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OS GIGANTES: Polêmica novela completa 35 anos!

Diferente de outras tramas de Lauro César Muniz, Os Gigantes não conseguiu cativar o público e causou polêmicas.

Por: Emerson Ghaspar

Em agosto de 1979 depois de escrever relativos sucessos como Carinhoso, Escalada e O Casarão, Lauro César Muniz voltava ao horário nobre da Rede Globo com a novela Os Gigantes, que discutia o excessivo poder das multinacionais, a prática da eutanásia, esterilidade e até um suposto envolvimento homossexual.

Ambientada na cidade fictícia de Pilar, Os Gigantes contava a história de três amigos de infância: Paloma Gurgel (Dina Sfat), Fernando Lucas (Tarcísio Meira) e Francisco Rubião, que todos conhecem por Chico (Francisco Cuoco). Quando crianças eles viveram um triângulo amoroso, mas com o tempo cada um seguiu seu caminho.

Já adultos, Paloma, que foi estudar no exterior e trabalhar como correspondente internacional de um jornal carioca, volta para sua cidade natal por causa da saúde debilitada de seu irmão gêmeo Fred (Roberto de Cleto), que depois de passar por uma cirurgia no cérebro, entrou em coma, respirando com a ajuda de aparelhos.  Ao ver o irmão naquela situação, a jornalista sofre e acredita que seu irmão já sofreu o suficiente. Em uma atitude que acredita estar sendo o melhor para ele, resolve desligar os aparelhos, o que o leva a óbito. A partir disso se inicia batalha judicial, onde sua cunhada Veridiana (Suzana Vieira) a denuncia, acusando de ter praticado eutanásia.

Em meio a questões judiciais, Paloma defendia o direito da eutanásia, pois traria fim ao sofrimento de seu irmão, com quem tinha uma ligação muito forte. O que não é justificativa para Veridiana, que acaba se tornando a grande vilã da trama. Apesar de não praticar grandes maldades a personagem perseguia a destemida protagonista, pois achava que somente assim poderia estar fazendo justiça. Em seu caminho, a viúva se une a Novak (Perry Salles), um mau caráter que costumava armar contra Paloma, Fernando e Chico. No decorrer da trama, eles se casam e fazem as maiores maldades contra os protagonistas.

Paralelo aos problemas com a cunhada, Paloma volta a reencontrar seus namorados de infância, que tinham uma vida estável até sua chegada. Chico havia se tornando médico e era noivo de Helena (Vera Fischer), enquanto  Fernando cuidava de uma fazenda e  era casado com Vânia (Joana Fomm), com quem tinha um filho, o jovem Cyro (Fábio Massimo). Com a volta da jornalista, ambos os homens se mostram ainda apaixonados por ela.

O primeiro a se envolver com Paloma é Chico que termina com Helena para apostar na jornalista. O médico acaba conquistando a protagonista e chega a se casar com ela, mas o relacionamento não dura muito, já que Fernando se mostra sempre presente. No decorrer dos capítulos, o fazendeiro engravida a jornalista, mesmo ela estando casada com o médico.

No desenvolver da trama, Chico revela ser estéril, termina tudo com Paloma e retoma seu relacionamento com Helena, que o aceita sem cobranças.  Apesar de tudo parecer estar caminhando para a união da jornalista e o fazendeiro, Fernando consegue esquecer sua namoradinha de infância e inicia um romance com Renata (Lídia Brondi), grande amiga de Paloma. Nesse tempo foi pensado e levado ao publico a ideia de que Renata e Paloma poderiam viver um romance, o que não agradou ao público e a ideia então foi descartada.

Entre as tramas secundárias estavam às discussões nos bares da cidade sobre política e como ela mudaria seu jeito de viver. Os personagens ainda acabavam com as multinacionais e como ela extraiam o melhor do Brasil. Em meio a esses debates estava Polaco (Lauro Corona), um eterno apaixonado por Renata, Antônio Lucas (Mário Lago), seu filho Fernando e seu neto Cyro. É nesse núcleo que Renata e Fernando se conhecem.

Após debater vários temas polêmicos em sua exibição, Os Gigantes não poderia ter um final  diferente formando vários pares: Fernando fica com Renata, Chico com Helena, Vânia se envolve com Oswaldo (Rogério Fróes) após ter a benção de seu filho que de inicio não aprova a ideia, Polaco termina com Cristina (Solange Teodoro) após esquecer Renata. Com esses pares a novela terminou bem diferente do que foi proposto desde o inicio.

O final mais impactante ficou destinado a Paloma, que foi condenada pela morte do irmão. Ousada como foi durante toda a trama, a jornalista que está grávida e pede para ter a criança em sua fazenda e depois cumprir sua pena.

Paloma dá a luz a um menino a quem dá o nome de Frederico em homenagem ao irmão. Ela entrega a criança para Fernando e Renata criarem. Em um plano ousado a jornalista pega o avião da fazenda e cruza os céus da cidade. Ela espera o combustível do avião estar prestes a acabar e o joga contra o solo causando uma explosão. Enquanto voava, a protagonista se sentia próxima a Fred e tornou sua morte uma opção.

Na última cena da novela, Fred, o filho de Paloma, atravessa um campo, sob os olhares de Fernando e Renata, deixando a mensagem de que sempre é possível recomeçar.

A trama fez um grande debate sobre a eutanásia, mostrando o lado jurídico, religioso e ético. O autor quis apresentar questões culturais mudando. Até então a eutanásia não fazia parte do cotidiano. Em nenhum momento Lauro César Muniz quis impor ponto de vista pessoais, sua proposta era debater o assunto.

As primeiras cenas foram gravadas na cidade de Vassouras, no Rio de Janeiro. As demais foram gravadas na cidade cenográfica que ficava em Guaratiba, na zona oeste da cidade.

Em entrevista ao site Memória Globo, Joana Fomm (que na abertura era creditada como Joanna Fonn)  afirmou que furou as orelhas pela primeira vez para usar os brincos de pérolas de sua personagem. Para deixá-la mais próxima da ideia proposta pelo autor, a atriz deixou seus cabelos pretos e lisos. 

Pela primeira vez, a equipe de sonoplastia, que era coordenada pelo maestro Guerra Peixe, montou um estúdio para realçar sons que identificassem os ambientes da trama. O recurso era utilizado somente em produções cinematográficas. As gravações anteriores eram feitas com som direto.

Foi utilizada nas gravações um câmera portátil que permitia captar ângulos diferentes dos habituais usados em telenovelas, aproximando a imagem com a do cinema. O aparelho ganhou o nome de Paloma, por estar sempre nas mãos do diretor, que chegava a focalizar somente o olhos da protagonista, na expectativa de mostrar suas angustias.

Os Gigantes foi considerada uma novela polêmica pelos assuntos e problemática devido a problemas de bastidores. Elenco e direção ficaram insatisfeitos com a obra e o publico ficou sabendo através da imprensa.

O debate as multinacionais não foi bem visto pela própria emissora que não notara o tema na sinopse do autor. O clima da novela que já em seus primeiros capítulos falava de doença, eutanásia, triângulo amoroso, não agradou o público que rejeitou o lado passional da trama. A audiência foi de 50 pontos, considerada um fracasso para a época.

Lauro César Muniz em sua tentativa de cativar o publico utilizou todos os recursos, mas acabou afastado e Maria Adelaide Amaral assumiu a trama, escrevendo 18 capítulos. O último capítulo foi escrito por Walter George Durst. Após a experiência, Maria Adelaide disse em entrevista que jamais voltaria a escrever uma trama pois não acreditava no que estava fazendo e só volta a participar de uma trama em 1991, na trama Meu Bem Meu Mal de Cassiano Gabus Mendes.

A personagem Paloma conquistou o público, apesar de sua atitude ao cometer a eutanásia. Várias meninas da época tinham a personagem como referencia. A atriz Dina Sfat defendeu muito bem sua personagem e foi o grande destaque da trama. Em sua autobiografia, Palmas Pra Que Te Quero, escrita em parceria com a jornalista Mara Caballero a atriz declarou: Passei onze anos na TV Globo. Saí depois de uma novela que odiei fazer, Os Gigantes. Apesar de ser protagonista, Dina era o terceiro nome na abertura, atrás de Francisco Cuoco e Tarcisio Meira.

Primeira telenovela de Monique Curi, que interpretava Paloma na infância. Foi a primeira Helena de Vera Fischer; a segunda seria em Laços de Família de Manoel Carlos.  Foi à última novela da atriz Norah Fontes (mãe do diretor da trama) falecida em 1996. Nessa trama os dois maiores galãs dos ano 1970 voltariam a se encontrar: Tarcisio Meira e Francisco Cuoco. A última novela em que atuaram juntos foi em O Semideus de Janete Clair.

Em seu livro No Princípio Era Só o Som, Regis Cardoso comentou sobre a trama: A novela de Lauro César tinha grande dramaticidade e momentos de situações embaraçosas, em que tantos os atores quanto eu ficávamos sem uma saída. (...) A novela não foi bem, não fez sucesso.

A trama contou dois álbuns, o Nacional e o Internacional. Nenhuma das capas contou com algum ator da trama. O álbum nacional que tinha na capa da frente um grande pé sobre a terra teve os sucessos: Gostoso Veneno/Alcione,Super-Homem/ Gilberto Gil, Sob Medida/Simone, Outubro/Milton Nascimento, Horizonte Aberto/ Sérgio Mendes com participação de Gracinha Leporace, Força Estranha/ Caetano Veloso e Jardim da Solidão/Clara Nunes. Curiosamente a musica Horizonte Aberto que era tema de abertura não conseguiu ser gravada inteira para o lançamento do disco. Quem comprou a trilha sonora da trama não ouviu a música na integra.

O álbum internacional tinha em sua capa uma pomba que fazia parte da abertura da novela. As musicas da época traziam o melhor da Disco Music, que já faziam parte da trama desde Dancin’ Days. Sem duvida o maior sucesso do álbum foi Paloma/ Sunday era tema da protagonista e tocava incessantemente nas rádios de todo Brasil. O álbum trouxe os seguintes sucessos: Good Times/Chic, I’ll Never Love This Way Again/Dionne Warwick, Sultans of Swing/Dire Straits, Still/Commodores, I Just Fall in Love Again/Anne Murray, Dance with You/Carrie Lucas e  Love Takes Time/ Orleans.

Escrita por  Lauro César Muniz com colaboração Maria Adelaide Amaral, sob a direção de Jardel Mello e Régis Cardoso, Os Gigantes foi exibida de 20 de agosto de 1979  a 02 de fevereiro de 1980 em 147 capítulos.

Apesar de ter sido considerada um grande fracasso, Os Gigantes é uma novela que merece a atenção do público pelo que apresentou a uma sociedade em transformação. O ano de 1979 é marcado pelo ano da Lei da Anistia e talvez os fatos reais tenham se sobreposto ao que foi apresentado na novela. Como foi conduzido a trama talvez tenha afastado o publico e talvez isso justifique os índices de audiência, mas Lauro César Muniz apresentou um mundo desconhecido e em transformação ao telespectador, o da eutanásia. Particularmente não sei se merece um remake, mas merece nossa atenção por mexer com um tema ainda polêmico.

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