João Emanuel Carneiro decidiu fazer um folhetim subversivo, mas sem exageros. Em A Favorita, novela das 9 da Globo, o autor revelou a identidade da assassina no primeiro terço da trama, transformou a mocinha Flora (Patrícia Pillar) em vilã da noite para o dia e, mais ainda, fez o público ter pena de uma perua socialite, Donatela (Cláudia Raia) - fadada a ser sempre a maldosa nas novelas. "Não sabia que as pessoas tinham tanta raiva de gente rica! As pessoas não perdoam os ricos! Se eu soubesse, teria tirado os 20 milhões de dólares de Donatela", brinca Carneiro, que não teme uma rejeição à mocinha da vez, apesar de Donatela agir, algumas vezes, de forma politicamente incorreta.
"O público foi enganado pela Flora! Eu fui enganado pela Flora!", fala o autor. "E tudo o que Donatela fez contra a Flora está justificado." Mesmo com essa certeza, Carneiro sabe que inovar em novela das 9 não é tarefa simples, uma vez que o público gosta do conforto dos folhetins mais clássicos. "Esse é o desafio. Arrumei um problema para mim e para o telespectador", diz Carneiro. "Essa novela pediu para que o espectador se coloque na trama."
O autor não quer se acomodar e promete uma novela completamente nova a partir desta semana. "A Favorita não foi uma novela espetaculosa no início, mas agora ela será mais espetacular e terá mais apelo popular." Segundo o ibope, a novela tem mais penetração nas classes sociais mais altas, mas Carneiro não quer ficar conhecido como autor de elite. "Escrevo uma novela popular. Agora o público vai ver uma novela mais normal, com a qual estão acostumadas."
Carneiro encontrou nessa novela em três atos a solução para a longevidade da trama. Para ele, os 200 capítulos são um exagero. "É longo demais! Então, farei várias novelas para eu não me encher das mesmas histórias, já que esse formato dos 200 episódios é cansativo", fala o autor. Para ele, o ideal é terminar uma novela em seis meses e não em oito.
Um novo ato
Durante brunch com jornalistas nesta quarta,6, o autor afirmou que essa mudanca marcou o fim do "primeiro ato" da novela, em que nem personagens nem audiência sabiam quem era a assassina: Flora ou Donatela. A partir de agora, A Favorita passa a ser um folhetim mais "tradicional" - o "segundo ato"-, em que o público conhece a verdade, em que há uma vilã e uma mocinha definidas. "O terceiro ato será a volta de Donatela, em que público e personagens já sabem a verdade", adianta o autor. Hoje, o autor terá a medicão dessa estratégia no primeiro grupo de discussão que a Globo realizará sobre a novela.
"O bom é correr risco. Poderia ter dado errado. Televisão é algo muito vivo", diz Carneiro, que não ignora o ibope, mas já faz uma leitura mais otimista dos números. "A novela teve baixa audiência, mas crescente. Ela nunca caiu no ibope. Há um público fidelizado."No capítulo de terça, 6, A Favorita teve 46 pontos de média de audiência. Cada ponto significa que 56 mil domicílios da Grande São Paulo estavam com seus televisores sintonizados na Globo no horário da novela.
Para o segundo ato, o autor promete trabalhar mais o elenco secundário e trazer mais humor à trama com a entrada da família de Dodi. "Ainda não houve escalação, mas vai ter o pai do Dodi, a irmã..." O personagem de Iran Malfitano continuará como ponto de humor mais caricato que lembra antigos personagens das tramas das 7 de Carneiro - Da Cor do Pecado e Cobras e Lagartos. Entre os personagens que guardam mistérios e segredos estão Silveirinha (Ary Fontoura) - claro! -, Alicia (Taís Araújo) e Cilene (Elizangela). Para aqueles que não aguentam mais ver Catarina (Lilia Cabral) sofrer, a vingança virá na pele de Paula Burlamaqui. Ela será a vizinha da Catarina que deixará Leo (Jackson Antunes) louco. Mas a loira vai se interessar por Catarina.
Créditos: Etienne Jacintho / O Estadão