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Especial Janete Clair: PAI HERÓI

A busca pela verdade sobre um pai movimentou mais esse sucesso de Janete Clair.

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Depois de o sucesso de “O Astro” (link da matéria) em 1978, aplaudido pelo público e crítica, e de ter ganhado o apelido de “Usineira dos Sonhos” por Carlos Drummond de Andrade, a autora voltaria a escrever uma nova trama para o horário nobre no ano seguinte. Como não poderia deixar de ser, a trama de André Cajarana (Tony Ramos) mobilizou o Brasil, em sua busca sobre a verdade envolvendo seu pai.

A história de “Pai Herói” seria a primeira proposta de roteiro de Janete Clair para o cinema, mas a autora foi chamada as pressas para substituir Lauro César Muniz, que viria a escrever “Os Gigantes” e estava com problemas de saúde. A trama já havia sido apresentada pela Rádio Nacional em 1958 com o título: “Um Estranho na Terra de Ninguém”.

A trama principal contava a saga de André, que foi criado pelo avô paterno no interior de Minas Gerais, acreditando que seu pai era um grande homem. Quando o patriarca da família Cajarana morre, o protagonista parte para o Rio de Janeiro a fim de descobrir toda a verdade sobre seu genitor.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, André descobre que seu pai, Malta Cajarana (Lima Duarte) era visto como traficante, bicheiro, bandido e responsável por roubar as terras de Nestor (Dionísio Azevedo) e de ter dado um tiro que o deixou debilitado. Além disso, Malta era acusado de ter assassinado Frei Nicolau, um homem visto como santo.

Na cidade maravilhosa, André desconfia que o atual marido de sua mãe, Gilda (Maria Fernanda), é o responsável por tentar acabar com a reputação e pelo desaparecimento de Malta. O homem em questão é Bruno Baldaracci (Paulo Autran), que alguns chamam de Nuno.

A partir disso André tenta provar que seu pai é um herói e não um vilão como todos pensam. Em sua busca pela verdade, o filho de Malta acaba se envolvendo com duas mulheres diferentes: Carina (Elizabeth Savalla) e Ana Preta (Glória Menezes),que se torna sua protetora, formando o triângulo amoroso central de “Pai Herói”.

Carina é uma bailarina de família tradicional, que acaba se envolvendo com um colega de dança e engravidando, dando luz a Ângela (Alexandra Vasconcellos/ Isabella Garcia), que foi criada por sua tia Irene (Yara Lins). A heroína passa um tempo morando fora e quando retorna é cortejada pelo tio, César (Carlos Zara), que está interessado em seu patrimônio.

A bailarina acaba aceitando o pedido de casamento e revela ao vilão que tem uma filha. César resolve registrar Ângela como sua filha. A união vai bem até que Carina descobre  uma carta que seu marido escreveu a uma amante e decide por fim no relacionamento. Cada vez mais obcecado pela esposa, o vilão a impede de voltar a dançar e arma um plano para conseguir a guarda da menina, o que de fato acontece.

É durante essa crise conjugal que Carina vai até a cidade natal de André e o conhece. Ela pede que o filho de Malta conserte um violão, mas ele rejeita o trabalho. Desorientada, a bailarina se joga em um rio, mas é salva pelo protagonista da trama.

Tempos depois, André e Carina voltam a se encontrar, quando ele é vitima de uma armação e é acusado de cometer um assalto. O casal volta a se encontrar e a bailarina, em troca de proteção pede que André a mate. Os dois partem em direção ao litoral e o que era para se tornar um pacto de morte acaba se tornando em romance.

Disposta a reaver a filha, Carina vai visitar a menina e por insistência de César, acaba entrando no mesmo carro que ele. Os dois discutem, a bailarina se joga do veículo em movimento e acaba machucando a perna, ficando impossibilitada de voltar a dançar definitivamente. A família de Carina esconde seu estado de saúde, enquanto o vilão descobre que André é foragido da policia e obriga a esposa a escrever uma carta e terminar a relação.

Nervosa, a bailarina grava uma fita, onde revela ter medo de Cesar e parte para Bariloche. Ao chegar à cidade, Carina encontra uma maneira de procurar André, que vai ao seu encontro. Na cidade Argentina, eles se casam e a bailarina dá uma procuração ao protagonista, para que ele tire César da presidência de suas empresas.

André retorna ao Brasil e consegue reaver o controle dos bens da bailarina. Em retaliação, César descobre o paradeiro de Carina, ao interceptar uma carta onde a bailarina revela estar grávida, e manda um assassino de aluguel matá-la em nome de André. A mãe de Ângela é baleada, mas acaba sobrevivendo e desaparecendo de vez, já que não tem certeza de quem seja o mandante do atentado.

Os anos se passam e André acaba se envolvendo com Ana Preta, enquanto Carina é dada como morta. O protagonista acaba acusado de ter matado a bailarina, para ficar com seus bens e vai a julgamento, mas é absolvido por falta de provas. Após ser inocentado, a mãe de Ângela aparece com o filho do casal nos braços e disposta a saber quem foi o responsável pelo atentado. Após descobrir que César foi o culpado, a bailarina volta para André, que desiste de Ana Preta.

Paralelo ao romance de Carina e André estava à história de Ana Preta e Bruno Baldaracci. Amantes no passado tiveram uma filha juntos, a menina Geni (Sônia Regina), mas Ana sempre guardou magoa de Nuno.  O casal interpretou cenas ótimas, sendo que ela o chamava de “panetone”, toda vez que brigavam.  Bruno passou a novela tentando reconquistá-la, mas sempre foi preterido. Em determinado momento da trama, o vilão tenta tirar a gafieira Flor de Lys de Ana Preta,dada por ele mesmo, mas administra mal o negócio e a protetora de André consegue reaver o bem.

Na reta final da novela, Bruno faz um acordo com Ana Preta: Entregar César pelo crime de ter atentado contra Carina e livrar André da cadeia, em troca de se casarem. Mas após o assassinato de César, Bruno acaba fugindo sozinho para Bariloche, para alivio de Ana.

Outra trama paralela de destaque foi a dos milagres de Frei Nicolau, aparentemente morto por Malta Cajarana. Na verdade o responsável pelo assassinato era Bruno Baldaracci, que foi desmascarado após André conseguir bilhetes trocados entre seu pai e o vilão, limpando a memória do mesmo. Baldaracci incitava uma romaria anualmente em homenagem ao Frei para incitar o ódio contra Malta e para aumentar o faturamento de sua fabrica de velas.

No início da trama, César era noivo de Walkiria (Rosamaria Murtinho), que terminou o relacionamento de 10 anos para se casar com Carina. No decorrer da trama, a moça desenvolve problemas psicológicos, chegando até surtos e ataques esquizofrênicos e acaba por matar uma moça, Helen (Érica Kupper).

Walkiria, que no começo é totalmente apaixonada por César, dá a volta por cima quando conhece Gustavo (Claudio Cavalcanti), um galanteador que acaba alterando seu visual e que finge ser gay para não despertar a atenção da família da moça.  No dia do casamento de Walkiria com o vilão, a moça diz não e assume seu relacionamento com o falso com gay, para desespero de sua família tradicional.

Gustavo é pressionado de várias formas a desistir de Walkiria, mas não aceita até que se descobre que o falso gay tem um filho e os familiares da moça o obrigam a escolher entre um dos dois. O rapaz acaba desistindo de Walkiria, que surta e é internada em uma clínica psiquiátrica.

Ao visitar sua amada, Gustavo se arrepende e decide casar com Walkiria, que está sendo acusada pela morte de Helen. Nas cenas finais, após o casamento, Walkiria é levada para um manicômio judiciário, onde teria que cumprir dois anos de prisão.

A verdade sobre o pai de André foi descoberta durante a trama e Malta realmente havia armado contra Nestor, dando inclusive o tiro que o deixou com a saúde debilitada. Mas o pai de André havia morrido e Bruno Baldaracci, que era seu braço direito, havia tomado posse de seus bens e para não descobrir que havia roubado todo o patrimônio, que na verdade pertencia a Nestor e sua filha Ana Preta, vivia fazendo agrados a família da moça, inclusive deu a gafieira Flor de Lys e pagava os estudos de Geni.

“Pai Herói” teve cenas gravadas em Niópolis, Marica, São José do Vale do Rio Preto e Bariloche, na Argentina, onde a produção teve dificuldades para encontrar arma de fogo, mesmo cenográfica, por causa do regime ditatorial presente naquele pais.

A equipe de figurino contou com a assinatura de Maria Lúcia Areal e de Gamal Tawfik, que inseriram texturas, cores e formas que integrassem o cenário. Já a equipe de cenografia teve um trabalho minucioso para compor o apartamento de César, que era um colecionador de obras de arte e seu lar era quase um museu, com peças de pintores franceses, todos amigos do personagem. Todos os cenários tiveram o acompanhamento de Janete Clair, que verificou cada uma das locações.

Para compor uma bailarina, Elizabeth Savalla chegou a pesar 48 kg e ter aulas com a professora Eugênia Fedorova, para aprender alguns passos de dança clássica. Alguns bailarinos da Ópera de Paris fizeram uma participação especial para novela durante uma apresentação.

A casa de samba Flor de Lys recebeu artistas como Elza Soares, Ângela Maria e Nelson Gonçalves em participações especiais.

Os destaques da novela foram: Bruno Baldaracci e Ana Preta. Ele como um vilão carismático que ganhou a simpatia do publico, apesar de suas maldades e ela como uma mulher sofredora, sem receios e medo do futuro. A novela foi à primeira novela de Paulo Autran, Jorge Fernando e Regina Maria Dourado, além de marcar a estréia de Carlos Zara na Rede Globo de Televisão.

Entre cenas que permanecem na memória dos telespectadores está a da fuga de Baldaracci vestido de pierrô em um helicóptero ao descobrir que a policia está em seu alcance, a de Ana Preta desfilando pela escola de samba Beija- Flor de Nilópolis e a do acidente de Carina, que a impossibilitou de dançar definitivamente. A novela terminou durante o carnaval apesar de o último capítulo ir ao ar durante o mês de agosto de 1979.

Em agosto, para comemorar o dia dos pais foram distribuídos quebra-cabeças semelhantes ao da abertura da novela em diversos shoppings do Brasil.

Na última semana da novela, César, personagem vivido por Carlos Zara, é assassinado e entre os suspeitos estão: Walkiria, Gustavo, Bruno Baldaracci e Hilário (Reinaldo Gonzaga), mas Janete Clair decidiu manter o suspense no ar e não revelou quem era o assassino do vilão. Semanas depois a autora foi a imprensa e revelou que o único que teria coragem de matar César era Baldaracci.

A autora também revelou a revista “Amiga” que pela primeira vez mudou o final devido a insistência do público que queria André e Carina juntos, mas que por ela André terminaria com Ana Preta. Em entrevistas, Elizabeth Savalla comentou que Carina foi  sua personagem mais sofrida.

O tema de abertura “Pai” já havia sido apresentado no ano anterior no especial “Ciranda Cirandinha”. A trilha sonora nacional contou com os sucessos “Pode Esperar”/ Alcione, “Explode Coração”/ Maria Bethânia e “ A Chave do Mundo”/ Marina. O álbum internacional da novela teve os hits: “I Will survive”/ Gloria Gaynor, “You need me”/ Anne Murray, “I’d Rather Hurt  Myself” / Randy Brown e “Allouette”/ Denise Emmer.

Curiosamente, o ultimo capítulo de “Pai Herói” foi exibido em um sábado, com reprise no domingo após a exibição do Fantástico. A novela teve a direção dos 20 primeiros capítulos sob os cuidados de Walter Avancini, que foi substituído por Roberto Talma e Gonzaga Blota, sob supervisão de Daniel Filho. A novela teve uma representação de 1 hora e meia em homenagem aos 15 anos da emissora em 1980.

Janete Clair soube monopolizar a atenção dos brasileiros durante o período que a novela esteve no ar, deixando sempre na duvida a verdade sobre Malta Cajarana. “Pai Herói” foi vendida para inúmeros países, que se emocionaram com a saga de André Cajarana, Ana Preta e compainha, tudo em 178 capítulos, exibidos entre janeiro e agosto de 1979 as 20h.

Na próxima semana “Irmãos Coragem”, encerrando o Especial Janete Clair.

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