Rakelli confunde oportunista com cartunista; diz que não pisa na casa de Robson (Marcelo Faria) nem com um, nem com dois, nem com três pés; pede para falar no telefone com o DNA; diz que ‘hoje é o dôzimo pior dia de sua vida’ e é capaz de pintar de amarelo o cabelo de uma cliente do salão Belezoca que gostaria de ter os fios acaju. “Qual é a cor do caju? Então, amarelo!”, defende-se. Com tantas mancadas em tão poucos capítulos de ‘Beleza Pura’, a personagem sem-noção vivida por Isis Valverde caiu no gosto popular. Mais ainda com seus modelitos coloridos, que viraram febre entre crianças e adolescentes.
A atriz sai em defesa da personagem e rejeita ser chamada de sem-noção ou infantilóide — por não ter o jeitinho ‘tatibitate’.
“Criei a Rakelli transgressora. Quando ela fala bobagens, não é simplesmente por ser burra, é porque ela tem o mundo dela. Rakelli é muito criativa, viva e sensível, quase uma ‘autista’. É um ponto de vista mais rico. Dessa maneira me seduz mais na hora de entrar em cena”, enfatiza Isis, feliz com a receptividade que vem percebendo do público.
“As crianças se identificam com a Rakelli porque a criei ingênua, não burra. Não tem maldade, é verdadeira”, completa.
Figurinista da novela, Natalia Duran vê com freqüência, nas ruas, os shortinhos e as minissaias coloridas usadas pela personagem. Para ela, o sucesso vem exatamente da facilidade e das diversas opções do visual.
“É basicamente roupa de malha e sandálias e bijuterias de plástico, bem coloridas. É possível usar roupas tanto do Saara como da Maria Bonita Extra para montar a Rakelli. O importante é ser divertido e dar personalidade”, explica ela. Isso sem falar no esmalte azul metálico, nova mania nos salões de beleza, e a bolsa em formato de cachorro.
Aos 21 anos, um a menos do que Rakelli, a atriz mineira de Aiuruoca filosofa para falar de seu amadurecimento desde do início da carreira, há dois anos, como a Ana do Véu de ‘Sinhá Moça’.
“Tento não igualar os personagens. Talvez a Rakelli tenha alguma coisa minha e a Ana do Véu também. Mas tento matar o personagem. Criei a Rakelli, mas na próxima novela vou destruí-la, matar, enterrar, fazer o tumulozinho dela rosa e vou ter outra personagem. Porque se você leva alguma coisa da personagem antiga para a nova o público assimila, o povo não é bobo”, diz ela, citando até a grande dama do teatro brasileiro.
“Fernanda Montenegro disse: ‘Até hoje não parei de estudar’. Então, me espelho nessas pessoas porque o mundo não pára. Li isso e fiquei louca”, conta, séria.