O Planeta TV

"Ó, Pai, Ó" mostra dificuldades da regionalização da TV brasileira

por jeferson, em 08/11/2008


O projeto de integração nacional, que buscou unificar uma nação com enormes diversidades culturais e sociais através da televisão, fez muito mal ao País. Dispersou talentos, prejudicou iniciativas locais e aniquilou com a produção cultural de diferentes regiões, achatada sob uma concepção que semeou uma idéia de Brasil grande e homogêneo, durante o regime militar. As tentativas de se fazer uma televisão independente esbarram ainda hoje nessas dificuldades, como conta a minissérie Ó, Pai, Ó, da Globo.
A Bahia tem sido explorada há décadas em novelas e minisséries, que exaltam suas belezas naturais, de Verão Vermelho, de 1970, até Porto dos Milagres, de 2001, passando por Renascer, Pedra sobre Pedra e O Bem-Amado. Toda a adaptação da obra de Jorge Amado, dentro e fora do ciclo do cacau, teve destaque com Gabriela, Tieta, Quincas Berro D'Água e Dona Flor e seus Dois Maridos, entre outras.


É difícil, porém, classificá-las inteiramente como baianas, apesar da localização e da temática. A começar pelo sotaque, que costuma embolar prosódias tão diferentes quanto a do Recôncavo baiano com a do Recife. Na maioria das vezes, termina sendo apenas uma voz estridente e anasalada artificial, caso análogo aos caipiras da TV que se espalham de Minas ao Sul de São Paulo. Até hoje é difícil ouvir em rede nacional um sotaque mais carregado. A baiana Ticiana Villas Bôas, apresentadora do Jornal da Band, ainda é exceção.

Talvez por isso seja difícil compreender algumas passagens de Ó, Pai, Ó, com os atores do soteropolitano Bando de Teatro Olodum. A tomada de som precária e a iluminação um tanto tenebrosa prejudicam a minissérie. Mas ela mantém seu valor pela abordagem de uma cidade da Bahia que ultrapassa o meramente folclórico ou literário, a despeito do esquematismo de um ou outro personagem.

A trama não traz um humor rasgado como costumeiramente se espera de tipos nordestinos - cuja presença no Festival de Piadas, comandado por Tom Cavalcanti na Record, é exemplar, mas apresenta personagens construídos com veracidade. É caso do travesti Yolanda, de Lyu Arisson, e da comerciante Neusão, de Tânia Toko. Mateus Nachtergaele rouba a cena com o humor corporal de seu Queixão.

Parece difícil a idéia de uma televisão regional sem que sua produção tenha visibilidade nacional. Com exceção da CNT, criada nos anos 90, todas as outras redes de TV continuam entre Rio de Janeiro e São Paulo. A Globo, que produz praticamente todo seu conteúdo, tem 121 emissoras afiliadas em todo o país. Sobra Sudeste no Brasil.

Ó, Pai, Ó - Globo - Sexta, às 23h20min.


Créditos: Mauro Trindade / TV Press


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