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Paulo Ubiratan: talento e profissionalismo na TV

O diretor foi um dos responsáveis pelos maiores sucessos dos anos de 1980 e 1990.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Há 68 anos, no dia 14 de janeiro de 1947 nascia na cidade de São Paulo, Paulo Ubiratan Fontes Gaspar, um dos diretores mais talentosos que a TV brasileira já viu. De origem humilde, Paulo Ubiratan começou a trabalhar aos 16 anos como office-boy, passando pelo rádio, ingressando logo depois no meio televisivo.

Na TV, Paulo Ubiratan trabalhou como assistente de vídeo e produtor na TV Tupi de São Paulo. Na emissora criada por Assis Chateaubriand, Paulo chegou a se tornar assistente de direção, indo trabalhar com Lima Duarte, que dirigia a celebre novela Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso. A telenovela foi um marco por acabar com o gênero usado até então: capa e espada. Inovadora e atual, a obra logo se tornou um grande sucesso.

Trabalhando na TV Tupi, Paulo trabalhou em diversas áreas da emissora, o que só contribuiu para seu crescimento profissional. Em sua trajetória teve como mestre o diretor Walter Avancini, a quem considerava seu mentor. O diretor credita todo seu trabalho a tudo que aprendeu com o diretor pioneiro.

Depois de anos na TV Tupi, Paulo Ubiratan foi para a TV Globo em 1978, onde assumiu o cargo de assistente de direção de Jardel Mello na novela O Pulo do Gato, de Bráulio Pedroso.  Emendando um trabalho no outro, o diretor foi dirigir a novela Sinal de Alerta, de Dias Gomes, onde também assumiu a função de produtor. Curiosamente, essa foi a última novela das 22h dos anos 1970. O horário só voltaria a ter uma novela em 1983 com Eu Prometo, a última novela Janete Clair.

Em 1979, Paulo assinou a direção de Feijão Maravilha, escrita pelo seu já conhecido Bráulio Pedroso e que tinha como mote as chanchadas dos anos de 1950. A trama era exibida as 19h. A partir da década de 1980, o diretor começou a dirigir tramas das 20h, horário de maior repercussão e retorno financeiro da TV Globo.

Logo no começo dos anos de 1980 dirigiu em parceria com Roberto Talma as novelas: Água Viva de Gilberto Braga; Coração Alado, de Janete Clair; e Baila Comigo, de Manoel Carlos. Na última, contaram com dois assistentes que se tornariam promissores diretores: Guel Arraes e Jorge Fernando.

Depois de sucessos no horário das 20h, Paulo Ubiratan viria assumir a direção geral de dois sucessos do horário das 19h: Elas por Elas, uma espirituosa e divertida novela escrita por Cassiano Gabus Mendes, e Final Feliz, de Ivani Ribeiro. Nesse período, o diretor casou-se com a atriz Natália do Vale. A união duraria até meados de 1986.  O romance depois foi com a jornalista Valéria Monteiro, com quem teve uma filha: Vitória.

Paulo só viria a assinar a direção de uma novela no meio da década de 1980, mas antes foi supervisor de quatro trabalhos: Louco Amor escrita por Gilberto Braga; o grande sucesso das 19h: Guerra dos Sexos escrita por Sílvio de Abreu; Eu Prometo de Janete Clair, Transas e Caretas, de Lauro César Muniz e Champagne, primeira novela de Cassiano Gabus Mendes às 20h.

O diretor voltaria a assumir direção geral de uma novela das 20h em 1985 na nova versão de Roque Santeiro, escrita originalmente para ser exibida em 1975. Paulo Ubiratan escalou a dedo o elenco dessa nova leitura da obra de Dias Gomes, que foi a primeira novela das 20h que fugiu a ambientação de cidades da região sudeste, contando a vida de moradores do sertão nordestino. Depois de ter dirigido por dois meses a novela, Paulo teve um ataque cardíaco e foi afastado da novela, sendo substituído por Gonzaga Blota.

Mesmo sem dirigir, Paulo Ubiratan voltou logo ao trabalho e produziu as novelas: Roda de Fogo de Lauro César Muniz e Vale Tudo de Gilberto Braga, grandes sucessos das 20h da segunda metade dos anos de 1980. O diretor só voltaria a assumir a direção de uma trama em 1989 com o grande sucesso O Salvador da Pátria, a terceira maior audiência do horário das 20h. Em seguida dirigiu Tieta, de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Morethzohn, a maior audiência das 8, desde que a nova forma de medir audiência foi implantada.

Em 1990, Paulo Ubiratan dirigiu sua única minissérie: Riacho Doce, escrita por Aguinaldo Silva e ambientada no arquipélago de Fernando de Noronha. O diretor contou como ninguém um amor marcado por superstições e ficou na memória pela excelente atuação de Fernanda Montenegro como Vó Manuela. No mesmo ano, o diretor iria dirigir Meu Bem Meu Mal.

Em 1991, o diretor produziu a novela Felicidade, de Manoel Carlos, que retorna a emissora depois de anos afastado. A última novela de Maneco na TV Globo havia sido Sol de Verão, em 1983. No ano seguinte, Paulo Ubiratan assumiu a direção de Pedra Sobre Pedra, famosa trama marcada pelo realismo fantástico, em especial a flor de Jorge Tadeu (Fábio Junior). Curiosamente, o diretor fez uma participação afetiva no último capítulo como um possível interesse romântico de Pilar Batista (Renata Sorrah).

Entre 1992 2 1996, Paulo dirigiu os primeiros capítulos de Tropicaliente de Walter Negrão, vindo a ser substituído por Gonzaga Blota. O diretor também foi o responsável pela produção das novelas A Próxima Vítima, de Sílvio de Abreu, e do remake de Irmãos Coragem, que ganhou nova roupagem em comemoração aos 30 anos da TV Globo.

Paulo voltou a direção de uma trama em 1996 com a mini novela O Fim do Mundo, exibida em 35 capítulos. Logo depois, o diretor assumiu a direção de Anjo de Mim de Walther Negrão.  Em 1997, Ubiratan voltava a cuidar de uma novela das 20h: o grande sucesso A Indomada.  Logo depois, o diretor veio a dirigir a novela Por Amor, de Manoel Carlos.

Em 1998, no mês de fevereiro Paulo Ubiratan fora nomeado como diretor de Criação da Central Globo de Produção, dividindo o cargo com Daniel Filho e Carlos Manga. Na divisão de tarefas, Ubiratan ficou responsável pelo horário das 18h as 21h30, ou seja, pelo horário nobre. Dirigindo a novela das 20h, o diretor já trabalhava na pré produção da novela Meu Bem Querer de Ricardo Linhares. Em 29 de março, o ator teve um enfarte fulminante e morreu ao 51 anos de idade, deixando o público carente de uma direção primorosa. No dia de sua morte, a equipe do Sai de Baixo dedicou o episódio ao diretor.

Conhecido como disciplinador, Paulo Ubiratan era amado por alguns e odiado por outros, mas não havia quem não o respeitasse. Seguindo um modo de trabalho como o de Walter Avancini, o diretor conseguia extrair o que o ator tinha de melhor. O diretor também sabia escalar muito bem os atores, sendo os pares românticos da novelas dirigidas por ele são os mais lembrados. No último capítulo da novela Meu Bem Querer a equipe fez uma singela homenagem com os dizeres: Esta novela foi dedicada a Paulo Ubiratan, nosso bem querer.

Competente e dedicado, Paulo Ubiratan merece ser homenageado sempre que possível, afinal a história da teledramaturgia nacional tem muito de seu talento e empenho em produzir uma dramaturgia reconhecida mundialmente. Ao diretor dedicamos somente uma palavra: saudades!


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