Núcleos familiares costumam fazer sucesso em obras de ficção. Se for uma turma engraçada, então, pode sustentar um programa sozinha. Em outubro de 1972, a Globo enxergou esse filão e lançou o programa A Grande Família, inicialmente uma versão da série americana All in the Family.
Os personagens eram quase que os mesmos da versão que a emissora exibe atualmente. As histórias, no entanto, muito diferentes. Em plena época de ditadura militar, o texto desenvolvido por Roberto Freire, e mais tarde por Oduvaldo Vianna Filho, era repleto de críticas sociais. A intenção era fazer um humor engajado. Mas de acordo com o ator Milton Gonçalves, que implementou o projeto como diretor, nem sempre era fácil. "Eu brigava para manter a estrutura de texto que o Roberto idealizava. Mas havia resistências internas", conta.
Milton lamenta que, quando o formato começava a se firmar como a equipe desejava, ele teve de se afastar do seriado. "O Oduvaldo Vianna Filho e o diretor Paulo Afonso Grisolli levaram o que nós tínhamos planejado às últimas conseqüências. Só aí passaram a considerar o programa um grande achado", queixa-se o ator.
Questionar a situação política que o Brasil vivia era um idéia tão marcante em A Grande Família que além dos filhos alienados Bebel e Tuco, os personagens Lineu e Nenê tinham mais um filho: o jovem contestador Júnior, interpretado pelo ator Osmar Prado. As falas do rapaz eram muitas vezes censuradas. A figura do estudante era essencial para o contexto da história na época e o papel foi "importantíssimo" em sua carreira. "Foi com esse trabalho que fui notado como ator. Mostrei que poderia fazer coisas legais", argumenta Osmar.
Na pele de Nenê, a veterana Eloísa Mafalda recorda que se divertia com os colegas durante os ensaios e as gravações. Jorge Dória é quem fazia o Lineu na época. Ao se comparar com a personagem que Marieta defende no programa de hoje, ela destaca a diferença cultural. "A minha Nenê era mais ignorante. Eu fazia cada pergunta burra para o Lineu. A personagem da versão atual é mais antenada", diferencia Eloísa.
Já a Bebel da época tinha apenas uma história, mas acabou ganhando duas intérpretes. A primeira foi a atriz Djenane Machado, que integrou o elenco apenas no primeiro ano de exibição. Depois, devido a problemas pessoais, ela foi substituída por Maria Cristina Nunes, que ficou no programa até o fim. Não foram dadas explicações aos telespectadores em relação à mudança de fisionomia da personagem, mas a nova atriz foi praticamente apresentada pelo novo elenco em seu capítulo de estréia.
"Segui minha intuição e não fiquei preocupada em pegar a personagem no meio do caminho. Deu certo e morro de saudades daquela época", conta Maria Cristina. A atriz diz ainda que se diverte muito quando acompanha as peripécias da atual Bebel, de Guta Stresser. "Adoro ela, mas é bem diferente do que eu fazia", compara. O ainda era formado ainda por Brandão Filho, como Seu Flor, Luiz Armando Queiróz, na pele de Tuco, e Paulo Araújo, como Agostinho.
Para quem faz A Grande Família de hoje, a primeira versão do seriado, mesmo que indiretamente, influencia de alguma forma. "Não acompanhava na época mas vi um especial feito pela Globo News e deu para ver o estilo daquela turma. O sucesso de hoje também tem a ver com essa nostalgia", defende Marieta Severo. Para Max Nunes, um dos roteiristas da série na década de 70, é fácil entender o sucesso do programa em qualquer época. "O segredo é a história estar centrada em uma família", simplifica.
Fonte: TV Press