Por mais que o jornalismo tenha se tornado impessoal, com o uso de aparelhos eletrônicos, ele ainda se baseia fundamentalmente no contato humano realizado através da entrevista.
Essa é a razão da permanência do simpático e acessível Sem Censura no ar. O programa, que volta a ser apresentado ao vivo a partir dessa segunda-feira, continua atraente exatamente por manter a entrevista no centro das atrações.
Pois é ela a base de todo o jornalismo, a despeito da importância da pesquisa documental ou do superdimensionado denuncismo de dossiês que alimentou a imprensa brasileira nos últimos anos.
É o entrevistado - ou, no jargão das redações, a fonte - que fornece a matéria-prima da notícia, de onde vão se desdobrar todos as outras seções de jornais, revistas e programas televisivos, das colunas aos editoriais, das resenhas às críticas.
Numa época na qual há muito espaço para textos opinativos, freqüentemente sem fundamentos, a notícia parece ter se tornado "commodity", ou seja, produto homogêneo com pequeno grau de processamento e de largo consumo.
Nada mais longe da verdade. Basta assistir a qualquer programa de entrevistas para saber por quê. O mesmo entrevistado, falando sobre o mesmo assunto com Jô Soares, Márcia Goldsmith, Joelmir Beting, Tino Marcos e Leda Nagle, que comanda o Sem Censura, terá cinco matérias variadas. A razão é a mais simples possível. São profissionais com formações e abordagens particulares.
Com a mistura de convidados promovida pelo programa, o Sem Censura se renova a cada dia. Muitas vezes a mistura "não dá liga" e as entrevistas se arrastam em temas que só ajudam o cochilo da tarde. Mas, como no dia-a-dia de qualquer pessoa, é do encontro de pessoas diferentes com atividades diferentes que saem os bate-papos mais interessantes.
Como pôr lado a lado o compositor João Donato, uma infectologista e um engenheiro elétrico? Ou a atriz Leona Cavalli com o escritor Nelson Motta? Em outras vezes são surfistas, médicos, professores, engenheiros, advogados, donas-de-casa e economistas ao lado de celebridades tão variadas quanto cantores de axé, músicos de jazz, atores teatrais e psicanalistas do porte de Luiz Alberto Py, Arthur Moreira Lima, Ivo Pitanguy, Ruy Castro e Moraes Moreira.
A despeito de algumas discussões mais acaloradas entre os convidados, o tom do programa é quase sempre ameno, sem o caráter denuncista ou profissionalmente indignado.
Leda Nagle coordena o programa com tranqüilidade ansiolítica. Mas a multiplicidade de temas e de personalidades torna o Sem Censura uma boa opção para as tardes televisivas.
Fonte: TV Press