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Autores usam recurso de situações-clichê em novelas

por jeferson, em 16/02/2008


Cada vez mais os autores recorrem a velhos clichês da teledramaturgia. Pressionados pela crescente quantidade de capítulos e pela busca de maneiras diferentes de contar velhas histórias, os escritores repetem os conflitos, mas principalmente os recursos para contá-los.

Situações manjadas, como o famoso "quem matou?", cartas que escondem grandes segredos e personagens que escutam atrás das portas são truques mais antigos que a carta na manga ou o coelho da cartola.

Algumas artimanhas dependem da época na qual a história se passa. Em novelas de época, por exemplo, o teste do DNA para saber a paternidade - cada vez mais corriqueiro nas tramas - ou o celular esquecido, se tornam inviáveis.

Em contrapartida, nas histórias passadas há algumas décadas, fica mais fácil sustentar grandes desencontros entre os mocinhos, já que existiam poucos recursos de comunicação, sem Internet ou celular, por exemplo.

"Não dá para fazer novelas sem esses recursos, mas eles não podem ser forçados. Se a novela tivesse menos capítulos, até seria possível", analisa Andrea Maltarolli, autora de Beleza Pura, da Globo.

No entanto, é importante que os autores não utilizem essas tecnologias como o caminho mais fácil na condução de uma trama. Senão, cada vez mais as novelas ficam parecidas, sem personalidade e com os mesmos atalhos que fazem com que muitos folhetins, de tão previsíveis, tenham aquela típica sensação de "déjà vu".

Para o autor Marcílio Moraes, os mal-entendidos óbvios das novelas, como desencontros forçados, comprometem o resultado da história. "O uso excessivo dos recursos é sinal de uma dramaturgia pobre, indigente. As tramas têm de evoluir através dos conflitos dramáticos. Uso o menos possível situações-clichê, como coincidências inverosímeis", aponta.

Ricardo Linhares, que assinou com Gilberto Braga Paraíso Tropical, assegura que todos os recursos são válidos para agilizar as histórias. "São quase 200 capítulos numa novela. É preciso matar um leão por dia. O 'quem matou Taís' mobilizou o público e trouxe muita repercussão", defende Ricardo.

"O 'quem matou' tem salvado novelas em dificuldades. Nunca usei. Pode ser interessante se for planejado, como em boas histórias policiais", observa o autor Lauro César Muniz.

Para Antônio Calmon, que sempre escreve tramas com temáticas de vampiros, histórias em quadrinhos ou surfe, as bases da dramaturgia necessitam de velhos clichês para a condução das histórias. "Isso facilita para o autor e cria suspense, agonia e mistério para o telespectador", salienta Calmon.

Se, nas tramas contemporâneas, todos os recursos clichês são permitidos, os autores se deparam com algumas dificuldades nos folhetins de época. Como os costumes, a moral, os avanços tecnológicos e o comportamento de tramas antigas retratam uma realidade bem distante da atual, os autores precisam conduzir estas histórias sem tantos lugares-comuns.

"Os mistérios ficam mais difíceis de solucionar e a distância volta a existir entre os personagens", exemplifica Ana Maria Moretzsohn. "Hoje em dia, um personagem pega um jatinho, um helicóptero. Os deslocamentos em tramas de época são lentos e isso modifica totalmente a forma de contar uma história", destaca Ricardo Linhares.

Apesar de grandes aliados dos autores, o uso demasiado dos velhos clichês da dramaturgia também pode ajudar a afastar o público diante de enredos cada vez menos críveis.

"Tudo é válido. Só não dá para apelar para a vulgaridade e deixar personagem pelada em flagras de traição bem clichês", avisa Silvio de Abreu.

Para Lauro César Muniz, manter a essência dos personagens é fundamental. Segundo ele, seu maior pecado com o uso desses recursos foi em Zazá, onde a protagonista homônima, uma milionária divertida e excêntrica, de Fernanda Montenegro, perdeu toda a sua fortuna de uma hora para outra.

"Ela se perdeu e eu perdi minha novela nesse clichê dos ricos que viram pobres. Foi o erro mais grave que cometi em toda minha carreira como novelista. Se for cair nos clichês, que seja com dignidade", ensina Lauro.

Fonte: TV Press


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