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Caverna do Dragão – clássico de volta às manhãs globais

Por: Jonathan Pereira E-mail para contato: [email protected]

Recentemente fomos presenteados com a volta de um dos melhores desenhos animados de todos os tempos. No desespero para recuperar a audiência do horário da manhã - a Record assume com freqüência a liderança com o Hoje em Dia, e o SBT, com os desenhos do Bom Dia & Cia -, a Globo voltou a exibir Caverna do Dragão, dentro do TV Xuxa.

Quem foi criança nos anos 80 lembra com saudade das aventuras dos seis jovens que, após embarcarem em uma montanha russa em um parque de diversões, vão parar em um outro mundo e precisam enfrentar monstros e vilões para tentar voltar para casa. Eles contam com a ajuda do Mestre dos Magos, um anão de longos cabelos brancos e roupa vermelha, que sempre aparece com conselhos enigmáticos e desaparece sem ser visto.

Nesse mundo - chamado apenas de Reino, mas com várias referências a épocas passadas da Terra (idade média, escravidão, feudalismo) -, eles recebem armas mágicas, com as quais se defendem. Hank, o líder do grupo, tem um arco com flechas luminosas; Eric, um escudo; Sheila, uma capa que a deixa invisível, Presto, um chapéu de feiticeiro; Diana, uma vara; e Bobby (irmão de Sheila, única criança do grupo), um tacape.

O principal inimigo, o Vingador, tenta tomar as armas mágicas dos jovens e impedi-los de voltar para casa. O único medo do vilão é Tiamat, um dragão de 5 cabeças. O Demônio das Sombras, aliado do Vingador, aparece de vez em quando. E Uni, a unicórnio inseparável de Bobby, desperta amor ou ódio nos telespectadores (às vezes, quando o grupo está quase voltando para casa, desiste por causa dela).

A série, inspirada no jogo de RPG Dungeons & Dragons – quando RPG nem era famoso por aqui - é rica em simbolismos e envolve crianças e adultos. Foram produzidos apenas 27 episódios - exibidos originalmente entre os anos de 1983 e 1986. O episódio final infelizmente nunca foi produzido – a Dungeons & Dragons Corp. fechou - a série foi cancelada e nossos jovens jamais voltaram para casa.

Os momentos engraçados são garantidos com as mágicas desastradas de Presto e as coisas que dão errado com Eric. O desenho sugere (muito de leve) um romance entre Hank e Sheila.

É muito difícil escolher o melhor episódio. Um dos melhores a meu ver é “O Cemitério dos Dragões” quando eles se revoltam por não voltar para casa. Bobby chora e desabafa: “Eu estou cansado de tudo isso. Eu quero o papai, quero a mamãe...”. O Vingador os ataca e fere Uni. Bobby diz: “Não se preocupe comigo, Sheila, preocupe-se com o Vingador”. Em dado momento Sheila diz para Hank. “Eu estou preocupada com o Bobby. Ele é apenas uma criança e está com muita raiva”. Movidos pelo ódio e a vontade de sair de uma vez de lá, eles decidem derrotar o Vingador e contam com a ajuda de Tiamat. Os seis agem em conjunto e, quando o Vingador está prestes a ser aniquilado, Hank o liberta, dizendo que, se o matasse, não provaria que é melhor que ele. Episódio de uma densidade dramática única em um desenho animado.

Em outro, eles se separam e, em determinado momento, têm de enfrentar seus medos. Bobby vira um bebê, Diana envelhece, Hank acha que não é um bom líder, Presto perde os óculos, Eric fica feio e Sheila, sozinha. Em resumo, várias vezes ao longo da série os personagens passam por conflitos psicológicos incomuns para desenhos infantis.

Nessa volta às manhãs globais, a emissora exibiu os episódios na ordem, o que foi muito bom para quem queria curtir novamente a aventura desde o início. Algumas vozes mudaram nos desenhos da última temporada (como a de Vingador e Eric, por exemplo). A riqueza de detalhes desse mundo perdido e as possibilidades de voltar para casa são bem exploradas.

A lenda na Internet sobre o que seria o final da série ganhou versões bizarras: os garotos não retornaram para casa porque na verdade teriam morrido e estavam no inferno, no qual o Vingador e o Mestre dos Magos seriam o Demônio, e Uni, sua ajudante. Tiamat seria um anjo que tentava avisá-los disso.

Uma mentira contada muitas vezes acaba se tornando verdade. De tanto ler sobre isso, muitos até acharam que fazia sentido, esquecendo-se que, por mais que Caverna do Dragão se distanciasse da linguagem infantil dos desenhos animados convencionais, exibir um episódio desses para crianças seria inconcebível e altamente polêmico.

O roteiro do que seria o verdadeiro último episódio, Requiém, está disponível na internet: resumindo brutalmente, eles têm a missão de encontrar uma chave que, no fim, liberta o Vingador de sua maldade. O Vingador é filho do Mestre dos Magos. Eles têm finalmente a chance de voltar para casa sem que nada os impeça. O Mestre dos Magos lhes dá a opção de voltar ou ficar. A câmera abre e o desenho termina.

Há especulações sobre qual seria o elenco ideal para um filme da série. Foi produzido um em 2000, com o título original do RPG, Dungeons e Dragons, mas sem os personagens do desenho.

Pena que foram produzidos apenas 27 episódios. Talvez tenha sido melhor que não houvesse fim. Isso mantêm viva em nós a vontade de acompanhar de novo e torcer para que eles voltem para casa. Para nossa casa.


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