Quando soube que o cineasta Walter Lima Jr. faria um filme ambientado nos anos 60 --da bossa nova, do feminismo e da ditadura militar--, a atriz Cláudia Abreu quis estar nele. Mas não disse. Por "pudor", explica.
O papel da cantora Glória Goldfaber, protagonista feminina da trama de "Os Desafinados" e símbolo da mulher emancipada que faz Cláudia sentir "intimidade com aquela época" e achar "sempre muito rico voltar aos anos 60", já tinha dona --e não era ela.
Às vésperas das filmagens, no entanto, o diretor decidiu substituir a atriz e cantora francesa Clara Bellar, que estava escalada para o papel. Julgou-a magra demais. Cláudia Abreu tornou-se a estrela do filme, que será lançado nos cinemas na sexta.
"Cláudia é uma atriz de muitos recursos, excepcional. Em geral, os atores que trabalham freqüentemente para a TV ficam travados, por força da repetição do melodrama. No caso dela, não. Nunca sei até onde ela pode ir", afirma Lima Jr.
Dora, a fútil
Na TV, Cláudia volta ao melodrama --com as típicas tintas cômicas da faixa das 19h da Globo-- a partir do mês que vem. Ela será uma das "Três Irmãs" na novela de Antonio Calmon.
Fútil e consumista, Dora, sua personagem na novela, é a antítese da Glória de "Os Desafinados", personagem de ficção inspirada em mulheres reais que Lima Jr. conheceu nos anos 60.
Glória é uma brasileira que vive sozinha em Nova York, onde encontra Os Desafinados, quarteto de jovens músicos que tocam bossa nova.
Ela se apaixona pelo pianista Joaquim (Rodrigo Santoro) e hospeda o grupo em sua casa. Quando descobre que Joaquim tem no Brasil uma mulher (Alessandra Negrini) e uma filha a caminho, Glória reage de acordo com o espírito da época -"corajoso e libertário", na definição de Cláudia.
A cena envolve um banho de espumas, uma nudez desenvolta, um golpe no ego de Joaquim e uma brecha para a sedução dos demais Desafinados.
"Nesse filme, Cláudia está no ápice de sua beleza", disse o ator Ângelo Paes Leme, ao receber, em nome dela, o troféu de melhor atriz no 1º Festival Paulínia de Cinema, no mês passado. Paes Leme, que vive o "desafinado" Davi, foi premiado como melhor coadjuvante.