O orçamento de R$ 1 milhão por capítulo é pouco para Luiz Fernando Carvalho. Mas foi com essa quantia que ele teve de se virar para produzir Capitu, minissérie adaptada do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, que estréia na Globo no dia 9 de dezembro, após o Casseta & Planeta.
"Dinheiro limitado impõe que a gente crie. No lugar de uma superprodução, usamos a imaginação", simplifica o diretor. Essa é mais uma aposta que a emissora faz em um diretor que até agrada a alguns críticos, mas nem sempre ao público. A Pedra do Reino, seu trabalho mais recente na TV, ficou com 9 pontos de audiência, apenas o terceiro lugar.
A primeira idéia de Luiz Fernando era realizar todas as gravações nas ruas do Centro do Rio de Janeiro. Mas justamente pela inviabilidade dos custos, um bom espaço encontrado para relembrar as memórias do narrador Dom Casmurro foi o Automóvel Club do Brasil, um antigo casarão do século XIX em frente ao Passeio Público, tão citado nas obras de Machado. O responsável pela direção de arte e cenografia Raimundo Rodriguez diz que a opção por trabalhar com material reciclado, no entanto, não tem a ver com custos, mas com conceito. "Temos bastante ex-lixo, ferro velho. Mas tomamos o cuidado de transformar isso em idéias e não em bobagens", polemiza o artista plástico.
Com cinco capítulos, toda a história é contada pelo narrador nada confiável Dom Casmurro, interpretado pelo ator Michel Melamed.
Na velhice, ele resolve resgatar a trajetória dele próprio, Bentinho, representado quando jovem por César Cardareiro. E o ápice é o romance com o grande amor de sua vida, Capitu, vivida pela estreante Letícia Persiles na juventude e, na segunda fase, por Maria Fernanda Cândido. "É complicado porque faço duas composições diferentes. O Bento é jovem, mas o Dom Casmurro é um velho maduro que deve deixar o telespectador na dúvida se ele está falando a verdade ou não", explica Michel. Já para César Cardareiro, falar sobre a maneira como compôs o personagem é algo bem menos palpável. "A única coisa que fiz foi sentir o Bentinho dentro de mim", vagueia o garoto.
É assim, investindo em atores desconhecidos e bem ou pouco articulados que Luiz Fernando montou todo o elenco de Capitu. Com a exceção de Eliane Giardini, que dá vida à Dona Glória, mãe de Bentinho. "O Luiz me resgatou e me dá orgulho ver que ele continua me chamando para trabalhar. Um convite dele é o mesmo que um prêmio", exagera Eliane.
A dúvida que permeia toda a história contada por Dom Casmurro é se Capitu o trai ou não com seu melhor amigo, Escobar. Conhecido como um diretor ousado, Luiz Fernando não se atreveu a dar uma resposta para essa questão. E o jovem ator Pierre Baitelli, que interpreta Escobar na minissérie, gostou da experiência de atuar sem ter essa resposta. "Trabalhar na dúvida instiga. Escobar às vezes é angelical e às vezes é demoníaco", define Pierre.
Durante dois meses e meio, todo elenco se reuniu em um galpão, no Centro do Rio, para participar da preparação antes das gravações. Foram aulas de improvisação, respiração, além de preparação vocal. Nesse mesmo local, Luiz Fernando quis realizar a coletiva de lançamento de Capitu. Ele gosta de rituais e queria fechar o ciclo onde tudo começou. "Esse galpão nos diz muito. Usamos esse espaço como lugar sagrado", filosofa o diretor.
Capitu - estréia dia 9 de dezembro, na Globo, após o Casseta & Planeta.
Créditos: Gabriela Germano / TV Press