O jornalista se junta ao time de veteranos que foram dispensados pela Globo bos últimos tempos como Neide Duarte, Renato Machado e outros
De acordo com informações do Notícias da TV, do Uol, o jornalista Edney Silvestre deixou o jornalismo da Globo após 30 anos . A informação foi confirmada em carta escrita por Ali Kamel, diretor de Jornalismo. Correspondente Internacional da emissora em Nova York de 1996 a 2002, o repórter participou de coberturas jornalísticas marcantes, como a dos atentados terroristas de 11 de Setembro, em 2001, nos Estados Unidos.
Além de ser profissional do jornalismo, Silvestre é escritor e dramaturgo. Foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Jabuti 2010 com o romance Se Eu Fechar os Olhos Agora, que virou minissérie adaptada para à TV por Ricardo Linhares para a Globo em 2018.
Em sua carta aberta, Kamel exaltou o trabalho de Silvestre. O jornalista fez sua estreia na TV em 1996, na Globo e na GloboNews, mas já atuava no jornal O Globo desde 1992, com uma coluna cultural. Nos últimos anos, trabalhou como repórter especial do Globo Repórter, exibido às sextas.
Edney Silvestre se junta ao time de jornalistas veteranos que se desligaram recentemente do Jornalismo da Globo, como Renato Machado, Francisco José e Neide Duarte, por exemplo.
Veja o texto de Kamel na íntegra, obtido pelo Notícias da TV:
"Há exatamente 30 anos, eu me tornei colega de Edney Silvestre. Eu era diretor da sucursal do Globo em Brasília quando, numa visita ao Rio, Evandro Carlos de Andrade, então diretor de redação do jornal, me chamou para comentar uma coluna que Edney acabara de estrear no Ela.
Evandro estava empolgado com o estilo de Edney, aquele olhar agudo para o que acontecia ao redor dele e no mundo, um texto às vezes irônico e ferino, mas sempre verdadeiro e elegante. Quando voltei ao Rio, esse ritual entre mim e Evandro em torno de uma crônica de Edney se repetiu muitas vezes, com Evandro às vezes soltando uma gargalhada com alguma tirada do cronista – e tenham certeza de que Edney não fazia humor, a risada de Evandro era de satisfação.
A paixão de Edney pelas palavras surgiu ainda na infância. É um leitor voraz desde menino, quando frequentava assiduamente a biblioteca de Valença, cidade onde nasceu, no interior do Rio. O trabalho na imprensa começou como datilógrafo e tradutor na Manchete Press, a agência de notícia da Bloch editores. Não passou muito tempo até que ele estivesse escrevendo reportagens para as revistas Fatos e Fotos e Manchete. Ainda nos anos 70, colaborou com o lendário Pasquim. Em paralelo, trabalhou na área de publicidade e dirigiu documentários para o Canal 100, de Carlos Niemeyer. Dirigiu também o curta-metragem “O Noivado”, filmado em 16 mm – que rendeu a ele o prêmio de melhor filme experimental em um festival organizado pelo Jornal do Brasil. A experiência com áudio-visual rendeu a Edney o convite para trabalhar numa produtora em Nova York, para onde se mudou em 1991.
Foi em Nova Yorque que Edney recebeu o convite da saudosa Mara Caballero, então editora do Ela. E foi de lá, com seus quarenta e tantos anos e muita experiência, que Edney se reinventou como cronista e encantou Evandro, a mim e a uma legião de leitores. Quando Evandro veio dirigir o jornalismo da Globo, em 1995, logo recebeu um projeto de Edney: um programa de entrevistas com personalidades da área cultural. E, assim, já em 1996, ano em que a Globonews foi ao ar, Edney se tornaria um dos primeiros apresentadores do programa Milênio, ao lado de Paulo Francis, nos Estados Unidos, e de William Waack, na Europa. Daí a ser correspondente da Globo em Nova York foi um pulo, um movimento que muitos consideraram uma ousadia do Evandro. Afinal, uma coisa era ter um texto primoroso ou mesmo ser um bom entrevistador. Outra, todos que fazem televisão sabem, era ser um bom repórter de TV: era preciso ser gostado pela câmera, ter um “dom” a mais que é difícil de definir mas que, ao ver o bom e o mau repórter no ar, todo mundo entende o que é. Nas primeiras reportagens, muitos colegas estranharam, mas, em poucos dias, Edney encontrou o seu estilo, revelou aquele “dom” a que me referi e, de lá para cá, vem brilhando por onde passa.
Edney fez parte do time que participou da cobertura do 11/09 em 2001 e estava, com sua marca naquela edição histórica do JN daquele dia (aliás, ele e Jorge Pontual foram os primeiros repórteres brasileiros a chegar ao Marco Zero nos dias seguintes). Antes disso, cobriu o escândalo envolvendo o então presidente americano Bill Clinton e a estagiária da Casa Branca, Mônica Lewinsky, e a visita do Papa João Paulo II a Cuba. E esteve no Iraque, dez anos depois da Guerra do Golfo, para mostrar as condições precárias em que viviam os iraquianos sob o regime de Saddam Hussein.
As histórias humanas sempre mereceram uma atenção especial, um olhar mais atento de Edney. Em 2002, ano em que voltou ao Brasil como repórter especial na editoria Rio, participou da série “Cidadania”, produzida no período que antecedeu a eleição presidencial, quando mostrou aos eleitores como era possível lutar por seus direitos e escolher bem seus representantes. Foi dele também a ideia que deu origem ao programa “Brasileiros”, dirigido por Maria Thereza Pinheiro e Teresa Cavalleiro. Ao lado dos repórteres Neide Duarte e Marcelo Canellas, Edney contava histórias de cidadãos que se dedicam a melhorar a vida de pessoas com menos oportunidades. Como repórter exclusivo do Globo Repórter nos últimos anos, a sensibilidade para esse tipo de reportagem ganhou ainda mais espaço. Foram muitos os programas em que Edney tirou dos personagens declarações emocionantes, como no episódio “Vencendo o Preconceito”, quando ele conseguiu fazer com que os entrevistados falassem sobre o momento em que se reconheceram preconceituosos e conseguiram mudar.
Paralelamente a tudo isso, Edney construiu uma bem-sucedida carreira na literatura. É um escritor premiado e teve uma das obras transformada em minissérie pelos estúdios Globo. “Se Eu Fechar os Olhos Agora” foi finalista do Emmy Internacional. Seus livros são sucesso de critica e público e vão continuar a ser. O escritor de hoje começou há 30 anos e a admiração que tenho por ele também. O menino que passava horas na biblioteca de Valença hoje dá nome a uma biblioteca comunitária, numa favela de Realengo, no Rio de Janeiro. É uma homenagem justa.
Depois de 30 anos brilhando no Globo e aqui, Edney encerra seu ciclo no nosso jornalismo. Deixa sua marca e um legado. Que aqueles que queiram desbravar 30 anos ou mais à frente, não importa a idade ou experiência, se inspirem nele.
Ao Edney, colega de profissão e amigo, muito obrigado,
Ali Kamel"