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"Gabriela" está de volta!

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

Várias obras da literatura obtêm sucesso quando são adaptadas para a TV. Com "Gabriela, cravo e canela", de Jorge Amado, não foi diferente. Exibida originalmente em 1975, a história que levou Sônia Braga ao estrelato estará de volta em uma nova versão, em 2012, às 23h, mesmo horário em que o remake de "O Astro" fez sucesso em 2011.

A ideia de levar às telas a história do escritor baiano havia surgido para comemorar os 10 anos da Globo. Agora, a motivação é o centenário de Jorge Amado. Em 2005, a Record sonhava em refazer os passos de Gabriela, com Juliana Paes como protagonista, mas o projeto não foi adiante.

A Globo deu a Walcyr Carrasco a missão de readaptar o livro. Confesso que vejo a escolha dele com ressalvas (acredito que Carlos Lombardi exploraria melhor a sensualidade baiana). Se tivermos o Walcyr de "Xica da Silva" (1996) ou o que assumiu parte dos capítulos de "Esperança" (2002) quando Benedito Ruy Barbosa ficou doente, não há com o que se preocupar. Agora se o autor levar para as 23h o estilo das 19h, o remake corre o risco de virar um pastelão e afastar o público, que reconheceria o mais do mesmo rapidamente e se desinteressaria – afinal é preciso um bom motivo para ficar acordado até tarde.

Elizabeth Savalla, que estreou em "Gabriela" como Malvina, terá papel garantido na trama – afinal, ela está em todas as novelas de Carrasco desde "A Padroeira" (2001). Que desta vez ela não se repita. É uma boa atriz e funciona bem em comédia – o que provou em "Quatro por Quatro" (1994) – mas deveria trabalhar com outros autores do que ganhar sempre o mesmo papel nas novelas do autor. Como fez Ana Lúcia Torre, que deu um tempo de Walcyr, (que nem sempre lhe dava boas personagens) e brilhou como a tia Neném de "Insensato Coração", de Gilberto Braga.

Enfim, voltando, Gabriela se passa em Ilhéus, na Bahia, em 1925, quando uma seca obriga os nordestinos a migrarem para outras cidades e regiões. A órfã Gabriela consegue emprego de cozinheira na casa de Nacib (nascido na Síria mas com fama de turco) e os dois acabam vivendo um romance e se casando. A moça logo se transforma no objeto de desejo da cidade e protagoniza a cena clássica em que, de vestido bem curto, sobe no telhado para pegar a pipa de um criança.

Malvina era uma mulher que "causava" para a época em que se passava a história. Além de recusar um casamento arranjado pelos pais, ela se envolve com Rômulo, que era desquitado. A atriz ganhou a personagem após teste representando uma cena de "Escalada", também de 1975, com o então marido, Marcelo Picchi.

Heloísa Mafalda (que infelizmente está afastada da TV devido a um problema de saúde) teve um de seus papéis de maior destaque como a cafetina Maria Machadão, do cabaré Bataclan. A crítica social estava ali, em plena época de ditadura, através do coronel Ramiro Bastos (Paulo Gracindo), fazendeiro que domina a região e reelege políticos em eleições forjadas.

Em um tempo no qual o Projac era um sonho distante, a solução para não se deslocar até a cidade baiana foi aterrar uma área de 1.200m2 em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, instalar uma caixa d’água de 16 mil litros, além de um transformador de 50kw para iluminar o local. A cidade de Maricá (RJ) serviu de locação para as gravações na caatinga.

A escolha da protagonista, assim como agora, não foi fácil. Daniel Filho confessou que chegou a convidar Gal Gosta, intérprete da canção de abertura, "Modinha para Gabriela", para o papel, mas ela recusou, dizendo que não sabia atuar. Vários testes foram feitos, mas ele queria Sônia Braga, por quem se encantara quatro anos antes, ao vê-la atuando em um "Caso Especial". Ela voltaria a interpretar a personagem 8 anos depois em um filme homônimo, no qual, já em carreira internacional, contracenava com o italiano Marcello Mastroianni.

Os primeiros vinte dos 132 capítulos de "Gabriela" foram gravados com apenas uma câmera fixa. Com a entrada de Mundinho Falcão (José Wilker), símbolo da modernidade e mudança, as câmeras ganharam mobilidade e passaram a acompanhar os personagens.

Escolhida pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como a melhor novela de 1975, a história foi a primeira do gênero a ser vendida para Portugal e abriu caminho para a exportação de outras, como "A Escrava Isaura", que conquistou o mundo no ano seguinte.

"Gabriela" ganhou algumas reprises – com 70 capítulos entre janeiro e maio de 1979, e entre outubro de 1988 e fevereiro de 1989, esta dentro do "Vale a Pena Ver de Novo". Houve ainda um compacto em 12 capítulos, às 22h15, em junho de 1982. Uma nova atriz deve ser alçada ao posto de estrela – e pode conquistar o mundo novamente em 2012. É aguardar os próximos 60 capítulos.


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