Um dos pacotes turísticos mais populares existentes no Brasil inclui viagem aérea e hotel para Natal, dá direito a um passeio nas Dunas de Genipabu e a lenta descida de esquibunda, um escorregador em uma grande duna da região.
Pois foi o local escolhido, onde tranqüilas famílias se divertem, para as gravações da estréia de Conexão Xuxa, game show comandado pela apresentadora e apresentado como radical.
O programa, porém, não traz uma novidade sequer, à exceção de relegar à uma produção indigente aquela que já foi a animadora de programas infantis mais ousada e transformadora da televisão brasileira.
Depois de décadas de pequenos picadeiros televisivos, comandados por titios e titias, o Show da Xuxa, de 1986, deixou de tratar as crianças como bebês e incorporou no programa alguns aspectos que há muito estavam presentes na vida das crianças, em especial, uma explícita sensualidade que deixou mães e educadoras de cabelo em pé.
Comparados ao novo formato, o antigo modelo para televisão infantil tinha a animação de uma aula de boas maneiras. Xuxa oferecia uma festa a cada manhã.
Com isso, a apresentadora conseguiu alcançar 30 pontos no Ibope em 1988. O sucesso espraiou-se para os discos, que venderam mais de 30 milhões de cópias, e os filmes, com 17 milhões de espectadores. Mesmo que os resultados posteriores indicassem um envelhecimento da fórmula, Xuxa manteve-se como fenômeno de popularidade nas décadas seguintes.
Mas o atual TV Xuxa tem perdido em audiência dos concorrentes e já periga não permanecer na programação da Globo em 2008. O Conexão Xuxa parece ser assim uma tentativa de encontrar um novo nicho para um ídolo que não pode ser simplesmente dispensado.
Em outra emissora, com outras idéias e motivações renovadas, o fenômeno Xuxa poderia se tornar um problema ainda maior que os maus resultados dentro da casa que a celebrizou. Ruim com ela, muito pior sem ela.
Uma gincana eletrônica parece, assim, uma opção natural para quem trabalha há décadas com crianças e jovens e é capaz de emprestar sua imagem de beleza e de alegria ao programa. Entretanto Conexão Xuxa não se conecta com coisa alguma.
Como game show fica aquém da animação de similares. Não tem a menor originalidade nos quadros que tiveram uma produção preguiçosa e sem a menor criatividade. Não há ainda qualquer vocação realmente educacional, a não ser que conhecer a procedência marroquina dos dromedários de Natal seja relevante para o ensino fundamental.
E não há aventura e emoção no programa. Enquanto programas de viagem e de esportes radicais levam o espectador a Bali ou ao Grand Canyon, Conexão Xuxa não sai das capitais nordestinas na primeira fase.
Finalmente há um problema de enquadramento na atração. Em qualquer game show, o participante tem de ter algum destaque, para que a emoção de seu esforço pela vitória comova o espectador. Aqui todos são coadjuvantes da apresentadora, que termina sem interação com os outros participantes do programa. Tudo soa frio e forçado.
Tais dificuldades não são localizadas e refletem a necessidade de transformações mais profundas na grade da Globo ainda líder de audiência, mas que já sente os golpes de uma concorrência mais organizada e sistemática.
Dificuldades em acomodar programas e talentos já foram revelados nas mudanças ocorridas em programas de humor, e agora podem atingir o horário da manhã, flanco mais desguarnecido da Globo.
De forma mais ampla, Conexão Xuxa representa a dificuldade da emissora em encontrar um novo caminho. E, de maneira particular, um desperdício do carisma e da popularidade de uma apresentadora campeã de audiência.
Fonte: TV Press