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Alice Wegmann revela drama pessoal em gravação de cenas de abuso em Justiça

Na série original do Globoplay, Carolina, personagem de Alice Wegmann, é vítima de abuso pelo tio, vivido por Murilo Benício.

por Redação, em 25/04/2024

Foto: Reprodução/TV Globo

Alice Wegmann esteve no Encontro com Patrícia Poeta desta quinta-feira (25) para falar sobre Justiça 2, série de Manuela Dias, que estreou no dia 11 de abril no Globoplay. Na trama, Alice vive Carolina, que na adolescência, foi estuprada por dois anos pelo tio, Jayme, papel de Murilo Benício. Uma década depois, ao retornar para Ceilândia, a moça volta a ser vítima do criminoso; o episódio se torna a gota d'água e a jovem o denuncia. Assim, ele passa o período de sete anos preso.

No Encontro, Alice contou que a rotina vivida pela personagem na trama era tão tensa que ela acordava com dores nos dias seguintes das gravações.

"Muitas das cenas que eu fazia com o Murilo Benício, que foi um parceiro incrível esse processo todo, eu acordava com dores físicas no dia seguinte. Mesmo que não tivesse muito toque físico nas cenas. Às vezes, mesmo que não tivesse, eu acordava cheia de dores porque o emocional também mexe muito com isso"

Para viver a vítima de abuso na série, Alice contou ao gshow que perdeu 16 quilos para o papel. “Eu emagreci bastante para a personagem, acho que ela tem algo um pouco mais frágil mesmo, mais endurecida, sofrida", disse ela, em entrevista exclusiva, nos bastidores da série.

No ano passado, a atriz chegou a revelar que também tinha sido vítima de abuso. Alice explicou que, ao falar do seu caso, ela acabou falando sobre suas amigas e outras mulheres que também foram vítimas. "Esse meu relato nas redes sociais, eu abri isso justamente por saber que muitas das minhas amigas já passaram por isso, acho que a grande maioria, infelizmente", disse.

A atriz reforçou que muitas mulheres não falam sobre o abuso sofrido por vergonha e culpa, mas fez questão de dizer, além das vítimas não terem culpa, é importante falar sobre o tema para conseguir seguir em frente. "Eu sinto que a gente ainda tem muita dificuldade de assumir porque a vergonha é muito grande. A gente sente culpa sobre uma coisa que a gente não tem. As feridas tão muito abertas ainda. Então quanto mais a gente fala, mais a gente vai se curando", explicou.

Foto: Globo/Divulgação; Reprodução/Globoplay

Para abordar sobre violência sexual contra menores, Manuela Dias, autora da série, conta não ter se debruçado em nenhum caso específico, mas sim no panorama do país. “Me baseei na realidade infeliz que vivemos no Brasil e no mundo sobre abuso e violência contra a mulher, muitas vezes dentro de casa”, relata ela.

De fato, o drama da personagem reflete dados trágicos do cenário atual. Entre 2015 e 2021, foram registradas mais de 200 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes; 40%, cerca de 83 mil, em crianças; 119 mil, quase 60%, em adolescentes, de acordo com boletins do Ministério da Saúde.

Justiça 2 aproxima ainda mais da realidade ao retratar o predador sexual na figura do tio que violenta a sobrinha e ainda vem ser o provedor da casa. Na faixa dos 10 aos 19 anos, em específico, 92,7% das vítimas são meninas, enquanto em 86% dos casos, o agressor é um homem e, tal qual na série, a maioria tem como agressor alguém da família – 58,4% dos crimes.

"A personagem é vítima de um crime irreparável. Esse é um ponto fundamental sobre alguns crimes, nada do que a Justiça faça, mesmo que o criminoso seja punido, a ferida continuará lá. O tio vai preso, a mãe acaba se modificando profundamente e defende Carolina, mas nada apagará os dois anos de abuso que ela sofreu. Crimes assim, estabelecem um paradoxo sobre a Justiça, sobre a própria possibilidade de existir Justiça.", explica Manuela Dias.

“Poder econômico é um pilar do exercício tanto da masculinidade como do machismo na nossa sociedade”, contextualiza a autora. “O abuso somado ao fato de o tio ser o provedor da família inteira gera uma sobreposição de poderes. A reação da família na série é revoltante. O pior é que ela está em consonância com o que vemos acontecer todos os dias.”

Como agir em casos de violência sexual

Formas de amparo às vítimas são um tema em constante discussão nas instâncias legais. Em dezembro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que aumenta o prazo de prescrição de crimes sexuais contra jovens. Antes, eram apenas três anos; agora, a partir do momento que a vítima completa a maioridade, ela tem até 20 anos para denunciar o abuso.

Titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), Fernanda Fernandes diz que são frequentes episódios no qual a família desacredita o jovem.

“(São) Muito comuns. Ou por quererem evitar um escândalo familiar ou por não acreditarem que uma pessoa próxima pudesse praticar abusos contra a criança”, explica a delegada. “O adulto tem o hábito de não validar o que a criança fala, acreditando que seja mentira ou o fato tenha sido fantasiado pela menor.”

Para cenários no qual o predador é o principal provedor da residência, Fernandes reitera a importância de registrar o crime e solicitar medidas protetivas por meio da Lei Henry Borel e buscar a rede de apoio e proteção a vítima e sua família. Além disso, vale agir mesmo em casos que não sejam do próprio núcleo familiar.

"(É importante) Nunca duvidar da vítima, acolhê-la com carinho, sem questioná-la sobre o ocorrido. Procurar a delegacia mais próxima para registro e denunciar no conselho tutelar", reitera a delegada.

Onde denunciar

  • Polícia Miliar - 190: quando a criança está correndo risco imediato
  • Samu - 192: para pedidos de socorro urgentes
  • Qualquer delegacia de polícia
  • Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa
  • Disque 180: é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher

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