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Decadência: A última minissérie polêmica de Dias Gomes

Dias Gomes abordou a ascensão da fé e o declínio de uma família tradicional em uma obra autentica e única

Por: Emerson Ghaspar - Contato: [email protected]

Há 18 anos, no dia 22 de setembro de 1995, a Globo exibia o último capítulo de “Decadência”, minissérie brasileira escrita por Dias Gomes, que anos antes havia escrito o livro homônimo. Em 12 capítulos o autor conseguiu contar a história de vida do jovem Mariel (Edson Celulari), de sua queda até sua ascensão social como pastor, entre os anos de 1984 e 1992.

A trama tem início quando a pedido de um padre, o jurista Tavares Branco (Rubens Correia) cria o órfão Mariel em sua casa e o deixa sob os cuidados de Jandira (Zezé Polessa), uma empregada antiga que nutre uma paixão platônica pelo garoto. Quando cresce, Mariel se torna motorista da família e tem sua primeira experiencia amorosa com Jandira.

Com o passar do tempo, Mariel se envolve com Carla (Adriana Esteves), a neta de Tavares Branco e acaba despertando a raiva de Jandira, que com suas armadilhas e intrigas acaba fazendo com que Mariel seja demitido, expulso de casa e acusado de estupro.

Há uma passagem de tempo, Mariel e Jandira voltam a se encontram. Juntos, eles começam a freqüentar os cultos de uma igreja evangélica.  Em pouco tempo, a paz espiritual de Mariel é trocada pela ambição desmedida do rapaz. Com Jandira, que promete dedicação total, Mariel funda o Templo da Divina Chama, uma igreja que se espalha rapidamente pelo país.

Em contraponto a ascensão financeira de Mariel, que utiliza a fé como forma de enriquecer, os Tavares Branco são vítimas da ruína financeira que assola o Brasil. Com sede de vingança, Mariel pretende comprar a mansão do Tavares Branco para torná-la a maior sede de sua igreja. É nesse instante que Mariel reencontra Carla, que agora é uma jovem rebelde e contestadora.Eles voltam a se envolver apesar dela não concordar com as atitudes dele.

A honestidade de Mariel então começa a ser questionada pelo pastor Jovildo (Milton Gonçalves) que acredita nas irregularidades da igreja e no desvio de dinheiro.  Para ajudar Mariel, Carla pede a ajuda de seu primo Vitor (Raul Gazolla), que acaba se apaixonando por ela. Enquanto Mariel está envolvido com Carla, Jandira tenta subornar o delegado Etevaldo Morsa (Paulo Gorgulho) que está prestes a descobrir todas as armações de Mariel, mas nada consegue.

Dividida entre Mariel e Vitor, Carla acaba se decidindo por Mariel e resolve se casar com ele. No dia do casamento, Jandira revela a Carla que Mariel foi o responsável pela morte de Albano (Stênio Garcia), pai da noiva. Tudo havia sido um plano de Mariel que gravou uma fita onde Albano se encontrava com uma amante, Vilma Luchesi (Virginia Nowick) e entregou a Celeste (Ariclê Perez), mãe de Carla.  Albano sofreu um ataque cardíaco e morreu.

Inconformada, Carla desiste do casamento enquanto Mariel é preso pelo delegado Etevaldo. No último capítulo, Mariel é solto através de um habeas corpus e vai para Itália, onde pretende aumentar suas igrejas, enquanto a mansão dos Tavares Branco pega fogo, anunciando a decadência total da família.

Paralelo a trama principal houve as tramas dos netos de Tavares Branco: PJ (Luis Fernando Guimarães) que é irresponsável e teve um filho com Irene (Maria Zilda Bethlem), mas quem cuida da criança é Sonia (Maria Padilha) que tem sentimentos estranhos pelo irmão.

Susana (Betty Gofman) se apaixona por Vitor, mas ele só tem olhos para Carla. Quando o pai morre, Susana tem um sonho, onde ele pede que ela jamais saia da casa. Em sua cena final, Susana se tranca dentro da casa durante um incêndio, enquanto Carla assiste a tudo desesperada.

“Decadência” foi apresentada como parte da comemoração dos 30 anos da TV Globo e causou polêmica junto aos evangélicos, principalmente aos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que se sentiram ofendidos com a obra de Dias Gomes. Para tentar amenizar os fatos, a emissora apresentou um texto, lido por Edson Celulari, antes da vinheta de abertura onde dizia ser importante renovar o respeito a todas as religiões.

Apesar dos esforços para diminuir a polêmica, no dia 09 de setembro daquele ano, o jornal Folha de São Paulo apresentou uma matéria onde mostrava que as falas do pastor Mariel eram as mesmas dadas por Edir Macedo a revista Veja em 1990. A partir de então a imprensa começou a chamar de “Guerra Santa” as ofensas entre as emissoras. Um acordo entre  os diretores Eduardo Lafon (diretor da Record) e Boni (vice presidente de operações Globo) pôs fim a troca de insultos.

A minissérie também apresentou a ascensão e queda do então presidente Fernando Collor. Decadência utilizou de efeitos especiais que permitiam interferir em imagens jornalísticas, colocando personagens onde havia situações reais. Como por exemplo: o personagem PJ desceu a rampa do Planalto com Fernando Collor, enquanto Carla gritava em meio a caras pintadas. Essa mesma técnica havia sido usada no filme Forrest Gump, de Robert Zemeckis. A produção da minissérie também utilizou de imagens reais da atriz Maria Zilda Bethlem descendo a rampa com o então presidente.

As cenas da mansão dos Tavares Branco foram gravadas em Petrópolis durante dois meses. Para compor a cenografia os móveis e paredes foram envelhecidos gradativamente, mostrando a derrocada da família. Já as cenas de incêndio no final foi toda realizada em computação gráfica.

A minissérie teve cenas maçantes como a de Carla tirando a calcinha e colocando sobre a bíblia de Mariel, Irene flagrando PJ com duas amantes e agindo normalmente, Susana fechada na mansão morrendo durante um incêndio e Mariel convencendo a esposa do pastor Jovildo a ter relações sexuais com ele e não com o marido que estava possuído pelo demônio.

“Decadência” foi vendida para vários países entre eles: Angola, Bolívia, Bulgária, Canadá, Colômbia, Equador, Eslovênia, Nicarágua, Panamá, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Apesar de seu enorme sucesso, a minissérie não chegou a ter trilha sonora e não foi comercializada em DVD, como tantas outras minisséries.

Exibida entre 5 e 22 de setembro as 21h30 , com a direção de Roberto Farias e Ignácio Coqueiro,escrita por Dias Gomes que apresentou uma obra humana, repleta de percalços e alegrias, porem ousada e polêmica, a minissérie mexeu, mesmo que involuntariamente. com o povo brasileiro. Depois de “Decadência”, o autor viria escrever uma novela e outra minissérie, mas não tão provocativas quanto essa obra, que ficou no inconsciente das pessoas.

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