Há dois meses, Thiago Lacerda mudou-se temporariamente para São Paulo. Desde então, ensaia cerca de 10 horas por dia para estrear como protagonista da peça Calígula, dirigida por Gabriel Villela no Sesc Pinheiros. Em meio à confusão que a provisória mudança já causava na vida do filho Gael, de 1 ano e 5 meses, e da mulher, a atriz Vanessa Lóes, que ficaram no Rio, Lacerda foi parar no olho do furacão do afastamento de Fábio Assunção da novela Negócio da China, ao ser chamado para substituí-lo no triângulo amoroso com Grazi Massafera e Ricardo Pereira.
"Foi um convite da emissora para participar da novela, que precisava de motivação para alavancar audiência. Não esperava voltar às novelas agora, mas aceitei e vou fazer com a maior garra", diz ele, que ainda vai reeditar o par romântico com Grazi, de Páginas da Vida (2006). "Ela é uma garota muito bacana. Eu a conheci quando ela estava descobrindo uma carreira", relembra.
A verdadeira maratona que vai se instaurar na vida do ator após a estréia da peça, prevista para sexta-feira, não o assusta. É só depois de entrar em cartaz que ele vai se preocupar em se dividir em uma terceira personalidade: a do cardiologista que cuidará do menino Théo (Eike Duarte) na novela das seis.
"Minha família está comigo nessa, estamos juntos para o que der e vier. É um momento de muito esforço físico, mas estou preparado para encarar essa briga", diz ele, cuja temporada em São Paulo vai de 28 de novembro a 21 de dezembro, com parada no Natal e ano-novo, e retorna a partir de 8 de janeiro.
É do mergulho teatral que Lacerda procura tirar forças. "Fazer teatro é voltar à origem do ofício, à caixinha de ferramentas. Teatro dá pé no chão, é revigorante", diz ele, que encarnou Jesus, em Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, sua última peça. "A ousadia de Saramago está à altura de Calígula. Posso dizer que é uma seqüência. Não ter feito o Evangelho no Rio, em casa, é uma das grandes frustrações da minha vida", diz ele, que desta vez, garantiu sua temporada nos palcos cariocas ano que vem.
A nova incursão teatral partiu do polêmico diretor Gabriel Villela, de peças como Salmo 91. "O convite veio num momento em que estava precisando desse mergulho. Calígula é a força da natureza, me apaixonei pelo texto, e não é a qualquer hora que se tem um convite específico de um diretor como ele, pela idéia de ator que eu sou".
A montagem sobre a vida do terceiro imperador romano, conhecido pela sua natureza extravagante e cruel, começa com a morte de Drusilla, sua irmã e amante. Lacerda despista sobre cenas que retratem incesto e orgias protagonizadas por Calígula, apesar das fotos sugestivas de divulgação.
"A polêmica da palavra é muito poderosa. O volume da libido está lá. Se precisasse eu ficaria nu ou me vestiria de banana, mas sabe que não me lembro se tem cena de nu?", desconversa ele.
Segundo a produção, Lacerda fica sem camisa, diferentemente de Edson Celulari, que nos anos 90 tirou toda a roupa ao encarnar o personagem no teatro. "Quem assistir ao espetáculo vai se surpreender com a idéia que se faz de mim e que se tem de Calígula. É hora de desconstruir o conceito que as pessoas fazem dele".
Créditos: Sara Paixão / O Dia