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Que Rei Sou Eu?

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

Uma novela inesquecível para quem via televisão em 1989 foi “Que Rei Sou Eu?”. A trama, exibida às 19h na Globo, era ambientada no reino de Avilan, em 1786, pouco antes da Revolução Francesa, e tinha tudo que um autêntico “capa-e-espada” tem direito: muitas cenas de ação, lutas de esgrima, invasões ao castelo e perseguições.

A comédia foi protagonizada por Edson Celulari e Giulia Gam (os dois repetiriam a parceria em “Fera Ferida”, quatro anos mais tarde). Ele viveu Jean-Piérre, um rebelde, filho bastardo do rei Petrus II, e tentava derrotar os vilões de Avilan e se apossar em definitivo da coroa. O galã era disputado por duas mulheres: Aline (Giulia) e Suzanne (Natália do Vale).

Na história, a histérica rainha Valentine (Tereza Rachel) assume o trono após a morte do rei, e o mendigo Pichot (Tato Gabus) também é coroado, pela suposta falta de herdeiros. Ela era facilmente manipulada por cinco conselheiros reais, cabendo a Bergeron (Daniel Filho) abrir seus olhos para as armações.

A novela de Cassiano Gabus Mendes misturava comédia com críticas sociais ao Brasil de então. O rei Petrus II, morto no primeiro capítulo, é associado a Tancredo Neves, que morreu sem assumir a presidência do país, em 1985. Até o discurso da rainha é parecido com o da imprensa na época. “Eles está muito doente e já não consegue tomar decisões”. Instabilidade da economia, corrupção, planos econômicos que não dão certo, moeda mudando de nome eram problemas que os brasileiros passaram a dividir com os moradores de Avilan.

Stênio Garcia teve uma atuação memorável na pele de Corcoran, o bobo da corte. Ele aparecia careca na tela, e sua caracterização levava 1 hora e meia. Ravengar, o bruxo do condado, foi um papel de destaque na carreira de Antônio Abujamra. Marieta Severo interpretou Madeleine, a única mulher do reino que sabia escrever. E Dercy Gonçalves fez uma participação como a Baronesa Lenilda Eknésia mãe da rainha.

Os atores tiveram aula de acrobacia, dança, esgrima e malabarismo para compor os personagens. O figurino de época ficou impecável, com direito a perucas brancas como as que se usava no tempo da corte. Outras referências do tempo medieval foram a guilhotina (que nunca funcionava) e a máscara de ferro, usada por Jean Piérre ao ser preso.

Em uma época em que não existia o Projac (inaugurado apenas em 1995), a cidade cenográfica tinha 2200 metros quadrados de área construída, com um palácio de 30m de frente e 26m de altura, e uma vila com 14 casas. A abertura mostrava pessoas duelando desde os tempos pré-históricos, sob música “Rap do Rei”, composta pelo então vice-presidente de operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

A aceitação do público derruba a teoria aplicada para tentar explicar o fracasso de “Bang Bang”, em 2005. Dizia-se que o faroeste, um dos maiores fiascos globais dos últimos anos, não deu certo por estar cheio de nomes estrangeiros e se passando em um ambiente bem diferente da realidade. “Que Rei Sou Eu?” já provara que, quando há uma boa história, isso não é verdade.

A média geral foi de 61 pontos. Tamanho sucesso fez com que fosse reprisada na “Sessão Aventura”, às 17 horas, menos de 40 dias após ter chegado ao fim, em um compacto de 50 capítulos. Curiosamente, assim como “Vamp” (outro grande folhetim das 19h), nunca passou no “Vale a Pena Ver de Novo”. Seria uma boa opção, 20 anos depois, ao invés de se fazer um remake (o que por enquanto não é cogitado).


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