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Autores e diretores comentam revolução de audiência na TV

por jeferson, em 09/12/2007


O mundo mudou e a maneira de fazer ficção na televisão brasileira, em alguns casos, também.

Novas tecnologias foram incorporadas ao dia-a-dia da produção de quem faz novela e autores novatos prometem histórias repletas de inovação. Mas isso não basta para melhorar as atuais médias de audiência dos folhetins.

Desde os anos 60, a Globo passou a produzir tramas e, em pouco tempo, praticamente monopolizou o mercado. Alcançar 50 pontos no Ibope era algo corriqueiro até poucos anos em uma novela das oito.

Belíssima, de 2005, alcançou essa marca. Com a atual Duas Caras, no entanto, há comemoração se conseguem chegar aos 45. Wolf Maya, o diretor da trama, confirma. "Antes de completar um mês no ar, Duas Caras alcançou 45 pontos. E, na época em que vivemos, muita gente vê novela na Internet. Essa audiência não é computada", polemiza Wolf.

Ele não é o único a apontar a Internet como a culpada pelos baixos números. Marcos Paulo, que dirige Desejo Proibido, atração do fim de tarde, afirma que não é possível comparar os dias de hoje com o tempo em que só existia o rádio e a televisão.

Para ele, não dá para querer alcançar as mesmas marcas de 10 anos atrás, e as novelas tiveram de se modificar para acompanhar as mudanças que acontecem ao redor. "Para segurar os telespectadores, é preciso criar novelas com mais elementos, vários protagonistas. E uma boa história é sempre o mais importante", defende.

O curioso é que a atual novela das seis da Globo tem tudo isso, mas não consegue passar dos 23 pontos, resultado inferior ao da antecessora Eterna Magia, que ficava em torno dos 26 e já era considerada mal-sucedida.

De acordo com pesquisa do Ibope/NetRatings, a quantidade de usuários de Internet no Brasil aumentou. Números de setembro de 2007 apontam um crescimento de 47% em relação ao mesmo período de 2006, o que significa 20,1 milhões de internautas residenciais.

Se forem considerados locais de trabalho e ambientes públicos com acesso à rede, essa marca sobe para 36,9 milhões. Mesmo assim, na Record, o supervisor de teledramaturgia e autor de Caminhos do Coração, Tiago Santiago, não acredita que a Internet tenha um peso tão grande. "A queda de audiência dos folhetins da Globo se deve à ascensão dos números da Record", enfatiza.

A opinião de Tiago é endossada por Luiz Carlos Maciel, supervisor de texto de Amor e Intrigas. Por mais de 20 anos, ele trabalhou no controle de qualidade da Globo, acompanhava as novelas da emissora desde a criação da sinopse.

"O que acontece é que as fórmulas da Globo se esgotaram e eles não conseguem inovar", ataca Luiz Carlos. Para ele, uma novela como Vidas Opostas trouxe inovações substanciais, pois havia uma preocupação social com uma classe que sempre foi omitida.

Enquanto isso, a Globo patinava em superficialidades. "Não adianta fazer uma novela com personagens que têm nome em inglês e temática de faroeste", critica, referindo-se a Bang Bang, um dos maiores fracassos dos últimos tempos na Globo, com média de 25 pontos.

O que deve ser levado em conta é que sucesso na Record é uma novela que mantém a média de 17 pontos, como Prova de Amor. É um resultado que comprova o fim da era das audiências massacrantes. Como defende Marcelo Tas, roteirista de programas de tevê que atualmente está na TV Uol. "A tendência é a pulverização da audiência. Minha geração toda sentava para ver quem matou a Odete Roitman. Hoje cada membro da família olha para uma tela diferente", diz.

Para Marcelo, a televisão vai ter que descobrir como lidar com o novo público que, além da Internet, hoje tem a tv a cabo, o DVD e o video-game. "Não é mulher pelada que vai salvar a novela das oito. A televisão sempre fez a grade que quis, mas vai ter que parar de subestimar a inteligência das pessoas", critica.

Como tudo o que é novo, a crise de audiência da televisão deixa os profissionais do meio inquietos. De uma forma geral, até pela falta de concorrência, a televisão sempre se preocupou mais em investigar o que fracassa do que o que dá certo na programação. Mas na era da competição com outras mídias, essa estratégia já começa a ser repensada.

"São outros tempos mas não posso me conformar com os baixos números. Estou tentando entender o que atrai o público para uma novela hoje", confessa Jorge Fernando, diretor de Sete Pecados, que mantém média de 30 pontos, marca que a Globo não considera mais do que razoável.

Fonte: TV Press


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