 2 de outubro, na semana que marca o Dia Nacional do Idoso e o Dia Internacional da Terceira Idade (1º de outubro), na TV Globo, após Todas As Flores.
São as angústias de Meire, mas poderiam ser de tantas outras brasileiras. Tendência presente no Brasil e em diversos países, o envelhecimento é abordado no especial em uma narrativa de ficção a partir de questões atuais. A obra criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá, aborda temas como amadurecimento, novos modelos e oportunidades de trabalho para o grupo 60+ e sororidade.
Diretora artística da antologia, Luisa Lima assinala que o episódio busca ressignificar a compreensão do envelhecimento sob a ótica feminina. “Explorando a rede de apoio entre mulheres, o diálogo intergeracional, bem como a vivência amorosa da mulher madura, o episódio busca lançar luz sobre um tema universal e tão sensível às mulheres, abrindo ainda espaço para falar das condições do trabalho na vida contemporânea”, comenta a diretora.
A trama parte de uma situação comum e adentra o universo fantástico através da saga de Meire, que, prestes a fazer 60 anos, desconfortável com a data e precisando fazer dinheiro, se permite ficar mais tempo ao volante. Entre uma viagem e outra, ela perde o controle do carro e, por muito pouco, não sofre um acidente grave. O susto a faz conhecer outras motoristas e, junto a elas, se fortalecer diante dos desafios deste tipo de prestação de serviço, que envolve riscos constantes.
“A reflexão sobre o processo de envelhecimento e a forma como a sociedade trata as mulheres maduras no mercado de trabalho dão o tom ao episódio. Meire era motorista de ônibus, batalhou para exercer uma profissão historicamente masculina até que, num belo dia, diferentemente de outros colegas da mesma idade, decidiram que ela era velha demais para exercer seu ofício. Foi aí que ela encontrou na profissão de motorista de aplicativo uma forma de se manter atuante e garantir seu sustento e de sua família”, conceitua a autora Renata Martins.
Na noite marcada por encontros impensáveis, mal sabe Meire que seu carro receberá a figura de Bex (Zezé Motta), uma senhora de outra dimensão, que promete mexer com suas convicções. A cada desabafo da motorista, novas perspectivas emergem da parte de trás do veículo, em diálogos cheios de simbolismo e cenas que misturam suspense e fantasia ao real.
“Aqui, o elemento fantástico contribui para um diálogo existencial, uma conversa que rompe com a correria do cotidiano para refletir sobre a passagem do tempo e a valorização da vida em todas as suas etapas”, define Luisa Lima. “Bex é uma passageira de outra dimensão, que experiencia o espaço e o tempo de uma forma mais metafísica. Seu encontro com a Meire possibilita que a motorista tenha uma percepção mais sensível sobre sua vida e o seu processo de envelhecimento, afinal, o que importa, não é como os outros a veem, mas sim como ela se sente e se enxerga de fato”, observa Renata Martins.
Em sua ânsia por trabalhar e "cumprir a jornada", ao longo da história Meire será exposta a pessoas que vão confrontar sua visão de mundo e revelar seu incômodo com certas situações ou percepções comuns na sociedade. “Meire é uma trabalhadora massacrada por uma rotina pesada e angustiada porque sente que o tempo está passando para ela”, observa Andrea Beltrão. “Eu amei dirigir enquanto gravava, e esse ponto da profissão dela foi o que mais me tocou nesse episódio, especialmente sabendo que, após a pandemia, várias mulheres assumiram essa função para sustentar seus lares”, comenta a atriz.
Intérprete da personagem que atravessa o rumo de Meire, Zezé Motta reforça a importância do papel. “A Bex encara a idade com leveza, sabedoria, otimismo, com um sorriso. Ela passa ao lado desse preconceito e é um exemplo de como envelhecer bem. Bex se diverte, porque ela surpreende a Meire o tempo inteiro. Tem momentos em que Meire fica até chocada com a postura dela diante da vida. Com o comportamento, com as falas, ela acrescenta muito à vida da Meire”, destaca Zezé Motta. Para além da trama, a interação da dupla de protagonistas representa um momento simbólico na TV. “É muito lindo ter essas duas mulheres que atravessaram gerações na construção do audiovisual brasileiro falando sobre os medos e os desafios em relação à passagem do tempo e ao envelhecimento”, celebra a diretora Luisa Lima.
A criadora e roteirista de Histórias Impossíveis Grace Passô avalia que o encontro entre as duas personagens – que vivem e pensam de maneiras distintas – encoraja a pensar sobre certos tabus que envolvem o envelhecimento. “‘O episódio reflete sobre como a relação com o tempo atravessando nossos corpos nos exige coragem e reação, sobretudo no contexto de uma sociedade muitas vezes adoecida por ideias delirantes de juventude eterna”, observa.
Jaqueline Souza acrescenta que, a depender dos marcadores sociais que as mulheres carregam, envelhecer tem múltiplos significados. “Para algumas mulheres, envelhecer é parte da vida, algo do campo pessoal com o qual precisamos nos acostumar. Para outras, envelhecer é um privilégio, dadas as violências a que estão expostas, e com estatísticas dizendo que esse envelhecimento pode não chegar. Ainda temos o aspecto social, em que o envelhecimento está associado ao medo de não conseguir se aposentar ou de fazê-lo e se tornar o arrimo financeiro da família”, avalia a autora.
Na trilha sonora do episódio, o samba “O Amanhã”, enredo da escola de samba carioca União da Ilha do Governador de 1978, composto por Didi e João Sérgio, é mais uma camada de simbolismo na linguagem do especial. A diretora Luisa Lima conta como chegou à escolha da música que embala uma das principais sequências do episódio: “Na pesquisa, me veio a ideia de ‘O Amanhã’, com o verso ‘O que será o amanhã?’. Me pareceu representar muito a angústia de Meire, uma pergunta universal. Estamos sempre preocupados com o futuro. E o episódio tem essa ideia de que devemos aproveitar o tempo presente, de que só envelhece quem está vivo, então vamos viver, seja com que idade tivermos, mesmo com os problemas que tivermos, vamos viver mais uma etapa da vida”, conta. “Depois, eu e a produtora musical Bibi Cavalcanti entendemos que seria uma boa música para abertura também”, completa Luisa.
A antologia Histórias Impossíveis, apresentada nos especiais "Falas" deste ano, foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá. A direção artística é de Luisa Lima e direção de Thereza Médicis, Everlane Moraes, Graciela Guarani e Fábio Rodrigo com produção de Leilanie Silva. Alinhado à jornada ESG da Globo, o projeto tem direção executiva de produção de Simone Lamosa, e direção de gênero, de José Luiz Villamarim.