E mais: Maria Bruaca tem grande virada em ‘Pantanal’.
Maria Bruaca (Isabel Teixeira) finalmente descobriu sobre a segunda família de Tenório (Murilo Benício), em ‘Pantanal’. A revelação traz à personagem um sofrimento enorme, mas junto com ele muita força para que ela possa mergulhar em uma viagem de autoconhecimento como nunca viveu antes. Maria, que já iniciou sua mudança de postura em relação ao marido, passa a investir ainda mais na atração física que sente por Alcides (Juliano Cazarré). Ele, que inicialmente não ligava para as investidas, já a admira e demonstra interesse por ela, mas mantém o respeito, por se tratar de uma mulher comprometida, e ainda por cima ser esposa de seu patrão. Mas em cenas que vão ao ar a partir desta sexta-feira, dia 20, Maria ultrapassa essa barreira invisível e rouba um beijo do funcionário.
“Nessa cena que vai ao ar hoje à noite, da primeira saída de casa dela, ela estava em um barco, no meio do rio, e foi olhando deslumbrada a paisagem à sua volta. Da mesma forma, eu nunca tinha ido ao Pantanal. Então entendi que tudo que ela via, eu estava vendo também, pela primeira vez”, conta Isabel, em entrevista onde comenta outros bastidores das gravações.
Outro personagem que verá uma guinada em seu destino é José Lucas de Nada (Irandhir Santos). Após visitar a avó de criação, dona Jacutinga (Glaucia Rodrigues), que lhe dá um dinheiro para que ele possa seguir viagem, o caminhoneiro parece não ter rumo, mas sem saber, está indo em direção ao pai que nunca conheceu, José Leôncio (Marcos Palmeira). Em suas andanças, José Lucas pega uma carona para o Mato Grosso do Sul, onde conhece o peão chefe de comitiva Túlio (Jackson Antunes), que lhe oferece um trabalho temporário. Zé Lucas aceita e eles seguem rumo ao Pantanal. É só o início de uma longa jornada. Em entrevista exclusiva, Jackson Antunes fala sobre sua participação especial na novela.
Como é a experiência de gravar no Pantanal?
Maria Bruaca é uma personagem que começa muito dentro de casa e depois vai se libertando. Após as duas primeiras semanas que passei no Pantanal, ano passado, já me vi totalmente transformada. Eu já vi paisagens bonitas assim, mas nunca tão fortes, impactantes. Minha primeira cena gravada foi no Rio Negro. Não me imagino gravando a novela em estúdio sem ter conhecido esse horizonte antes, porque a Maria Bruaca é uma personagem que vive em uma fazenda sozinha, e isso é muito significativo. Há uma solidão aí. Tem um silêncio, tem um olhar para a natureza. Logo que cheguei, vi isso no Pantanal e foi muito intenso, porque gravar neste ambiente é muito intenso.
Quando foi convidada, já conhecia a personagem Maria Bruaca?
Já. Acompanhei a novela em 1990, na TV Manchete. Foi muito impactante. Quando acompanhei, eu estava terminando o ginásio, acho. E para gravar a novela, quando eu soube que ia fazer, eu revi, e foi muito bom. Assistia por horas, um capítulo atrás do outro. E assistir a tudo de uma vez foi bom porque vi a novela se transformar e tive insights muito legais. Você percebe o momento em que a equipe e elenco entendem que estão fazendo uma obra-prima e a trama vai ganhando ainda mais força. Tudo ganha um brilho e os atores vão ganhando uma alegria. Um outro insight foi observando Maria Bruaca e a relação dela com Alcides. Uma novela é escrita por um autor. Mas a trajetória da Maria Bruaca também foi escrita por Ângela Leal, que fez a personagem pela primeira vez. Eles foram caminhando juntos, então, eu, particularmente, considero que a Ângela Leal é uma autora da Maria Bruaca também. E, indo além, eu pensei que o público vai respondendo à novela. Então, o público também é escritor da novela. É uma obra aberta, e eu acho isso muito bonito, muito democrático. E a riqueza dessa personagem é uma loucura! Teve um capítulo que, enquanto eu lia, sentei no chão e chorei, sabe? Foi uma mistura de gratidão por interpretar uma personagem como ela e admiração por sua força e beleza.
Se você tivesse que contar para alguém quem é Maria Bruaca, naquele primeiro momento, como seria?
É uma mulher que está aprisionada em um casamento e vai percebendo essa prisão. Casou muito jovem, se apaixonou, fez uma vida com ele, uma pessoa de quem gostava de fato. Mas não percebia o quão aprisionada estava. E aí vamos vendo viradas da personagem nas quais ela vai se conhecendo melhor, enxergando melhor. Parece que ela vai abrindo a visão e vai conhecendo outras sensações.
Ser uma mulher de 50 anos, e eu sei que porque farei em breve, é um renascimento, uma redescoberta de tudo. Do sexo, do amor, da liberdade, da paixão, da alegria de viver, do aqui e do agora. Então tem muito isso, da Maria Bruaca se enxergar, ver o que lugar onde está. Metaforicamente e na prática, ela vai saindo de casa, vendo a paisagem à sua volta. Essa cena que vai ao ar hoje à noite, da sua primeira saída de casa, ela estava em um barco, no meio do rio, e foi olhando deslumbrada a paisagem à sua volta. Da mesma forma, eu nunca tinha ido ao Pantanal. Então entendi que tudo que ela via, eu estava vendo também, pela primeira vez.
Qual importância você acha que tem uma personagem como Maria Bruaca?
A Maria Bruaca nos propõe revermos tudo o que conhecemos. Ela faz você se questionar: isso é bom pra mim? Tem uma autora que eu adoro que diz que temos que aprender a dançar sobre as ruínas. A trajetória da Maria Bruaca tem essa nova maneira de olhar, levanta muitos questionamentos, com tristeza, mas também com muita alegria. O que é a trajetória do herói? É ver sua sombra e a sua luz. Acho que é o que acontece com ela.
Você acha que ela vai inspirar outras mulheres?
Tenho certeza. Principalmente nessa alegria de viver e de se descobrir. E acho que ela vai inspirar também pelas falhas, porque ela não é um exemplo pronto e único. Acho que as pessoas vão visitar as dúvidas, vão ver as falhas de percurso e vão vê-la enfrentando suas próprias sombras. Eu acho Maria Bruaca muito corajosa, uma mulher que fala “Até aqui, não estava bom. Vou tentar ver por outro caminho”. Tem coragem de cair e levantar. Então, sim, acho que vai ter uma empatia grande do público. Não só para mulheres da minha faixa etária, sabe? Todos nós estamos renascendo o tempo inteiro.
Como foi recepcionado nos bastidores da novela ‘Pantanal’?
A recepção em ‘Pantanal’ não poderia ter sido melhor. Em primeiro lugar, porque lá está Marquinhos Palmeira, meu amigo de 30 anos, um irmão, que eu conheci na novela ‘Renascer’. Papinha, por quem fui dirigido em várias novelas. Também, alguns filhos da ficção, mas que são próximos de filhos da realidade, como Gabriel Sater, que fez comigo o filme “Coração de Cowboy”. Fui o pai dele. Zé Loreto fez o Aldo, de quem fui o pai em “Aldo – Mais Forte que o Mundo”. São 30 anos de casa. Reencontrei figurinistas, contra-regras. Foi uma festa tão grande, tão imensa, que mesmo se eu não fosse gravar ali já bastaria, só de encontrar a turma. Todos felizes, torcendo, aplaudindo depois da cena. Isso tudo com carinho do seu Benedito Ruy Barbosa, de Bruno Luperi, neto dele. Não havia dúvida em meu coração de que ‘Pantanal’ seria um grande sucesso. Acho que é o momento propício. A novela oferece paisagens lindas, tem personagens riquíssimos. Lá também está meu amigo Osmar Prado, que reencontrei. Depois que contracenamos em ‘Sinhá Moça’, Osmar virou um irmão. Era como se eu estivesse em casa, em uma família imensa de pessoas amadas e queridas. Eu acho que a grande riqueza nesses 30 anos de televisão está exatamente nas relações, nos amigos que fiz. Isso é o grande legado da minha vida.
Como foi trabalhar com Irandhir Santos? Vocês já haviam trabalhado juntos?
Eu já conhecia Irandhir através do cinema. Recentemente, o assisti em “Redemoinho”, de José Luiz Villamarim. Sempre fui um admirador do Irandhir. É um ator intenso, que entrega, que constrói o personagem de dentro para fora. Um ator que tem um compromisso tão sério com a arte de representar. Ele tem um método pessoal de se envolver com o personagem. Possui um caderno imenso, dividido em páginas, blocos, cada um tem uma cor e, através das cores, como se fosse cromoterapia, ele busca a emoção do personagem. É impressionante como aquilo funciona. Às vezes, você vê uma palavra grifada lá e quando vai contracenar com esse grande ator sente que aquela palavra que ele grifou sai da maneira como ele quis. Ele é uma ator estudioso, além de ser extremamente talentoso. Outro ponto que me tornou ainda mais um admirador de Irandhir Santos é que, além desse lado prático e dessa técnica, ele tem um lado intuitivo maravilhoso. Antes da cena, a gente falava da trajetória que ele teve como motorista. Ele fez referência a todos os personagens da novela. Ele entra em uma viagem que ele mesmo cria, porque o beneficia, antes da cena, e ele fica com ela até terminar e alguns minutos depois, sem perder a noção de tudo que está acontecendo ao seu lado. É um transe permitido e ele tem o domínio total da cena e de tudo que está acontecendo. Sem falar que o Irandhir foi um encontro de almas. A sensação que nós tínhamos e temos até hoje é de que foi um irmão que estava em um tempo-espaço à espera de nos encontrarmos. Nossa relação é uma coisa linda. Sempre que nos encontramos é lindo. Nosso abraço dura 20 minutos, em silêncio. Falando por si próprio, do respeito, do carinho, da amizade.
Túlio é uma participação especial, mas tem um papel importante na história. É ele quem leva José Lucas de Nada ao encontro de José Leôncio. Como você enxerga o personagem?
Túlio é chefe de uma comitiva e, de repente, chega o Zé Lucas de Nada lá. Túlio é um sujeito boa praça, é um bon vivant. Ele gosta da sua comitiva, gosta do gado, gosta dos peões, é bem humorado, e emprega o Zé Lucas de Nada, mas também não é bobo. É um caboclo que tem um tino de perceber as coisas, tem um sexto sentido. Quando ele vê aquele moço com bonezinho, brinco na orelha, acha um pouco estranho, mas respeita. O José Lucas começa a fazer algumas perguntas. Quando o Túlio está falando do Zé Leôncio, ele pergunta: “Mas que Zé Leôncio é esse?”. Acho que ele pesca um pouco, mas acho que também respeita aquilo devido ao grande carinho que sente por José Lucas de Nada. Acho que, em algum momento, Túlio se vê em Zé Lucas. É ele que leva o terceiro filho de Zé Leôncio até a fazenda e que sabe que precisa resolver uma situação mal resolvida e sabe também, no fundo, que ele tem de ficar por ali. Nossa cena de despedida é emocionante, onde o Zé Lucas sabe que seu destino está ali na fazenda, com o pai, que há muitas manobras a serem feitas ali para ele conquistar esse pai. É um personagem dúbio, misterioso, o Zé Lucas. Ninguém sabe se ele quer reaver o que é dele junto a família ou se ele quer vingança. O Túlio simplesmente cumpre a sua missão deixando o Zé Lucas ali e parte com sua comitiva em destino indefinido.
‘Pantanal’, 30 anos atrás, marcou sua vida de alguma maneira? E sua relação com Benedito?
Se eu fosse escrever um livro contando a minha história, não teria como, a maioria das páginas seria preenchida por um nome: Benedito Ruy Barbosa. Outro nome: Luiz Fernando Carvalho. Foi em uma novela do Benedito, ‘Renascer’, em 1993, eu então com 33 anos, norte-mineiro, vindo lá do sertão, do serrado das Gerais, que tive minha primeira e grande oportunidade em um grande papel importante na trama. Isso foi graças à coragem honesta do seu Benedito e de Luiz Fernando Carvalho em apostar em um rosto novo em uma época em que isso não era muito normal. Era 1993. Por que não acreditar em um ator que não daria nenhum tipo de problema? Uma escalação acertada, um ator que já tivesse nome, um ator que já tivesse uma carreira definida. No entanto, seu Benedito, tanto como Luiz Fernando Carvalho, sempre foi muito corajoso. Maria Carmem Barbosa também. Na época, fiz um teste com ela, que também abriu os caminhos para mim. Eu estreei ali. Logo depois, acho que fiz quase todas as novelas de Benedito — exceto por ‘Caboclo’, pois acho que eu estava escalado para um outro papel, mas acho que fiz personagens em quase todas as novelas dele. Certa vez, eu fui à fazenda dele e vi Bruno pequenininho. Eu não sabia que, logo depois, o Bruno assumiria a dianteira do vô. De certo modo, quando o Benedito passou a escrever menos, as meninas, filhas deles, começaram a tomar frente e com muito sucesso. Daí vem o Bruno, que pega sua obra, de muitos anos atrás, e traz renovação, traz um conceito novo, traz uma linguagem dos dias de hoje. É maravilhoso, não é por acaso que a novela é um grande sucesso. Eu joguei para o universo para que venham outros remakes. Sonho e acredito muito nisso. Queira Deus que eu esteja lá, passando a bandeira, fazendo outro personagem.
‘Pantanal’ é escrita por Bruno Luperi, baseada na novela original escrita por Benedito Ruy Barbosa. A direção artística é de Rogério Gomes e Gustavo Fernandez, direção de Walter Carvalho, Davi Alves, Beta Richard, Cristiano Marques e Noa Bressane. A produção é de Luciana Monteiro e Andrea Kelly, e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.
Com informações da Comunicação Globo