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Morre o apresentador e deputado Clodovil Hernandes

por jeferson, em 17/03/2009


O deputado federal, ex-apresentador de televisão e estilista Clodovil Hernandes, 71, teve morte encefálica, afirmou em coletiva o diretor técnico do hospital Santa Lúcia, Cícero Henrique Dantas Neto.

A doação de órgãos foi concedida pelas pessoas próximas e autorizada pela promotoria de justiça. Córnea, rins e figado poderão ser doados, mas ainda precisarão passar por uma avaliação.

Foram feitos dois exames clínicos e um complementar. Não devem ser feitos mais nenhum para comprovar a morte encefálica. Segundo sua assessoria, ele sempre teve vontade de que seus órgãos fossem doados.

A trajetória do deputado Clodovil Hernandes (PR-SP) começou bastante longe de Brasília.

Clodovil nasceu em 17 de junho de 1937 no município de Elisiário (402 km de São Paulo), na região de São José do Rio Preto (SP). Adotado por um casal de espanhóis, foi educado em um colégio interno por padres católicos.

Clodovil tornou-se conhecido, na década de 1960, como estilista de alta costura, rivalizando com Dener Pamplona de Abreu (1936-1978) a atenção para a primeira geração de importantes estilistas brasileiros.

Na década de 1980, Clodovil tornou-se uma das principais atrações do "TV Mulher", da Rede Globo. Comandado por Marília Gabriela, o programa tinha como atrações a participação do cartunista Henfil e da sexóloga Marta Suplicy (bem antes de ela seguir carreira política). Muitos anos depois, Clodovil criticaria o projeto de união civil homossexual, apresentado por Marta quando deputada federal.

No início da década de 1990, foi contratado pela antiga Rede Manchete para apresentar o programa "Clodovil Abre o Jogo". Na televisão, ficou famoso por alguns bordões, entre eles o de pedir para seus entrevistados que "olhassem para a câmera da verdade" para responder a alguma pergunta mais difícil.

Em paralelo à carreira na televisão, Clodovil trabalhou como figurinista de teatro, ator e cantor. Em 2001, passou a apresentar o programa "Mulheres" na TV Gazeta. Em 2003, Clodovil foi contratado para comandar o programa vespertino "A Casa é Sua" pela RedeTV!. No programa, referiu-se à vereadora petista e militante do movimento negro Claudete Alves como "macaca de tailleur metida a besta". A vereadora entrou com uma queixa-crime alegando ato racista, que resultou em dois processos criminais no Tribunal de Justiça de São Paulo contra Clodovil.

Ainda na RedeTV!, Clodovil foi o alvo preferido das brincadeiras provocativas dos membros do programa "Pânico na TV!", exibido na mesma emissora. A dupla de repórteres Vesgo e Silvio perseguiam Clodovil para que ele calçasse as "sandálias da humildade". Cansado das provocações, o apresentador fez um desabafo ao vivo durante o seu programa e, em seguida, abandonou os estúdios da RedeTV!. Dois dias depois os diretores da emissora decidiram demitir o apresentador.

Sem espaço na mídia, Clodovil candidatou-se ao cargo deputado federal por São Paulo nas eleições de 2006. Com slogans que faziam referências explícitas a sua homossexualidade ("Vocês acham que eu sou passivo? Pisa no meu calo para você ver...", ou ainda dizendo que seu número era o 3611, porque 24 já era, o negócio era "um atrás do outro"), o ex-apresentador de televisão, então filiado ao PTC (Partido Trabalhista Cristão), recebeu 493.951 votos e foi o terceiro deputado mais votado em todo o Estado, atrás somente de Paulo Maluf e Celso Russomano, ambos do PP (Partido Progressista).

Após se eleger como deputado federal, Clodovil trocou o nanico PTC pelo PR (antigo PL), alegando ter sido abandonado pelo partido durante o pleito, não ter recebido material de campanha, nem assessoria jurídica. Como o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidira que o mandato pertence ao partido e não ao eleito, o parlamentar correu o risco de ser cassado até o último dia 12 de março, quando foi absolvido por unanimidade. Para os ministros do tribunal, Clodovil sofreu perseguição interna no PTC, condição que permite ao eleito se transferir para outro partido.

Em maio de 2007, o deputado bateu boca no plenário com a deputada Cida Diogo (PT-RJ), durante sessão da Câmara. A discussão teve início quando Clodovil afirmou que "as mulheres ficaram muito ordinárias, vulgares, cheias de silicone" e que as mulheres na atualidade "trabalham deitadas e descansam em pé".

Após ser questionado pela parlamentar sobre a declaração, Clodovil afirmou: "Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia", disse.

Ao longo de seu mandato, Clodovil foi titular nas comissões de Educação e Cultura e Relações Exteriores e de Defesa Nacional, e suplente na comissão de Seguridade Social e Família. Atualmente é titular da comissão de Direitos Humanos e Minorias.

Entre os projetos que apresentou, há uma PEC que reduz de 513 para 250 o número de deputados federais e cria regras para que nenhuma unidade da Federação fique com menos de quatro ou mais do que 30 representantes - em tramitação na Câmara., mas sem nenhuma chance de avanço.

Clodovil também apresentou alguns projetos de lei: como deputado, ele quis restringir a exibição de imagens e notícias violentas na televisão durante o horário de almoço, tornar obrigatório o exame de próstata para trabalhadores do sexo masculino com mais de 40 anos e instituir no terceiro domingo de maio o dia da mãe adotiva. Também é de autoria dele um projeto que proíbe a fabricação e comercialização de produtos infantis que reproduzam a foram de cigarros ou similares.


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