Já houve mais antipatia contra os seriados, numa época em que a televisão era chamada pelo escritor Sérgio Porto - sob o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta - de máquina de fazer doidos e os seriados de enlatados. Hoje eles são mais variados, têm roteiros inteligentes e ótimos artistas, com um sucesso tão grande que hoje podem ser encontrados até em locadoras de vídeo. Mas manter 25 seriados norte-americanos na programação, como faz o SBT, ultrapassa qualquer limite do respeito com a produção nacional.
Sozinha, a emissora de Silvio Santos tem mais seriados do que todas as outras somadas. A Record apresenta Monk, Dr. House, os dois C.S.I.. - Miami e Las Vegas, e Life. O CNT, enche lingüiça com as tramóias de espionagem de Largo Winch, às segundas, quartas e sextas. A Band e a Globo não veiculam nenhum, apesar da última transmitir esporadicamente Lost e 24 Horas.
O SBT tem mais do que o triplo disso, com nada menos que 25 títulos anunciados: A Paranormal, A Sete Palmos, Arquivo Morto, As Novas Aventuras de Christine, As Visões da Raven, Carnivale, Chuck, Desaparecidos, Divisão Criminal, Em Nome da Justiça, Estética, Eu, a Patroa e as Crianças, Família Soprano, Grey's Anatomy, Homens às Pencas, Invasão, O.C. Um Estranho no Paraíso, OZ, Smallville, Sobrenatural, Ugly Betty, O Vidente, Veronica Mars e West Wing.
A compra de um seriado é sempre a solução mais fácil e preguiçosa para ocupar a grade de programação. Custa apenas o preço do programa, sem preocupações com pagamento de equipes, de equipamentos e do desenvolvimento de idéias, entre outros tantos gastos. Mas a mesma solução de comprar a atração poderia ser utilizada com produções brasileiras. Há dezenas de produtoras no país com toda a sorte de programas.
Não há, porém, uma proteção legal à produção independente por aqui, como nos Estados Unidos e na maioria dos países europeus. O resultado é que não se exibe quase nada que não seja comprado no exterior ou que não seja feito pelas próprias cabeças de rede.
O artigo 221 da Constituição, que fala em "estímulo à produção independente que objetive sua divulgação" jamais entrou em vigor, porque, 20 anos depois de criado, o Congresso não votou as leis para seu funcionamento. É muito dinheiro em jogo. O mercado mundial televisivo movimenta algo em torno de 470 bilhões de dólares por ano. Uma montanha de cédulas que promete ficar ainda maior quando os telefones 3G - capazes de captar imagens de TV - entrarem realmente no jogo da audiência. São 127 milhões de linhas de celulares habilitadas no Brasil contra cerca de 65 milhões de aparelhos de TV. Sem algum escudo para a produção nacional, vai ser briga de cachorro grande. E só para eles.
Créditos: Mauro Trindade / TV Press