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Hippies e alta sociedade se misturam em “O Cafona”

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

No início dos anos 70, Bráulio Pedroso levou ao ar uma novela que conseguia divertir o público e satirizar a alta sociedade carioca. “O Cafona” foi a primeira trama do autor na Globo, depois do sucesso de “Beto Rockefeller” na TV Tupi, entre 1967 e 1968.

Francisco Cuoco era o protagonista Gilberto Athayde, um viúvo que transformou sua vendinha de subúrbio em uma cadeia de supermercados e passou a ter a amizade disputada pelos milionários por causa de seu dinheiro. No amor, ele vivia entre Beatriz (Tônia Carrero) e Malu (Renata Sorrah).

Novos-ricos conviviam com ex-milionários que não perdiam a pose e comentavam as colunas sociais de Zózimo Barroso e Ibrahim Sued. Tanta semelhança com a realidade fez “O Cafona” ser a primeira a vir com os créditos "Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas ou com fatos reais terá sido mera coincidência" no final. A alta sociedade da época reclamava de se ver caricaturada na TV. A novela satirizava a si própria: sonhando com o estrelato, Shirley Sexy é chamada para participar de “O Cafona” (!).

Bráulio seria uma mistura de Manoel Carlos com Carlos Lombardi? Ou um Gilberto Braga às avessas? Difícil responder sem ter assistido. Infelizmente restaram apenas pequenos fragmentos da trama, exibida em 1971. Naquela época as fitas eram reutilizadas por economia (!). O que se poupou foi nada perto da perda para a memória televisiva.

A novela foi exibida às 22 horas – sim, a Globo já teve essa faixa destinada à teledramaturgia, assim como a Record atualmente. Por causa do sucesso nas vendas dos LPs, foi a primeira a contar com trilha internacional, o que passou a ser comum desde então. Falando no lado musical, Marília Pêra, loira, cantava o tema de sua personagem, Shirley Sexy. Maysa também fez uma participação na história, na pele de Simone.

Além da high society, havia também um núcleo de hippies, que contava com Rogério (Carlos Vereza), Cacá (Osmar Prado), Julinho (Marco Nanini) e Lúcia Esparadrapo (Djenane Machado), liderados pelo Profeta (Ary Fontoura), o guru das praias. Juntos, eles queriam fazer o filme "Matou o Marido e Prevaricou com o Cadáver", uma sátira a “Matou a Família e Foi ao Cinema”, de Nelson Rodrigues, dirigido por Neville D’Almeida em 1967.

Já deu pra perceber que o elenco era de primeira, com grandes nomes que estão na TV até hoje. Havia ainda Paulo Gracindo (Fred), Eloísa Mafalda (Margarida), Elizângela (Dalva) e Roberto Bonfim (Lazão). O autor viria a repetir a fórmula de criticar a alta sociedade ainda em O Bofe (1972), O Rebu (1975) e O Pulo do Gato (1978).


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