Para quem tem a ilusão de que Silvio Santos está vendo o tempo passar na janela enquanto a Record abocanha parte da sua audiência, o nome de Daniela Beyruti pode soar como uma grande novidade. Filha mais velha do casamento com Íris Abravanel – ela tem mais três irmãs e outras duas da primeira união de Silvio – , Daniela está no SBT há alguns anos, mas agora assumiu o papel mais relevante na empresa do pai: cabe a ela liderar a batalha para recolocar a emissora nos trilhos, no ano em que o Grupo Silvio Santos completa 50 anos.
Aos 32 anos, formada e pós-graduada em comunicação nos Estados Unidos, casada com o empresário Marcelo Beyruti, Daniela comanda uma equipe de 200 pessoas, na condição de responsável por todos os negócios da televisão. Sua missão é restaurar as fissuras do passado, como a que levou várias afiliadas espalhadas pelo Brasil a trocarem o SBT pela Record, e dar novo ânimo à emissora que perdeu a sua histórica vice-liderança.
Uma das metas de Daniela é melhorar a comunicação do SBT com as suas afiliadas, com a imprensa e a sociedade em geral. Esta entrevista concedida a Poder, diga-se, é a primeira de Daniela na condição de diretora da emissora. Quem a ler, verá que Silvio Santos é um homem de sorte. No fundo de seu imenso baú, ele encontrou o sangue novo da emissora dentro da família.
Daniela não faz pose de empresária, nem tem nada de patricinha. É doce e simples, mas tem opiniões seguras sobre todos os assuntos que dizem respeito ao seu mundo. Sem fazer alarde, mostra que está enxergando lá na frente. Sabe de seu papel e de sua responsabilidade neste momento. Uma tarefa nada fácil, convenhamos: assumir parte do comando de uma emissora que perdeu um naco de sua audiência, ainda mais no papel de filha do dono. “Cheguei aqui quando a gente estava perdendo a batalha.”
O jeito SBT de ser
Estou aqui, quero aprender tudo que tiver de aprender. Não vou dizer que eu sei tudo, porque não sei. Não vou dizer que estou preparada para estar onde estou, porque não estou. Quero me informar, conhecer mais a história e o futuro, quem está hoje na linha de frente da empresa e o que estão pensando. Pelo que o pessoal fala, ele sempre foi assim (ansioso). E isso sempre deu certo. A Record fez uma coisa muito parecida com a Globo e estabilizou ali. O SBT sempre foi desse jeito espontâneo. Fizemos uma pesquisa, perguntando: se a Globo fosse uma festa, que festa seria? E as pessoas responderam que seria uma festa glamourosa, chique, em que as pessoas ficam na porta, mas não podem entrar. Se a Record fosse uma festa, as pessoas responderam que seria uma festa muito chique, boa... E se SBT fosse uma festa, seria aquela que todo mundo gosta de ir, com cerveja no copo de plástico, coxinha, uma festa que a pessoa se sente em casa. É aí que está a nossa marca, que a gente perdeu. A gente errou a mão em algum lugar ou a Record acertou muito em outro. Não é uma coisa só. Isso faz com que a ansiedade seja maior. “Vamos colocar um Show do Milhão domingo que vem.” E vinha o domingo, e ficava, dava resultado instantâneo. Hoje não é assim.
A volta do Pantanal
Foi uma idéia conjunta, de muito tempo. É uma novela incrível. Como foi bem feita... Vale a pena ver de novo. As novelas da Globo a gente vê de novo. Por que não reexibir uma obra da Manchete?
Venda do SBT
Falou-se muito. Era boato. Nunca foi nossa intenção vender. É a nossa menina dos olhos. Uma paixão. Poder se comunicar, entrar na casa das pessoas, estar junto com elas – deixar que o povo faça parte da nossa história, mas também fazer parte da história do povo. Precisamos resgatar mais essa identificação.
SBT X Record
Prefiro falar do SBT. Acho que o SBT tem uma coisa muito especial. Querendo ou não, ele é popular. E tenho orgulho de falar que ele é popular. Enquanto tantos querem atingir o público A e o B, a nossa realidade é o C e o D. A gente é C e D naturalmente. Tem uma identificação natural com a massa. Isso vai passando de cima para baixo, e implanta no coração essa vontade de ser um canal popular. É óbvio que perder a segunda posição, para quem quer que seja, não é agradável. A gente, por muito tempo, correu sozinho no segundo lugar. Tinha orgulho, fazia até campanhas (“vice-liderança absoluta” “na nossa frente, só você”...). A gente brincava com isso. A gente nunca quis tirar o lugar da Globo.