As novelas geralmente rendem fama e glamour aos atores. Mas também exigem horas de trabalho sem parar, não dão o devido tempo para o profissional se preparar, além de pedirem dedicação exclusiva, inviabilizando projetos paralelos.
É por isso que, mesmo sendo o principal produto da teledramaturgia brasileira, os folhetins deixam de atrair muita gente. Com programas próprios na TV, carreira consagrada no teatro ou no cinema e vida financeira estável, não são poucos os atores que preferem dizer não a um compromisso que dura praticamente um ano.
Um deles é Diogo Vilella. "Não sinto falta de fazer novela. Se surgisse um papel maravilhoso talvez eu topasse. Porque ator vive de bons papéis", enfatiza Diogo, o Arnaldo do humorístico Toma Lá, Dá Cá. Sua última novela foi a mal-sucedida As Filhas da Mãe, de 2001.
Mas não é só a indefinição de ter ou não um bom personagem em mãos que afugenta alguns nomes das tramas. "Bom personagem é o ator quem faz", defende Luíz Fernando Guimarães.
O veterano, que atualmente interpreta o consultor sentimental Santiago em Dicas de Um Sedutor, até admite que sente saudade de fazer novela. Mas acha que o envolvimento do profissional no conjunto da produção é muito superficial e, como ele já toca projetos diferentes há bastante tempo, acredita que dificilmente se encaixaria em um folhetim.
"Gosto de interferir na criação, dar minha opinião. Nas novelas você grava e pronto. Como hoje são vários núcleos, você nem encontra alguns colegas de elenco", critica Luíz Fernando, que desde de Uga Uga, em 2000, não fez mais novelas e dedica-se a programas próprios na grade de programação da Globo.
Denise Fraga também conquistou a tão almejada estabilidade elaborando seus próprios quadros para o Fantástico. Ela é contratada da Globo desde 1998, mas o último folhetim em que atuou foi no SBT, Sangue do Meu Sangue, de 1995.
Recentemente, esteve na minissérie Queridos Amigos mas deve voltar em breve com um novo quadro no programa das noites de domingo da Globo.
"Os projetos que elaborei sempre deram muito certo para mim e para a emissora. Então não tem porque deixar de fazer isso para fazer novela", justifica a atriz, que mora com a família em São Paulo e tem a comodidade de produzir tudo com o marido Luiz Villaça na cidade, sem ter de se deslocar para os estúdios do Projac, localizado no Rio.
Outro que pode selecionar seus convites e chegou a dizer não para Gilberto Braga em Paraíso Tropical, quando foi chamado para interpretar o vilão Olavo, é Selton Mello.
Ele nunca escondeu sua preferência pelo cinema e conseguiu construir uma carreira sólida distante da TV. "Novela consome muito tempo além de levar o ator a viver sempre o mesmo tipo de personagem", defende Selton.
E, mesmo entre atores que não estão há tanto tempo longe de um folhetim, há resistência. Wagner Moura foi o centro das atenções no papel de Olavo, em Paraíso Tropical. Ainda assim, não abre mão de se dedicar ao teatro e alternar a TV com os palcos e o cinema.
Para ter a liberdade de analisar bem cada convite e defender bons personagens em uma novela, Wagner não assina longos contratos. "Continuo assinando por obra", diz.
Até nomes consagrados da casa não escondem o cansaço que é se dedicar meses a uma trama. Antonio Fagundes, por exemplo, só aceitou o convite para interpretar Juvenal Antena em Duas Caras porque pôde ficar um pouco mais folgado enquanto esteve à frente de Carga Pesada. "Não planejava voltar. Mas admito que descansei desse ritmo de novela e não pude negar esse convite", resume.