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Castelo Rá-Tim-Bum: 20 anos de magia, educação e diversão

Uma das séries educativas de maior audiência da TV Cultura completa 20 anos, ficando definitivamente gravada na cabeça de toda uma geração.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Imagine um castelo no meio da cidade? Agora imagine que nesse castelo existe um bruxo chamado Dr. Vitor (Sergio Mamberti), sua irmã também bruxa chamada Morgana (Rosi Campos) e um sobrinho sem aptidão nenhuma para mágica, mas que com seus 300 anos não pode ir a escola e por isso se sente muito sozinho. Sim, esta é a história de Nino (Cássio Scapim) e sua rotina no Castelo Rá- Tim- Bum.

Sempre sozinho, o menino resolve usar mágica para trazer outras três crianças para brincar com ele: Pedro (Luciano Amaral), Biba (Cinthya Rachel) e o pequeno Zequinha (Freddy Allan). A amizade entre eles é imediata. Enquanto Nino conhece o mundo além das paredes do castelo devido a relatos dos novos amigos, Pedro, Biba e Zequinha conhecem a magia que habita no local e seus demais moradores.

Além de Dr. Victor, Morgana e Nino,o Castelo é lar de outros seres, como Celeste (Álvaro Petersen Jr.) - a metida cobra rosa; Gato Pintado (Fernando Gomes) - que cuida da biblioteca; Mau (Cláudio Chakmati); Godofredo (Álvaro Petersen Jr.); os sapatos Tap e Flap (Théo Werneck e Gerson de Abreu); João de Barro e suas patativas, que sempre apresentam um instrumento musical no quadro Que som é esse?; o Relógio (Fernando Gomes); o Porteiro (Cláudio Chakmati)que sempre exigia uma senha para poder abrir as portas do castelo; a gralha Adelaide (Luciano Ottani) fiel acompanhante da bruxa Morgana; as fadas Lana (Theresa Athayde) e Lara (Fabiana Prado), os dedos cantantes da Dedolandia/Fura Bolos (Fernando Gomes), os irmãos gêmeos Tíbio  ( Flávio de Souza) e Perônio (Henrique Stroeter) e o Ratinho feito de massa de modelar (Marcos Magalhães).

Foto: Divulgação

Além de seus moradores, o Castelo Rá-Tim-Bum exibia quadros que conquistavam o público infantil, entre eles: Como se faz que apresentava a maneira como determinado objeto era feito. O quadro era narrado em forma de vídeo clipe na voz de Wandi Doratiotto. Além desse eram exibidos os quadros: Lavar as Mãos, uma música cantada por Arnaldo Antunes que ensinava noções de higiene as crianças: Poesias Animadas que eram contadas quando determinado abria um livro na biblioteca, Caixinha de Musica que mostravam bailarinos dançando diversos ritmos; Cabine onde crianças nas ruas interagiam com os personagens; Quadros onde uma obra de determinado pintor era exposta no hall do castelo, Histórias de Curumins que eram contadas por Caipora (Patrícia Gasppar); Mãos Pintadas que simulavam animais; Lousa Mágica que apresentava figuras em animação; Musicas do Mundo Todo; Circo; Pianola que nada mais é do que uma engenhoca que quando tocada mostra em seu visor dançarinos representando a melodia; Caixa Preta que representa geometricamente o desejo de quem a abre; Pintor Maluco que eram formados por Rui Amaral e Jejo Cornelsen que pintam em câmera rápida mostrando suas obras.

As atrações do Castelo Rá-Tim-Bum, além de serem inúmeras, acabava chamando a atenção do telespectadores, assim como dos personagens que eram visitantes do local. Em participações especiais, Nino e seus amigos recebiam as visitas esporádicas de: Penélope (Ângela Dip) uma repórter muito curiosa que só usa roupa rosa, inclusive seus cabelos; Bongô (Eduardo Silva) um entregar de pizza apaixonado por música que morre de medo de Morgana; Etevaldo (Wagner Bello) um alienígena brincalhão  e divertido que sempre entende alguma coisa errada; Caipora um ser mítico do folclore nacional que sempre aparecia quando alguém assoviava e o Dr. Abobrinha (Pascoal da Conceição) que queria comprar o castelo a todo custo se utilizando dos mais variados disfarces.

Foto: Divulgação

O programa foi o maior sucesso da TV Cultura no quesito série educativas, conseguindo 12 pontos, o que pode parecer pouco se comparado a grandes sucessos de outras emissoras como Éramos Seis do SBT com 17 pontos e A Viagem da Rede Globo com 55. O programa logo se torno febre entre o público infanto-juvenil e diversos produtos foram lançados, para a alegria de seu público, entre esses itens estavam materiais escolares, jogos, livros, entre outros.

No auge do programa foi lançada a peça teatral homônima ao programa e contava com todo o elenco. O programa ainda foi o vencedor do prêmio APCA de 1994 como melhor programa infantil. Em 1995 no Festival de Nova York, o programa ganhou a medalha de prata na categoria melhor programa infantil. Além disso, Castelo Rá-Tim-Bum ganhou o prêmio de Sharp de Musica em 1995 na categoria melhor disco infantil.

O criador da série Flávio Marinho em entrevista no documentário Desconstruindo o Castelo - O Boom do Rá-Tim-Bum, feito como TCC em 2010 pelos estudantes de Rádio e TV da Universidade Anhembi Morumbi, revela: Esse programa era para ser a continuação do Rá-Tim-Bum, que era o programa anterior. Na verdade não era uma continuação, era uma nova versão. A gente iria tirar as coisas que a gente achava que não tinham dando tão certo, no Rá-Tim-Bum, e substituir por outras coisas. E ai no fim a gente acabou inventando tanta coisa que eles acharam melhor inventar outro programa... E ai gente fez um programa tão gigantesco que ai  eles acabaram escolhendo só um pedaço, daquelas coisas que a gente tinha inventado, e aí a gente desenvolveu e dai surgiu o Castelo Rá-Tim-bum.

Entre a criação do programa e o último dia de gravação foram aproximadamente 2 anos. As gravações aconteciam em um único estúdio, onde foram realizadas 97% das cenas. Foram aproximadamente 6 mil horas de gravação e 3 mil horas de edição. Envolvidos no projeto estavam 250 profissionais. Para a caracterização dos personagens foram criados 800 figurinos, sob os cuidados de Carlos Alberto Gardin e Isabela Teles, que eram responsáveis pelo visual completo de cada personagem. A inspiração era ser algo irreal, lúdico e todos eram pedaços de cores e tecidos diferentes.

Marcelo Tas foi convidado pelo diretor Cao Hamburguer para criar um quadro e assim surgiu o Telekid, que sempre surgia quando Zequinha questionava: Porque? Já o ator Pascoal da Conceição, celebre pelo seu Dr. Abobrinha inicialmente fez teste para ser o Dr. Victor. Curiosamente Celeste era prima de Silvia, outra cobra do programa Rá-Tim-Bum, exibido em 1990. Álvaro Petersen Jr, intérprete da cobra, revela que a criação da voz do animal partiu da ideia de imitar a Coordenadora de Produção Pedagogica Bia Rosenberg

A cenografia - sob os cuidados de Lu Grecco - se inspirou na arquitetura antroposófica e nas obras de Antoni Gaudi. Com isso o castelo misturava alegria e mistério, além de ser urbano. O cenário principal do hall do castelo  foi feito em 360° e os demais foram desenvolvidos conforme as necessidades de produção. Durante as gravações o estúdio foi vitima de uma tempestade e o chão teve que ser trocado, com isso o cronograma se atrasou em aproximadamente duas semanas.

O ator Wagner Bello, intérprete de o alienígena Etevaldo, morreu antes das gravações da série serem concluídas devido a complicações pelo vírus da AIDS. Em seu lugar entrou na história Etcetera (Siomara Schreder), irmã de Etevaldo. Entre os capítulos personagens de contos de fada e outras histórias também fizeram parte da trama.

As músicas interpretadas pelas passarinhas cantoras do quadro Que Som é Esse? Eram as vozes de Rita Kfouri Gondim, Maria Aparecida de Souza e Tânia Lenke.

A proposta do programa era fugir do convencional e levar as crianças a descobrirem o mundo ao seu redor e pensar por isso só, devido a isso Nino, o personagem central, tinha tios ao invés de pais, mostrando uma nova concepção de mundo.

Com 90 programas e 1 especial de Natal, Castelo Rá-Tim-Bum foi exibido para toda América Latina entre 1999 e 2001 através do Canal Nickelodeon. O programa chegou a ter algumas fitas em VHS vendidas no auge do programa. Em 2001, a TV Cultura produziu um filme com o mesmo nome do programa. Apesar de a trama sofrer poucas alterações, o elenco não era o mesmo do programa original.

Em 2003, no rastro do programa a TV Cultura criou a Ilha Rá-Tim-Bum, mas sem o mesmo efeito do programa de 1994. Em 2013, a emissora Fundação Padre Anchieta cede os direitos do Castelo Rá- Tim-Bum para a Globo Internacional.

A atriz Rosi Campos ao site UOL relata que quando as crianças souberam que o programa iria acaba, algumas enviavam cartas a emissora com dinheiro para que o programa fosse mantido: Algumas crianças chegaram a mandar cartas com dinheiro para a TV Cultura, quando souberam que o programa ia acabar. Por mim, o ‘Castelo’ estaria no ar até hoje.

A abertura do programa era feita em maquete, assim como as imagens externas do castelo que eram exibidas dentro do programa. A abertura e seus efeitos visuais, do castelo sendo feito com mágica, foi feito quando a maquete era desmontada.

O Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo, planeja uma exposição em julho deste ano. No evento serão recriados 10 ambientes do cenário do programa e o público encontrará vários depoimentos sobre o programa.

Entre 12 e 16 de maio, a TV Cultura apresentará  a Mostra Castelo Rá-Tim-Bum 20 Anos, onde será possível ver figurinos, cenários e objetos que encantaram a toda uma geração. Para conferir a mostra é necessário entrar em contato pelo e-mail  [email protected]. O evento será das 11h as 16h.

Aplaudido por seu público alvo, Castelo Rá-Tim-Bum foi criado por Flávio de Sousa, escrito por Dionisio Jacob (Tacus), Anna Muylaert, Claudia Della Verde entre outros. Com direção geração de Cao Hamburguer e Phillip Barcinski, o programa infantil criado pela TV Cultura é a prova de que qualidade, educação podem ser boas aliadas se apresentarem de maneira correta o que o público quer e precisa saber.

Comentem. O que vocês lembram do programa? Compartilhem.


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