Desejo Proibido estréia com a missão de alavancar o naufragado horário das seis da Globo. Com um elenco experiente, o texto de Walther Negrão - que mais lembra os antigos novelões da emissora - e uma condução caprichada do diretor Marcos Paulo, a trama promete. Conta ainda com pitadas de humor e um pouco de polêmica com relações proibidas em cenas de poucas roupas em cachoeiras.
A emissora apostou nos quesitos que quase sempre emplacaram boas tramas na teledramaturgia para ressuscitar de vez o horário, anteriormente enfeitiçado pelas mandingas de Eterna Magia.
A produção, que estreou com média de 27 pontos e 47% de participação já apresenta seus acertos na abertura, inspirada nas pinturas impressionistas. Cenas da fictícia Passaperto se transformam em pinceladas parecidas com as de mestres do movimento artístico, como Monet, Degas ou Renoir, o que já traz uma certa sofisticação estética, presente em diversos componentes da trama. Cenografia, figurino e produção de arte, por exemplo, estão bem acabados e valorizados por uma cuidadosa iluminação que muitas vezes chega a lembrar filmes "noir" nas cenas nos trens.
Outras tomadas exibem ainda um jogo de luz e sombra também quase impressionista, isenta de contornos, que valoriza a fotografia da produção. Tudo embalado por uma trilha sonora cheia de canções clássicas, como Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar, ou mesmo a singela e poética Rosa, de Pixinguinha e Otávio de Souza.
Para exaltar o clima delicado da década de 30, com direito a amores proibidos entre mocinhas suspirosas e galãzinhos de chapéu e colete. Dois triângulos se destacam. Ana, a bela bugra de Letícia Sabatela, casada com Chico Fernandes, de José de Abreu, se apaixona pelo médico Escobar, de Alexandre Borges. As cenas do trio são especiais.
Já Laura, a mocinha serelepe de Fernanda Vasconcellos, que namora o mimado Henrique, de Daniel de Oliveira, se envolve com o padre Miguel, vivido por Murilo Rosa. Em sua composição, o mineiro Daniel precisou resgatar um pouco de seu sotaque natal de Minas para fazer um convincente "playboy" de época, que contrasta com a suavidade de Fernanda Vasconcellos em cena.
Com elenco de novela das oito da emissora, a trama de Negrão aposta ainda em nomes como Lima Duarte, Nívea Maria, Eva Wilma, Sérgio Mamberti, Pedro Paulo Rangel e Marcos Caruso, entre outros. Caruso, inclusive, mostrou desde o primeiro capítulo que pretende "roubar" dúzias de cenas com seu simpático padre Inácio. Já o núcleo cômico da história também está defendido com a hilária interpretação do dueto Luiz Carlos Tourinho e Emílio Orciollo Neto, que interpretam Argemiro e Nezinho, respectivamente.
Mas a grande intenção da Globo parece mesmo travar uma guerra quase religiosa com a Record. Enquanto a emissora do Bispo Macedo prefere não aparentar que é evangélica em suas novelas ao não abordar religiões nas histórias, a Globo pretende abocanhar a parcela católica de seus telespectadores explorando os milagres de uma fictícia santa, chamada Virgem de Pedra.
Mas sua última trama com essa abordagem, A Padroeira, exibida em 2001, fez com que a emissora despencasse o horário das seis. Pelo menos a religião em Desejo Proibido é mostrada do ponto de vista de um belo celibatário prestes a ser apaixonar, vivido por Murilo Rosa. É, no mínimo, mais divertido acompanhar um amor tão comum, mas pouco divulgado, como esse, por baixo das batinas.
Fonte: TV Press