A sociedade corporativa contemporânea tem sido tema de uma série de livros, filmes e programas de televisão. Aos quais se reúne agora O Sistema, série da Globo exibida nas noites de sexta.
O assunto já foi tratado em produções hollywoodianas tão diferentes quanto Matrix, A Rede e Teoria da Conspiração, entre outras. São filmes que exploram a indignação do homem comum ante à invasão de privacidade cometida por grandes empresas e governos. Através da monitoração de operações financeiras e de hábitos de consumo, pela movimentação bancária e por câmeras de vigilância, os conglomerados seriam capazes de interferir - leia-se prejudicar - a vida de todos.
O que foi tratado pelo cinema americano em "thrillers", recebeu em O Sistema um evidente tom de paródia. A série é uma comédia rasgada, mesmo que não se assuma como tal. Tanto que o roteiro prescinde de algumas explicações necessárias ao telespectador, na confiança de que todos saibam do que se trata.
Nem tudo, porém, é tão evidente, o que prejudica um pouco o humor para quem não está inteirado sobre o assunto. A ironia é um recurso expressivo que só funciona quando autor e espectador compartilham das mesmas referências. A falta de informações e uma certa indefinição de gênero marcaram o primeiro episódio. Matias, de Selton Mello, é um fonoaudiólogo que se revolta após ter seus dados apagados do sistema financeiro. Ele se reúne a Trash (Lúcia Bronstein), Paca (Marcia Dvorek) e Avenarius (Gregório Duvivier), grupo que pretende sabotar os sistemas de vigilância das grandes empresas.
Com exceção de Selton Mello, todos os outros artistas do grupo são desconhecidos do grande público. Atores mais experientes, como Zezé Polessa e Ney Latorraca, compõem a turma dos vilões. E Graziella Moretto é uma das boas surpresas do programa, na pele de uma histérica atendente de telemarketing.
A tentativa de realizar um humor mais cerebral, com piadas (nem tão) sutis sobre a sexualidade dos personagens, problemas de dicção e dificuldades de relacionamento funcionam isoladamente, mas contradizem o contexto de farsa, de ópera bufa de O Sistema, no qual o exagero, o grotesco e o humor corporal tendem a ganhar mais espaço. Mesmo o núcleo central da história possui um certo perfil quixotesco, que lembra em seu despreparo e precariedade o célebre filme O Incrível Exército de Brancaleone, do diretor italiano Mario Monicelli, mestre da comédia escatológica.
Não é crível, porém, imaginar um filme de ação ou de ficção científica passado dentro de um Volkswagen TL 1968 azul. O tom de pastiche domina a série, assinada por Fernanda Young e Alexandre Machado e com direção de José Lavigne. Finalmente, o excesso de referências dilui a força narrativa da história e mais confunde do que ajuda a esclarecer. Não basta abordar temas como Internet, câmeras de segurança e conspirações internacionais para tornar contemporâneo. Especialmente se o resultado está mais próximo de uma boa e velha chanchada. O que, aliás, é o que o programa tem de melhor.
Fonte: TV Press